sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Declaração do Rio traz resultados do III Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

Países fecham o congresso com pacto de ação internacional para proteger crianças e adolescentes de todo o mundo

Rio de Janeiro, 28 de novembro – É possível enfrentar e erradicar a exploração sexual de crianças e adolescentes no mundo com ações integradas e o esforço de todos os países. Essa é a avaliação comum dos organizadores do III Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes que se encerra hoje, no Rio de Janeiro, onde 137 governos se reuniram com meninas e meninos, organismos internacionais, ONGs e representantes do setor privado.

Embora os participantes do evento no Brasil reconheçam que o enfrentamento da exploração sexual é uma batalha longa e difícil, as organizações parceiras consideram que, agora, os países estão em melhores condições de ganhar essa luta. A "Declaração e Plano de Ação do Rio de Janeiro para Prevenir e Eliminar a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes", documento final do encontro, estabelece algumas diretrizes para o enfrentamento do problema.

"A Declaração e Plano de Ação do Rio traz avanços importantes em relação aos documentos anteriores e aponta novas estratégias diante dos novos cenários do problema, como a pornografia infantil na internet, o tráfico de meninas e meninos, a intensificação das migrações no mundo. O próprio governo brasileiro lançou o serviço hotline para o rastreamento desses crimes na internet, que também estão mais fáceis de ser responsabilizados e punidos com a lei sancionada pelo presidente Lula no dia da abertura do encontro", afirma Carmen Oliveira, subsecretária de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.

Segundo avaliação de Carmen Oliveira, um dos grandes avanços deste 3º encontro é o compromisso assumido por novos atores com a causa, além dos governos, como o engajamento do setor empresarial. "É fundamental a responsabilidade da iniciativa privada e de organismos internacionais em aportar recursos para que os países mais pobres possam desenvolver ações e cumprir o pacto do Rio".

Com relação à prevenção, o Plano de Ação do Rio enfatiza a necessidade de adotar estratégias integradas e sistêmicas, que incluam normas legais, políticas públicas, regulação e serviços de qualidade na área de saúde, assistência social, educação, segurança e justiça.

Um trabalho efetivo de prevenção também exigirá uma mudança nas atitudes sociais e culturais que aceitam e naturalizam a exploração de crianças e adolescentes, bem como a eliminação de práticas danosas como é o caso do casamento de crianças.

“Não existe uma única intervenção que possa proteger crianças e adolescentes da exploração sexual,” disse Nils Kastberg, Diretor Regional do UNICEF para a América Latina e o Caribe. “Construir e fortalecer sistemas de proteção é fundamental e requer ação de todos os atores sociais.”

O Plano de Ação do Rio também convoca governos a editar leis que protejam todas as crianças em sua jurisdição, incluindo os filhos de migrantes não documentados ou aqueles que foram traficados, de forma que todos possam gozar de plena proteção legal. As recomendações também pedem que os governos aprovem leis que não criminalizem crianças e adolescentes por crimes que tenham praticado em decorrência de situações de exploração sexual.

“Apesar dos avanços obtidos tais como a melhoria do arcabouço legal nacional em um grande número de países, mais iniciativas de combate ao tráfico de crianças e adolescentes e um maior engajamento das agências de todos os tipos na prevenção e na repressão aos crimes, muitos continuam vulneráveis à exploração sexual’ disse Carmen Madrinan, Diretora Executiva do ECPAT Internacional. “Devido à falta de conhecimento sobre a prevalência da exploração sexual de crianças e adolescentes, a padrões de tolerância desse tipo de prática e à impunidade, aplicação inconsistente e limitada das leis, ainda existem portas abertas para que os agressores possam comprar sexo com crianças em vários pontos do planeta. A falha em providenciar recâmbio adequado ao local de origem para as crianças e uma efetiva integração aumentam ainda mais a vulnerabilidade dos que já foram vítimas à nova situação de exploração.”

Diferentemente de congressos anteriores, nos quais as recomendações dos adolescentes e jovens saíram em documento separado, no Rio, o grupo participou de todo o processo de elaboração do relatório final do encontro.

“Crianças e adolescentes não são apenas vítimas da exploração sexual, mas também parte da solução”, disse o Sr. Lennart Reinius, presidente do Grupo de ONGs da Convenção sobre os Direitos da Criança. “Tivemos uma oportunidade única de ter jovens e adolescentes como parceiros neste Congresso. Agora cabe a todos nós garantir que iremos manter os compromissos feitos e de fato gerar um impacto positivo e real na vida das crianças e dos adolescentes do mundo inteiro.”

Principais recomendações do III Congresso Mundial:

  • Os governos devem prestar informações sobre os seus planos de ação nacionais relativos ao tema da exploração sexual para o Comitê dos Direitos da Criança (CDC). Um relatório de progresso será enviado à próxima sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 2009.
  • Estabelecer instituições independente dos direitos das crianças, como ombudsman, pontos focais ou comissões no nível nacional voltadas para a proteção dos direitos das crianças e adolescentes, nos próximos cinco anos.
  • Desenvolver bancos de dados nacionais com informações relacionadas à exploração sexual de crianças e adolescentes até 2009 e, até 2013, estabelecer mecanismos regionais de troca dessas informações.
  • Até 2013, estabelecer sistemas nacionais de acompanhamento e monitoramento de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes. Esse sistema incluirá dados de linhas de denúncia e informação, bem como de serviços de apoio.
  • Os países devem aumentar o seu compromisso com a Interpol sobre o uso de imagens de abuso de crianças e adolescentes e tratar crimes relacionados com crianças e adolescentes dentro de uma área especial.
  • Desenvolver políticas para estimular e apoiar o setor privado, especialmente nos setores de turismo e viagens, instituições financeiras, internet e publicidade a adotarem códigos de conduta.
  • Fortalecer e harmonizar os serviços de proteção.
  • Organismos de cooperação internacional e as agências de desenvolvimento, como grandes bancos de fomento, vão avaliar o impacto de suas ações na vida de crianças e adolescentes. Também se comprometeram a prover recursos para que os países mais pobres possam cumprir com os compromissos do Pacto do Rio.
  • Introduzir leis que criminalizem a compra (ou outra forma de remuneração) de sexo com crianças e adolescentes.

