terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

ANDI - Agência de Notícias dos Direitos da Infância


Adolescentes com deficiência não se consideram retratados na Mídia de três países latino-americanos

11/02/2008

• Pesquisa realizada pela ANDI aponta que adolescentes com deficiência pouco se identificam no conteúdo dos meios de comunicação brasileiros, argentinos e paraguaios
• No Brasil, as ações de merchandising social apresentam impacto positivo sobre os jovens


Garotas e garotos com deficiência pouco se reconhecem na programação de tevê, nos jornais e nas revistas. É o que revela o estudo Mais Janela que Espelho: a percepção dos adolescentes com deficiência sobre os meios de comunicação na Argentina, no Brasil e no Paraguai, lançado hoje (11/02) pela ANDI, Rede ANDI América Latina e Save the Children Suécia.

A pesquisa ouviu 67 adolescentes, a maioria na faixa dos 11 a 13 anos, com deficiência, de diferentes classes sociais, em três países latino-americanos – Brasil, Argentina e Paraguai – divididos em oito grupos focais nas cidades de São Paulo, Salvador, Buenos Aires e Assunção. A maioria esmagadora deles não se recordou de nenhuma notícia ou personagem televisivo que abordavam essa condição. “Apenas depois de diretamente questionados eles lembravam de algo e falavam no assunto”, conta Guilherme Canela, coordenador de Relações Acadêmicas da ANDI e do estudo.

Quando estimulados, os adolescentes brasileiros se lembraram de mais personagens do que os argentinos e os paraguaios. Isso se deve, especialmente, a ações de merchandising social que incluem pessoas com deficiência nas telenovelas (especialmente as da Rede Globo), em histórias em quadrinhos e programas infantis. Personagens como os cegos Flor e Jatobá, da novela América (rede Globo), Clarinha, que tinha Síndrome de Down na novela Páginas da Vida (também da rede Globo) ou o cadeirante Luca, da Turma da Mônica criada por Maurício de Souza, foram mencionados pelos meninos e meninas.

Além de lembrar personagens criados para abordar a questão, o grupo brasileiro se identificou com o que era mostrado na telinha ou no papel. E não foi uma identificação negativa. “Os adolescentes não demonstraram autopiedade. Essas ações têm um impacto muito interessante”, explica Canela. Clara por exemplo, foi considerada ‘legal’, ‘bonita’, ‘mais desenvolvida’. A identificação com a personagem foi tanta que uma participante da pesquisa chegou a dizer que “Clara era igual a mim”.

Uma janela para outros mundos

Embora o merchandising social tenha demonstrado certo impacto, o fato de os participantes da pesquisa não se recordarem espontaneamente de personagens e notícias sobre essa parcela da população é preocupante. “Por se reconhecerem pouco na programação da tevê, os adolescentes com deficiência não têm na televisão um espelho, mas uma janela”, conclui a pesquisa. Isso significa que a realidade que esses garotos e garotas apreendem por meio dos veículos de comunicação não reflete, ainda que minimamente, seu mundo e suas experiências. Nesse sentido, os meios de comunicação funcionariam como uma vitrine, uma janela para outros mundos.

Uma das conseqüências disso, segundo Guilherme Canela, pode ser uma dificuldade extrema de reflexão sobre sua condição – um dos componentes essenciais para a luta pela garantia dos seus direitos. “A mídia deveria mostrar, de forma menos desigual, a sociedade tal qual é com pessoas de diferentes gêneros, etnias, classes sociais, condições físicas e psíquicas – independentemente de ações de merchandising social”. O estudo apontou, por exemplo, que os meninos e meninas estão mais preocupados com a situação de crianças pobres ou de idosos do que com os seus próprios entraves para a plena efetivação de seus direitos.

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http://www.andi.org.br/_pdfs/mais_janela_que_espelho.pdf