MEGAPORTAL SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Site multimídia reúne e organiza informação sobre o tema e facilita trabalho de jornalistas e pesquisadores em geral


Nesta segunda-feira 1, quando tem início em Poznan, na Polônia, a 14ª Conferência das Partes (COP-14) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), entra no ar o portal www.mudancasclimaticas.andi.org.br, verdadeira enciclopédia ecológica destinada exclusivamente ao tema das mudanças climáticas. A iniciativa é da Embaixada do Reino Unido no Brasil, do Conselho Britânico e da Agência de Notícia dos Direitos da Infância - ANDI.

Se fosse impresso, o portal teria cerca de 400 páginas. Poderia ser pesado tanto para os braços quanto para o bolso. E, claro, consumiria muito papel (leia-se: árvores). Sempre atualizado, o portal pode enriquecer e facilitar a cobertura do tema pela imprensa, assim como a realização de pesquisas e trabalhos tanto acadêmicos quanto de outros níveis de ensino. Uma das principais características do site é organizar e sistematizar a enorme quantidade de informação que há sobre o tema. A reunião de tudo em um só espaço virtual facilita a consulta dos interessados no assunto ao mesmo tempo em que lhes permite aprofundarem-se no assunto, graças às referências que o próprio portal oferece.

Ao tratar o assunto 'mudanças climáticas' de forma clara, acessível e abrangente, o portal torna-se interessante a todas as áreas do conhecimento. A idéia é proporcionar informações e reflexões contextualizadas, de maneira que o fenômeno apresente-se como de fato é: uma questão transversal, ou seja, que afeta todos os setores da sociedade. Para isso, conta com recursos extras, como vídeos, gravações de depoimentos, fotografias, entrevistas e artigos livres de copyright, desde que citadas as fontes, sem contar o banco de pautas.


"Esse trabalho é o coroamento de uma iniciativa que o governo britânico e a ANDI vêm desenvolvendo já há algum tempo, que consiste em estimular a imprensa a cobrir mais e melhor o tema das mudanças climáticas. Antes do portal, lançamos uma análise de mídia que apontava o estado da arte da cobertura jornalística nessa área, e o site vem reforçar a necessidade, identificada na pesquisa, de uma melhor contextualização do tema, uma visão de conjunto que permita à sociedade construir respostas efetivas a esse fenômeno planetário", observa o diretor executivo da ANDI, Veet Vivarta.

Artigos refletem a preocupação de ambientalistas conhecidos:

* A hora de agir - Fábio Feldman - Ex-deputado federal por três mandatos consecutivos e relator da Lei de criação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
* Cenário climático futuro no Brasil: Amazônia - José Antônio Marengo - Pesquisador titular e professor na pós-graduação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Membro de vários painéis internacionais (IPCC, Vamos-Clivar e GWSP) e de grupos de trabalho no Brasil e no exterior sobre mudanças de clima.

Entrevistas refletem diversidade de interesses:

* Flávio Montenegro - O gerente-geral de Relações Institucionais e Mudanças Climáticas da Vale fala sobre o plano de ação da Vale em mudanças climáticas, as emissões e as operações da empresa no Brasil.
* Jonathan Neale - Membro do Fórum Mundial Contra Mudanças Climáticas, concede entrevista exclusiva à ANDI e fala sobre o movimento da responsabilidade social corporativa, energias alternativas e suas expectativas para o futuro.

WWF-Brasil

Taxa anual de desmatamento da Amazônia cresce 3,8%

O dado representa uma ruptura na tendência de queda que vinha sendo verificada desde 2005. WWF-Brasil defende desmatamento zero

De agosto de 2007 a julho de 2008, o Brasil desmatou 11.968 km2 de florestas na Amazônia Legal. Esse é o dado do desmatamento anual divulgado hoje pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O número representa um aumento de 3,8% em relação ao desmatamento verificado no ano anterior, indicando uma quebra na tendência de reduções da taxa verificada desde o período 2004-2005. É um indício de que ainda é necessário rever e ampliar os esforços para conter o desmatamento, tornando-os mais sistêmicos, integrados e estratégicos.

Entre agosto de 2006 e julho de 2007, a taxa de desmatamento foi de 11.532 km2, 18% menor do que o desmatamento medido entre 2005 e 2006. Essa relativa estabilidade da taxa de desmatamento neste último ano contrasta com algumas expectativas de maior aumento associado ao aquecimento do mercado de commodities agrícolas pré-crise econômica. Parte dessa tendência está associada às ações implementadas pelo governo federal desde o final de 2007, que passou a envolver mais o setor produtivo no esforço de redução do desmatamento.

As principais ações do governo foram a restrição do crédito para propriedades que não comprovem conformidade com as regras ambientais (reserva legal, área de preservação permanente, autorização de desmatamento etc.) e fundiárias (propriedade legalizada), além do fortalecimento e foco mais concentrado nas ações de fiscalização e do compartilhamento de responsabilidades com estados e municípios. "A restrição de crédito coíbe efeitos ligados à grilagem de terra, principal responsável direto específico pelo desmatamento na Amazônia", afirma a secretária-geral do WWF-Brasil, Denise Hamú.

Para Denise Hamú, no entanto, "um desmatamento equivalente a duas vezes o tamanho do Distrito Federal é preocupante, uma vez que o WWF-Brasil defende o que foi estabelecido pelo Pacto pela Valorização da Floresta Amazônica e Redução do Desmatamento, que propõe ações concretas e conclama esforços governamentais e de toda a sociedade para reduzir a zero o desmatamento em sete anos". O Pacto é uma iniciativa de um conjunto de ONGs e as ações propostas têm custo estimado em R$ 1 bilhão por ano, relativamente barato se comparado a outros gastos governamentais ou investimentos e principalmente se comparado aos custos sociais (secas, enchentes, mortes, dificuldades econômicas etc.) que o desmatamento impõe a todos.

A secretária-geral do WWF-Brasil afirma ainda que é necessário adotar uma estratégia mais ampla de conservação. "Defendemos a definição de metas claras de redução no desmatamento, além de mecanismos econômicos e tributários que incentivem a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais e desestimulem as práticas predatórias", afirma.


Florestas e o clima

O desmatamento e as queimadas são responsáveis por 75% das emissões brasileiras de gases do efeito estufa e, por causa da falta de cuidado com nossas florestas, o Brasil é o quarto colocado no ranking dos maiores contribuintes para o aquecimento do planeta.

As florestas armazenam carbono, refletem calor, ajudam a reter a água da chuva e trazem vários outros benefícios para os seres humanos e o meio ambiente. Por isso, a maioria dos cientistas que estudam o clima do planeta afirma que para evitar o aumento do aquecimento global é fundamental que o desmatamento seja detido.

Com a diminuição das taxas de desmatamento na região amazônica ocorrida nos últimos dois anos, a adoção de metas de redução das emissões pelo Brasil é factível. O estabelecimento de metas para redução de emissões oriundas do desmatamento colocaria o Brasil em posição de vanguarda nas negociações internacionais sobre clima, que ocorrerão em dezembro em Poznan, Polônia.

O superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, explica, ainda, que as ações de combate ao desmatamento devem seguir quatro eixos. O primeiro é a proteção efetiva de florestas, por meio da criação e implementação de unidades de conservação. O segundo é a promoção do uso sustentável dos recursos naturais, desenvolvendo capacidades nos estados para a gestão florestal. Em seguida, vêm as ações de fiscalização, para enfrentar ameaças de atividades ilegais associadas, por exemplo, à grilagem de terras, ao agronegócio e a grandes obras de infra-estrutura. Por último, estão as ações de compensação financeira para quem proteger a floresta,

"Reconhecemos algumas ações positivas do governo federal, mas defendemos algumas melhorias, particularmente a manutenção do processo de criação de unidades de conservação, um maior esforço na implementação das unidades já criadas, com alocação e formação de equipes para a gestão das áreas, e a implementação efetiva da nova política florestal, com o desenvolvimento de capacidades nos estados para a gestão florestal", afirma Scaramuzza.

Fundo Amazônia

O Fundo Amazônia, criado pelo governo em agosto deste ano, é uma importante política de viabilização do eixo de compensação financeira para quem protege a floresta. No entanto o WWF-Brasil defende que a aplicação dos recursos contemple a ponta da cadeia. "É imprescindível que os recursos cheguem ao terreno, por exemplo, às comunidades locais, proprietários de terras e áreas protegidas", afirma Scaramuzza. "Esperamos que a execução do Fundo Amazônia estimule a inovação, a criatividade, a experimentação e o envolvimento da sociedade civil, e que seja complementado por recursos públicos, em lugar de ser sugado para preencher lacunas de programas governamentais", completa.


*-*-*-

O WWF-Brasil é uma organização não-governamental brasileira dedicada à conservação da natureza com os objetivos de harmonizar a atividade humana com a conservação da biodiversidade e promover o uso racional dos recursos naturais em benefício dos cidadãos de hoje e das futuras gerações. O WWF-Brasil, criado em 1996 e sediado em Brasília, desenvolve projetos em todo o país e integra a Rede WWF, a maior rede independente de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países e o apoio de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários.

terça-feira, 25 de novembro de 2008



Notícias da grande mídia ainda refletem preconceio contra a raça negra

O dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, que celebra a morte de Zumbi dos Palmares em 1695 como símbolo de resistência à escravidão, é tradicionalmente marcado por marchas e protestos realizados pelo movimento negro. Este momento, utilizado para dar visibilidade ao debate sobre a igualdade racial no Brasil, é válido também para uma reflexão sobre como a questão é retratada nos meios de comunicação, das notícias às novelas, e qual é a influência que estes conteúdos geram no imaginário popular em nosso país.


Um dos exemplos mais gritantes é a afirmação de estereótipos existente na teledramaturgia brasileira. Resistem na TV as velhas situações de inferioridade impostas aos negros e negras: a doméstica, a mulata sambista, o malandro delinqüente. Mais recentemente, o político corrupto da novela “A Favorita” da Rede Globo surgiu para “comprovar” a doutrina da emissora de que a ascensão social pela iniciativa individual é possível, mas que mau-caratismo não tem cor, mesmo que um só exemplo baste.


É, de qualquer maneira, sintomático que os rostos vistos nos telejornais e programas de auditório sejam quase sempre brancos. “O dado é que existe uma invisibilidade do negro nos meios de comunicação”, afirma Márcio Alexandre Gualberto, militante do Coletivo de Entidades Negras do Rio de Janeiro. A resposta das emissoras – que operam em regime de concessão pública, nunca é demais lembrar – à demanda dos negros e negras, quase metade da população do país, refere-se a casos de integrantes deste segmento em posição de destaque, como os jornalistas Glória Maria e Heraldo Pereira, trajetórias que podem ser consideradas como exceções que servem apenas de confirmação à regra.


Segregação simbólica


Para Dennis de Oliveira, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e membro do Núcleo de Pesquisas e Estudos Interdisciplinares sobre o Negro, há no país uma “segregação simbólica”, ou seja, tolera-se a presença do negro em atividades lúdicas como esporte, dança e música como uma forma de compensação por sua ausência em outros espaços. “O resultado é justamente a criação de estereótipos”, diz o docente.


“Quem entrega a pizza na propaganda é sempre um negro. Queremos que todos sejam tratados iguais”, afirma Gláucia Matos, militante da Fala Preta! - Organização de Mulheres Negras. Segundo ela, o conteúdo dos personagens negros tem uma tendência à desvalorização, sobretudo no caso das mulheres. “Nas crônicas policiais, o branco é sempre retratado como classe média, enquanto o negro é visto como marginal”, concorda Márcio Gualberto. “Além disso, na TV, quando a vitima é negra, sua reação é sempre pela vitimização ou pela superação, mas nunca a denúncia”, acrescenta Dennis de Oliveira.


Esta segregação tem tamanho poder que atinge a imagem que os negros têm de si próprios. Em 1932, Castro Barbosa cantava a marchinha “O teu cabelo não nega”, composição de Lamartine Babo até hoje executada nos blocos carnavalescos. “Mas como a cor não pega, mulata, mulata eu quero teu amor” é a mensagem passada pela música. Desde então, as piadas pejorativas relativas ao cabelo crespo típico da raça negra não cessaram. Gualberto conta que é comum que os negros passem em algum momento pela “crise do cabelo”.


Isso acontece, diz ele, porque a idéia de belo reproduzida pela mídia é justamente o padrão europeu. “É como o negro que fica rico e se casa com uma loira. Esta é a lógica do vencedor imposta pelos meios de comunicação”. Gláucia Matos conta que o movimento negro inclusive já processou a marca de palhas de aço Assolan por associar seu produto ao cabelo crespo de maneira pejorativa.


Preconceito velado


No 2 de novembro, o inglês Lewis Hamilton não ganhou a etapa de São Paulo da Fórmula 1, mas levou o título do campeonato vencendo justamente um brasileiro. Primeiro negro a conquistar a principal categoria do automobilismo mundial, Hamilton e familiares sofreram um racismo que não acreditavam encontrar por aqui. As manifestações foram exaustivamente reproduzidas pela imprensa européia, mas no Brasil a repercussão foi quase nula, revelando a omissão da mídia nativa em denunciar o preconceito de seus cidadãos.


Para Márcio Gualberto, para além da presença física na teledramaturgia ou na publicidade, existe nos meios de comunicação em geral, sobretudo no jornalismo, “incapacidade, indiferença e má vontade” para lidar com a questão do preconceito racial. Gláucia Matos acredita que este cenário se refere ao papel da mídia em manter o preconceito. “Existem inúmeros casos de racismo nos tribunais. Os jornais também não dizem que a maioria dos jovens assassinados no país são negros”, afirma.


Admissão de culpa


O sociólogo brasileiro Florestan Fernandes dizia que a característica mais marcante do racista brasileiro é a de não se considerar racista. A melhor tradução prática dessa afirmação surge em “Não Somos Racistas”, livro de Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo. “Ao mesmo tempo em que admite que existem diferenças, diz que é preciso ignorá-las para não criar uma divisão no país. É algo paranóico”, comenta Gualberto.


Na avaliação de Dennis de Oliveira, a mídia insiste que o racismo no Brasil não tem um caráter sistêmico, abordando a questão sempre pela ótica individual. “A ação da mídia é sempre no sentido de minorar a questão, tirando-lhe a seriedade para que não entre na agenda pública.”


O professor aponta que a única forma de superação do preconceito nos meios de comunicação seria o movimento negro se organizar para construir mídias alternativas. Gláucia Matos afirma que existem conquistas por conta da atuação do movimento, que tem monitorado e denunciado com maior rigor.
“Mas no que depender da mídia”, diz ela, “ainda falta muito.”


Fonte:
Observatório do Direito à Comunicação (www.direitoacomunicacao.org.br)
Henrique Costa
25/11/2008

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Fome no Haiti

O Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais - Haiti realizou, no 23 de novembro, entrega de cestas básicas numa quadra poliesportiva na comunidade de Richard Brisson.

Foram mais de 5.000 kg de produtos doados pelo Governo brasileiro: arroz, feijão, farinha de milho, latas de óleo, sabonetes e detergentes. Foram beneficiadas cerca de 720 famílias da região.

A distribuição das senhas foi realizada pelas patrulhas a pé na região escolhida. No local a tropa brasileira recebeu o apoio de líderes locais, que ajudaram na organização das filas, priorizando as famílias mais carentes, deficientes físicos, grávidas e idosos.

A medida provisória nº 444 (MP 444/08) autorizou o Governo brasileiro a doar 45 mil toneladas de arroz, 2 mil toneladas de leite em pó e 500 quilos de sementes de hortaliças a países recentemente afetados por desastres naturais, inclusive o Haiti.

O Navio Mattoso Maia da Marinha Brasileira está atualmente em alto-mar rumo à Porto Príncipe e à cidade de Gonaíves.

A chegada da brasileira com 300 toneladas de leite em pó e 200 toneladas de arroz para o Haiti está prevista para o dia 18 de dezembro.

O navio também atenderá populações vitimadas em Cuba e na Jamaica.

Brasília, 24/11/2008
Fonte: MRE

III Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes

282 adolescentes de 96 Países participam como delegados no III Congresso Mundial que acontece no Rio de Janeiro, de 25 a 28 de novembro de 2008

A presença dos adolescentes no evento é uma etapa importante de um processo que procura afirmar a sua participação qualificada e efetiva no combate à exploração sexual, também em nível de decisões dos governos, da sociedade civil organizadas e do setor privado

Os adolescentes como protagonistas no enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes. É esta a nova perspectiva que caracteriza a III edição do Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que acontece no centro de evento Riocentro, no Rio de Janeiro, de 25 a 28 de novembro.

O evento, que reúne cerca de 3 mil delegados, se propõe a levantar a importância da temática, chamando a atenção dos governos e mobilizando articulações e políticas setoriais, junto aos representantes do legislativo, à família, à sociedade civil e ao setor privado.

A participação dos próprios adolescentes se apresenta como uma realidade forte neste III Congresso..Eles estão presentes em número muito maior das duas precedentes reuniões mundiais. São 300 (???), entre 12 e 18 anos, em vez dos 17 que estiveram na primeira edição do Congresso, em Estocolmo, na Suécia, em 1996, e dos 100 que foram protagonistas da segunda, em Yokohama, no Japão, em 2001.

Com o objetivo de consolidar a autonomia e a participação qualificada dos adolescentes, 10% das 3.000 inscrições para esta terceira edição do evento foram destinadas a meninos e meninas brasileiros e estrangeiros, que integram as delegações da mesma forma que os adultos. Eles vão participar das mesmas oficinas e mesas de discussão. Como todos os outros delegados, eles tiveram seus nomes indicados por organizações parceiras por já estarem envolvidos ativamente em projetos e programas contra a exploração sexual comercial e o tráfico em seus lares, abrigos, escolas e comunidades.

A seleção desses 282 participantes, sendo 150 brasileiros e 132 estrangeiros, assim como a mobilização geral dos adolescentes da Europa, África, Ásia, América do Norte e América Latina foram realizadas pelo Unicef, pelo NGO Group (Save the children,Plan International, World Vision e outras), pela Rede ECPAT (End Child Prostitution, Child Pornography, and Trafficking of Children for Sexual Purposes), pelo governo brasileiro, com o apoio do Projeto/ Revista Viração e o Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC), do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), do Serviço Social da Indústria (SESI) e da Petrobrás.

Marca registrada desse processo preparatório foram os encontros nacionais e as consultas regionais, reunindo os adolescentes para selecionar seus representantes e aprofundar o tema principal do III Congresso: "A garantia de direitos da criança e do adolescente e sua proteção contra a exploração sexual - por uma visão sistêmica". Nesses encontros, os adolescentes identificaram as conexões locais relacionadas à exploração sexual, contribuíram com seu ponto de vista e forneceram subsídios aos temas e prioridades regionais e mundiais que serão discutidas no Rio.

Entre os principais objetivos da participação dos adolescentes, estão: favorecer uma participação efetiva deles nas decisões de governos, da sociedade civil organizada e do setor privado; dar a eles oportunidade de compartilhar suas experiências, boas práticas e modelos bem sucedidos de intervenções lideradas por eles contra a exploração sexual em nível regional e global; permitir a eles contribuir para a formulação de objetivos mensuráveis contra a exploração sexual; e promover o acompanhamento e a participação ativa deles nas decisões e atividades após o III Congresso.

Para qualificar ainda mais a presença desses delegados especiais no III Congresso, nos dias 24 e 25 de novembro será promovido um Fórum Preparatório dos Adolescentes específico para aprofundar o conhecimento sobre os 5 principais temas do Congresso e elaborar sugestões a serem apresentadas nas oficinas e plenárias.

Na programação deste encontro estão atividades culturais, de lazer e de trabalho. Os adolescentes vão eleger de 3 a 4 recomendações para cada tema a serem compartilhados com os adultos. Também vão eleger representantes para participar das cerimônias de abertura e de encerramento, bem como das mesas de diálogos e oficinas. "Estamos promovendo um momento de grande importância para a integração, o intercâmbio e o planejamento em vista da participação qualificada deles nas atividades do Congresso. Apostamos muito no papel que eles irão exercer como educadores de seus pares e acreditamos que irão levar as deliberações para outros adolescentes e difundir medidas de autoproteção e proteção para os colegas nos seus grupos, nas suas comunidades", explica Mário Volpi, do Unicef.

O que muito facilitou na mobilização dos adolescentes durante a fase preparatória foi um conjunto de estratégias de comunicação. Foram desenvolvidos desde um blog (www.blog.stopx.org) e um portal na internet (www.stopx.org) até chats temáticos com especialistas, boletins eletrônicos e impressos para compartilhar notícias, vídeos, spots radiofônicos e experiências entre os adolescentes como também para aprofundar os conteúdos temáticos relacionados ao III Congresso.

O uso das novas tecnologias da informação e da comunicação também será um ponto forte durante o III Congresso. No Riocentro, os adolescentes terão à sua disposição o chamado Espaço Adolescente e Jovem, área multimídia com cerca de 600 metros quadrados.

O objetivo do Espaço é promover a articulação de diferentes grupos entre si, o fortalecimento de redes de comunicação e mobilização no enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes para estimular e ativar um processo de intercâmbio e participação de adolescentes e jovens que tenha continuidade após o Congresso.

Com a ajuda de educadores e intérpretes, meninas e meninos poderão usar computadores com acesso à internet, ilhas de edição de vídeo e áudio, máquinas fotográficas digitais e gravadores, usufruir de área de jogos, leitura e apresentação de vídeos e espetáculos. Eles poderão ainda participar de oficinas de jornal mural, vídeo, rádio e produção de notícias, que serão publicadas em tempo real em inglês, espanhol e português no portal: www.stopx.org, e nos sites e veículos de comunicação parceiros do III Congresso.

Mais informações:

Ø Acesse o conteúdo produzido pelos adolescentes durante o III Congresso no portal: www.stopx.org

Ø Contate :

Em Brasil

UNICEF:

Laura Fantozzi

Tel/e-mail: (61) 81661631; lfantozzi@unicef.org

REVISTA VIRACÃO:

Vivian Ragazzi:

Tel/mail: (21) 98905524; Vivian@revistaviracao.org.br

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Projeto CLÁSSICOS DO TEATRO

Projeto

CLÁSSICOS DO TEATRO

Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz - 2006.

Apresenta:

ANTÍGONA

de SÓFOCLES

1948 - Declaração universal dos direitos humanos – 2008

- 60 ANOS –

Espetáculo que celebra os 60 anos da promulgação da Lei Universal dos Direitos Humanos. , as ça, b belisa Taam, Indispensável à formação ética de todos os que aspirem aos avanços civilizadores da humanidade pela incomparável envergadura dos diálogos entre indivíduo e poder, debate cujo desfecho se dá no desenrolar dos fatos que recaem sobre o indivíduo e refletem no Estado.

ANTÍGONA, de Sófocles

Tradução: Millôr Fernandes

Direção: Mariozinho Telles

ELENCO:

Maria Rita Rezende, Guilherme Salvador, Anita Terrana, Ana Helena Lima, Priscila Jannuzzi, Lúcia Ribeiro, Carlos Lima, Alexandre França, Belisa Taam, Claudia Merlo Cabral, Vanessa Castro, Andressa Gonçalves e Mariozinho Telles.

Dias: Terça e quarta feira, dias 9 e 10 de dezembro de 2008.

Local: TEATRO LAURA ALVIM

Av. Vieira Souto, 176. Ipanema.

HORA: 21h00min
Classificação:
10 anos


INGRESSOS: Inteira:
R$30,00 - Meia: R$15,00 (estudantes e idosos).

REALIZAÇÃO: TEATRO DE RODA
Maria Rita Rezende - 21.2256-0930; 9877-2916.

teatroderoda@gmail.com


http://teatroderoda.org

Nos textos clássicos tanto se tem descoberto e interpretado quanto há por ser feito e inventado, à luz de cada época em que são revisitados e têm a sua mensagem consolidada através dos séculos, imprimindo, subsidiando e provocando a evolução do pensamento, o desenvolvimento humano. A atualidade encontrada na problemática de muitos dos seus enredos desafia o sentido da evolução de uma sociedade que celebra a sua era tecnológica.

"Mais forte do que o destino é a cegueira dos que não querem ver!"

ANTÍGONA, de Sófocles, tem sido alvo de intermináveis estudos das mais variadas naturezas, referência para o desenvolvimento de teses multidisciplinares, parâmetro para a criação de leis, fonte de investigação e modelo para a estratégia política em tempos de guerra.

A ação da peça estabelece um confronto entre os ideais básicos de uma sociedade, os interesses do estado e as questões familiares encontram-se no impasse, as tradições religiosas e as atualidades políticas estabelecem um insolúvel conflito entre presente, passado e futuro que a humanidade ainda há de resolver algum dia.

"Nenhum Estado pertence a um homem só!"

O conhecimento de ANTÍGONA, de Sófocles, é necessário a todos os que aspirem aos avanços civilizadores da humanidade pela incomparável envergadura deste debate do indivíduo com a intransponível autoridade impessoal do poder, em um diálogo que se estende além das palavras e que invariavelmente só encontra o seu desfecho no desenrolar dos fatos que recaem sobre o indivíduo e refletem no Estado. A ação de Antígona é tida como o germe do chamado "direito natural", do qual deriva o "direito de resistência"; abre o precedente para a formulação e o desenvolvimento de uma nova concepção jurídica, que tem o seu início na Magna Carta de João Sem Terra, em 1215, "the law of land"¹ (Lei da Terra); O termo jurídico "due process of law" é decorrente das ratificações da Magna Carta e da sua tradução para o Inglês em 1354 durante o reinado do Rei Eduardo II (escrita originalmente em latim para que o povo não tomasse conhecimento de seu conteúdo), representa um princípio genérico que vem encontrar a consagração em 1948 com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, formulada pela ONU em Paris, determinando que toda pessoa tem direito, em condições de plena igualdade, a ser ouvida publicamente e com justiça por um tribunal independente e imparcial, para a determinação de seus direitos e obrigações ou para o exame de qualquer acusação contra ela em matéria penal.

¹"Nenhum homem livre será detido ou aprisionado, ou privado de seus direitos ou bens, ou declarado fora da lei, ou exilado, ou despojado, de algum modo, de sua condição; nem procederemos com força contra ele, ou mandaremos outros fazê-lo, a não ser mediante o legítimo julgamento de seus iguais e de acordo com a lei da terra."

É consenso entre juristas de todos os tempos e lugares que apesar de todas as conquistas celebradas, muito ainda há por ser posto em prática.

Antígona também é tida como precursora na Desobediência Civil:

"Existem leis injustas; devemos submeter-nos a elas e cumpri-las, ou devemos tentar emendá-las e obedecer a elas até à sua reforma, ou devemos transgredi-las imediatamente?"

ENCENAÇÃO

Os atores em palco livre evoluem desenhando com os seus corpos a contemporaneidade dos climas sugeridos pela trama, trazendo para a atualidade a ação do texto em atitudes, posturas e cadências, recriando as angústias e os anseios presentes, sugerindo ambientes e cenários, as relações de espaço dos nossos tempos, na eternidade deste clássico, caracterizando os personagens em sua existência atemporal, pontuando referências coloquiais e estabelecendo laços entre o presente e a antiguidade. Centrada nos recursos cênicos do ator a montagem valoriza a ação do texto, emprestando tons e ressonâncias contemporâneas à sua interpretação.

SÓFOCLES

Nascido em Colono provavelmente no ano de 496a.C., aos 28 anos de idade, no ano de 468 a.C., foi o vencedor do concurso dramático anual de Atenas, superando Ésquilo, com a tragédia "Triptólemos"; consolida a supremacia do primeiro lugar por mais de 20 concursos, ficando em segundo lugar na maioria das vezes que não foi o primeiro. Em 441 foi derrotado por Eurípedes.

Os concursos de peças surgem em Atenas no ano de 535 a.C., promovidos pelo Imperador Pisístrato. Atribui-se a Téspis e a Pisístrato o impulso inicial ao TEATRO GREGO.

Sófocles passou toda a sua vida em Atenas onde teve grande participação na vida pública, chegando a dirigir o departamento do Tesouro, que controla os fundos da Confederação de Delos; além do teatro dedicou-se também ao atletismo, à música, à política, ao militarismo e, por fim, à vida religiosa (tendo sido sacerdote do herói-curador Amino).

De todo o seu legado apenas 7 tragédias chegaram aos nossos dias:

As Traquinianas, Ajax e Electra (peças de caracteres); Antígona (drama social); Filoctetes (idílio); Édipo Rei e Édipo em Colono (tragédias do destino).

http://teatroderoda.org


quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Campanha humanitária para o Haiti de doação de brinquedos

O Grupo Solidariedade Haiti é formado por voluntários que se sensibilizaram pelas crianças haitianas



Esta campanha é apenas uma pequena iniciativa pela qual podemos levar esperança às crianças de Cité Soleil, uma das favelas mais pobres de Porto Príncipe, e de outras regiões miseráveis da capital. Uma esperança traduzida em brinquedos que sejam leves para facilitar o transporte. A distribuição será feita pelos militares brasileiros, que têm desempenhado um papel fundamental no Haiti.

Há cerca de um ano e meio as 12 favelas que compõem Cité Soleil onde moram quase 100 mil habitantes no bairro periférico ao norte de Porto Príncipe, capital do Haiti,
vivem dias de paz.

No Haiti não há escolas públicas, coleta de lixo regular, saneamento básico,
iluminação pública.

Segundo a Organização das Nações Unidas, as crianças continuam a serem alvos de seqüestros, tráfico humano, violência sexual e assassinatos.

No primeiro semestre de 2008, 66 crianças foram seqüestradas. Durante todo o ano de 2007,
foram registrados 80 casos de seqüestro.

A missão de paz da ONU está no país caribenho com um efetivo de 11 mil pessoas entre tropas militares, policiais, funcionários civis e voluntários e reúne forças armadas de 18 países diferentes desde 2004, quando o ex-presidente Jean-Bertrande Aristide renunciou ao poder.

A campanha teve início em Brasília com a jornalista Carla Mendes e já chegou ao Rio de Janeiro. A idéia é mobilizar voluntários que se interessem por esta campanha de solidariedade.

Já estamos com um ponto de coleta de brinquedos no Rio de Janeiro, um espaço cedido pela Casa de Cultura Laura Alvim, espaço cultural localizado no bairro de Ipanema, zona sul.

A seguir o depoimento da jornalista Carla Mendes que esteve em setembro no país:


Ai, Haiti!

Carla Mendes

No Haiti eu vi uma catástrofe humanitária. Vi o horror da fome, a escuridão da miséria, a necessidade premente da ajuda internacional. Na cidade de Gonaives, ao Norte, arrasada pela passagem dos furacões Hanna e Ike, em Setembro deste ano, mulheres disputavam, sob um sol escaldante, um lugar na fila de distribuição de ajuda humanitária. Quando a comida acabou, uma haitiana que não conseguira receber a soja distribuída pelos militares da Missão de Estabilização das Nações Unidas para o Haiti (Minustah) começou a comer mato. Outra, ajoelhou-se ao chão. Seus braços, enlouquecidos, levantavam a poeira na tentativa de juntar os poucos grãos que restaram.


A temporada de furacões, de junho a outubro, é um agravante à insegurança alimentar do país, cuja raiz está na combinação de uma agricultura de cortes e queima que degradou várias terras, juntamente com a decisão de importar alimentos a partir da década de 80, quando os preços eram baixos. A maior parte dos haitianos ainda utiliza carvão e madeira como combustível e a conseqüência disso é a destruição de 98% da cobertura vegetal nativa. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é preciso plantar um bilhão de árvores naquele país do Caribe. O carvão usado para cozinhar é vendido em sacos pelas ruas das cidades, transformadas em verdadeiros mercados livres por uma população onde 80% estão desempregados. A moeda, o gourde, mal circula. O comércio funciona na base do escambo.


Na capital, Porto Príncipe, onde não há luz elétrica, à exceção de um bairro abastado, o maior mercado é conhecido como “Cozinha do Inferno”. Faz jus ao nome. Verduras murchas e cenouras nanicas são oferecidas em meio ao esgoto que corre a céu aberto. A insegurança alimentar não dá tempo de que os legumes plantados possam crescer. A fome cria novas receitas, como os biscoitos de barro, feitos de argila, óleo e sal. Ai, Haiti! Vi suas crianças a mendigar pelas ruas o tempo todo, famintas. Seus olhares são tristes, ainda que em rostos que continuam a sorrir, sem consciência do futuro sem perspectivas nesse país de mais de 50% da população analfabeta.


O saneamento e a saúde pública também não existem. Os lixões fazem parte da paisagem de Porto Príncipe. Porcos andam pelas ruas abarrotadas de desempregados que lutam para sobreviver no país mais miserável das Américas e um dos mais pobres do mundo. O Haiti é de alto risco no que se refere a doenças contagiosas, e os maiores riscos de curto prazo para a saúde estão associados ao consumo de água contaminada. A água tratada é vendida em caminhões-pipa por empresas privadas e quem não tem dinheiro precisa enfrentar filas para pegar em baldes a água distribuída pelos militares da Minustah.


Nas cidades mais atingidas pelas tempestades tropicais, a situação é pior. Em Gonaives, onde mais de 400 pessoas morreram e 265 mil dos 350 mil habitantes ficaram desabrigados este ano devido à passagem dos furacões, foram registrados casos de malária, desinteria, hepatite, tétano, tifo. Houve também muitas pessoas que tiveram infecção respiratória por causa do mau cheiro. Vi seu povo, Haiti, exposto àquele odor azedo, ácido e repugnante, fruto da decomposição de corpos de pessoas, animais e outras matérias orgânicas misturadas à lama e ao lixo, que borbulhavam sob um sol fustigante de mais de 40 graus. Um retrato desolador da miséria humana associada às catástrofes naturais. Ai, Haiti!


Apesar de tudo isso, muitos foram os relatos que ouvi dos próprios haitianos e dos integrantes da Minustah dando conta de que as condições do país melhoraram após a intervenção, em 2004, das tropas das Nações Unidas, lideradas pelo Brasil. Ainda que frágil, a pacificação do Haiti é uma realidade desde meados de 2007. Antes disso, era comum ver cabeças decepadas ou corpos estripados pelas ruas de Porto Príncipe, resultado dos violentos confrontos entre gangues. Mas a realidade do Haiti ainda requer muita solidariedade. A falta de dignidade mínima para se viver, a mendicância e o clamor do povo haitiano não podem ser ignorados e precisam ser levados a todos que desconhecem o que se passa naquele país. E cada um de nós pode ajudar.




Grupo Solidariedade Haiti
solidariedadehaiti@hotmail.com
Brasília: (61) 8187-7397 - 3208-5904

Belo Horizonte: (31) 3337-9530
Apoio: Revista Nós - www.nosrevista.com.br e Thesaurus Editora de Brasília


Rio de Janeiro: (21) 9689-8051
Ponto de coleta no Rio:
Casa de Cultura Laura Alvim
Av Vieira Souto, 176
Ipanema

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Haiti

HAITI

Navio da marinha brasileira realiza ajuda humanitária à Jamaica, Cuba e
Haiti.

Rio Grande/ RS, 12/11/2008 - O navio "Mattoso Maia", da Marinha do
Brasil, atracou no cais do Porto Novo na manhã de ontem, vindo do Rio
de Janeiro, de onde saiu no último dia 7 para realizar o transporte de
alimentos para ajuda humanitária e de material da Força de Fuzileiros
Navais da Esquadra e do Exército Brasileiro.

No porto rio-grandino, está recebendo 1.500 toneladas de arroz
beneficiado e leite em pó, que consiste na primeira parcela de
alimentos doados pelo governo Brasileiro à Jamaica, República de Cuba e
República do Haiti, conforme o estabelecido na Medida Provisória nº
444/2008, para atender as populações afetadas por eventos
meteorológicos adversos.

São 600 toneladas de arroz e 900 toneladas de leite em pó. Das 1.500
toneladas, serão destinadas 200 de arroz e 300 de leite em pó para cada
um dos três países. A operação de embarque se iniciou por volta das 14h
de ontem e deve se estender até sexta-feira. O navio já veio trazendo a
bordo 10 caminhões, seis jipes e 32 contêineres (seis montados e 26
desmontados), além de móveis e outros objetos, que são material de
apoio para os militares brasileiros que atuam na Missão de
Estabilização das Nações Unidas no Haiti, conforme diz o comandante do
navio, capitão-de-mar-e-guerra Antônio Vinicius Ferreira Bezerra. Os
contêineres serão transformados em banheiros, escritórios e
alojamentos, entre outras instalações.

A tripulação normal do Mattoso Maia é de 250 militares, mas nesta
viagem será de 402, pois seguem com ele fuzileiros que ajudam na
segurança do navio, mecânicos e motoristas para as viaturas que estão a
bordo. A embarcação deixa o porto do Rio Grande no próximo sábado e
segue para Fortaleza, onde irá parar para abastecimento. De lá, irá
primeiro à Jamaica (porto de Kingston), depois a Cuba (Havana) e por
último para o Haiti (portos Principe e Gonaives). Conforme o comando do
navio, "as atuações do contingente brasileiro nas Nações Unidas e da
própria Marinha em missão de ajuda humanitária reforçam, de forma
concreta, a tradição de fraternidade e solidariedade entre os países da
América Latina e do Caribe".

O embarque ocorre no Rio Grande do Sul porque as doações têm origem nos
estoques de arroz em casca pertencentes aos estoques reguladores do
governo federal, que estão depositados no Estado, e no leite em pó
adquirido em projetos do Programa de Aquisição de Alimentos da
Agricultura Familiar. Os dois programas são gerenciados pela Conab e
esses produtos são operados pela Superintendência da Conab do Rio
Grande do Sul. O arroz em casca foi trocado por beneficiado por meio de
leilão na bolsa. Segundo o superintendente regional da Conab/RS, Carlos
Farias, a MP 444/2008 prevê doações aos países do Caribe (Cuba,
Jamaica, Haiti e Honduras) no volume total de até 45 mil toneladas de
arroz beneficiado e de até 2 mil toneladas de leite em pó, mais 500
quilos de sementes de hortaliças.

Carmem Ziebell

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Brasil- Portugal

Encontro promove cooperação nas áreas de atenção básica e registro de medicamentos



Com o objetivo de firmar ações de cooperação para os próximos cinco anos, Brasil e Portugal promovem, de 3 e 5 de novembro, em Lisboa, um encontro para tratar de temas referentes à atenção básica em saúde. Serão discutidos iniciativas e acordos que envolvem temas como a troca de experiências sobre o Programa Saúde da Família, pelo qual equipes de saúde atendem a população em suas casas, saúde mental e atenção aos idosos. Também estarão em discussão entre os dois países bolsas de estudo para intercâmbio de profissionais e estudantes do setor de saúde e entendimento entre os sistemas de vigilância sanitária para a inspeção e registro de produtos, como medicamentos e cosméticos, fortalecendo o potencial comercial entre o Brasil e a União Européia.

 O presidente da Fiocruz, Paulo Buss, a ministra da Saúde de Portugal, Ana Jorge, o ministro José Gomes Temporão e o presidente da Academia Nacional de Medicina, Marcos Moraes (Foto: Peter Ilicciev)
O presidente da Fiocruz, Paulo Buss, a ministra da Saúde de Portugal, Ana Jorge, o ministro José Gomes Temporão e o presidente da Academia Nacional de Medicina, Marcos Moraes (Foto: Peter Ilicciev)

O simpósio Saúde Brasil-Portugal (1808-2008), marca os 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil. O primeiro encontro ocorreu em julho, no Brasil. Agora, em Lisboa, novamente serão reunidas autoridades, pesquisadores, profissionais de saúde e estudantes de medicina, para consolidar uma agenda de cooperação até 2013.

As atividades são promovidas pelos ministérios da Saúde do Brasil e de Portugal por meio do Alto Comissariado da Saúde e da Fiocruz, em parceria com as respectivas academias nacionais de Medicina e os institutos nacionais de Saúde. Para o simpósio, o ministro da Saúde do Brasil, José Gomes Temporão, é convidado como conferencista da aula magna com o tema A saúde no século 21: desafios e estratégias, proferida nesta segunda-feira (3/11), no Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa.

Como resultado das exposições e dos simpósios promovidos no Brasil e em Portugal, será estabelecido um plano plurianual (2008-2013) de ações entre os dois países. Serão firmados, inicialmente, quatro acordos de cooperação bilateral no segmento da atenção básica. Eles prevêem visitas técnicas entre profissionais de saúde do Brasil e de Portugal, intercâmbio de experiências e boas práticas em saúde pública e troca de materiais informativos, entre outras parcerias.

Esta é a primeira vez que os dois países firmam acordos específicos em saúde. Além de estreitar as relações institucionais entre Portugal e a ex-colônia, a cooperação produzirá relevantes impactos econômicos e técnico-científicos em virtude da situação de Portugal no contexto da União Européia e das capacidades do mercado brasileiro.

Para o plano plurianual de ações também deve ser discutido um programa de bolsas de estudo – importante parceria na área de formação técnico-científica. A idéia é alinhar conhecimentos em medicina e outros saberes como também afinar procedimentos e diretrizes da saúde pública dos dois países. Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) de Portugal têm promovido encontros para aperfeiçoar a cooperação para temas como registro e inspeção de medicamentos e de cosméticos, e informações ao consumidor e aos profissionais de saúde. O objetivo é melhorar o diálogo entre os dois países na área de regulação em saúde, além de fortalecer o complexo industrial da saúde no Brasil.

O seminário e a exposição Saúde Brasil-Portugal (1808-2008) têm como objetivo relembrar a chegada de dom João VI e da Corte portuguesa ao Brasil, o que abriu uma série de oportunidades para a então colônia. Em 1807, como consequência da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão, o príncipe regente dom João embarcou para a então colônia. Após uma passagem pela Bahia, onde decretou a abertura dos portos brasileiros às nações amigas de Portugal, o monarca desembarcou no Rio de Janeiro em 8 de março de 1808.

Durante os 13 anos em que governou o império português a partir do Brasil, dom João VI implementou o ensino universitário, fundou a Faculdade de Medicina da Bahia e criou, entre outras instituições, o Banco do Brasil, a Imprensa Régia, a Biblioteca Real, a Real Academia de Belas Artes, o Jardim Botânico, a Real Junta de Arsenais do Exército e a Real Academia Militar. A decisão de dom João de sair de Lisboa e transferir toda a Corte para o Rio de Janeiro – à época, um centro urbano de dimensões modestas – mudou definitivamente a história dos dois países. Portugal e as decisões da Corte no Brasil tiveram papel fundamental no desenvolvimento da medicina e da saúde pública por meio da presença de médicos de Lisboa e Coimbra na implementação das escolas médicas da Bahia e do Rio de Janeiro.

fonte: Fiocruz