quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Relatório mostra que crédito ambiental do planeta se esgotará em 2030

O relatório Planeta Vivo 2008, publicação bianual da Rede WWF, mostra que, caso o modelo atual de consumo e degradação ambiental não seja superado, é possível que os recursos naturais entrem em colapso a partir de 2030, quando a demanda pelos recursos ecológicos será o dobro do que a Terra pode oferecer. Alguns países, como os EUA e a China, demandam mais que sua biocapacidade (aquilo que seus ecossistemas são capazes de oferecer), se caracterizando como “países devedores ecológicos”. Outros, como o Brasil, por exemplo, são “países credores ecológicos”, pois ainda possuem mais recursos ecológicos do que consomem, e usualmente “exportam” sua biocapacidade para os devedores.


“Assim como a bolha financeira mundial gerou a crise econômica atual, o consumo desenfreado dos recursos naturais disponíveis no planeta pode gerar uma nova crise. Temos que ficar atentos a isso”, alerta Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil. “O Brasil precisa ter consciência da importância de conservar seus ativos ecológicos e de engajar-se no desenvolvimento de modelos de negócios inovadores e baseados em uma gestão sustentável dos recursos naturais. Temos de começar agora a enfrentar o desafio de gerenciar responsavelmente o capital natural e, ao mesmo tempo, aumentar a qualidade de vida dos cidadãos.”


Esta é a sétima edição do estudo, que traz dois indicadores da saúde da Terra. Um deles é o Índice Planeta Vivo, que reflete o estado dos ecossistemas do planeta. Baseado nas populações mundiais de 1.686 espécies de vertebrados, como peixes, aves, répteis e mamíferos, esse indicador apresentou uma redução de quase 30% em apenas 35 anos. Em algumas áreas temperadas, não houve redução nas populações. Em compensação, a redução de 60% na região tropical mostra a urgência de conservarmos os ecossistemas e seus serviços ecológicos.


O outro índice medido no relatório Planeta Vivo é a Pegada Ecológica, que evidencia a extensão e o tipo de demanda humana por recursos naturais e sua pressão sobre os ecossistemas. A média individual mundial é de 2,7 hectares globais por ano. O índice recomendado no relatório para que a biocapacidade do planeta seja suficiente para garantir uma vida sustentável seria de 2,1 ha/ano por pessoa. No entanto, a média brasileira por pessoa já supera este patamar e está atualmente em 2,4 ha/ano.


“Para diminuir a Pegada Ecológica do País é importante que os consumidores adotem uma postura consciente ao realizar suas compras. Também é fundamental que as empresas façam sua parte, pensando em processos de produção, embalagem e distribuição menos impactantes. Já os governos precisam prover infra-estrutura, estabelecer marcos regulatórios e incentivos para tornar viáveis ações sustentáveis”, exemplifica Irineu Tamaio, coordenador do programa de Educação para Sociedades Sustentáveis do WWF-Brasil.


Segundo Irineu Tamaio, os astronômicos níveis de consumo atuais em algumas sociedades só são possíveis porque há pessoas consumindo menos que o necessário para ter uma vida digna em outras. Os países com mais de um milhão de habitantes que tiveram maior Pegada Ecológica foram os Emirados Árabes Unidos, os EUA, o Kuwait, a Dinamarca e a Austrália.

Segundo o relatório, o Brasil ocupa o 58º lugar em termos de consumo entre os países com mais de um milhão de habitantes. Impedir o crescimento da Pegada Ecológica e principalmente estabelecer uma padrão consistente de redução dela é uma lição de casa para a sociedade brasileira. O crescente desmatamento de florestas no Brasil e perda da biodiversidade exemplificam bem os riscos de aumento da Pegada em conseqüência de um modelo de desenvolvimento econômico tradicional.

É preciso zerar o desmatamento na Amazônia e utilizar de forma sustentável a floresta, melhorando a qualidade de vida das populações locais. Nesse contexto são diversas as estratégias a serem adotadas, como critérios socioambientais na produção agropecuária, melhor produtividade em áreas de uso extensivo, exploração manejada dos recursos florestais e criação e implementação de áreas protegidas, além de outras medidas.


Esse momento de crise mundial é uma oportunidade de atuar decisivamente nos três fatores responsáveis pela expansão da Pegada Ecológica: crescimento populacional, consumo per capita e intensidade e forma de uso dos recursos naturais.


As soluções para conter uma possível crise ambiental são diversas e muitas se complementam. Ente elas estão a diversificação da matriz elétrica, já proposta pelo WWF-Brasil no estudo Agenda Elétrica Sustentável 2020, e o aumento dos investimentos em infra-estrutura sustentável, como a criação de modelos habitacionais baseados em um melhor uso de água, energia e solo. Outra estratégia fundamental é incentivar os meios de transportes coletivos, tornando-os mais eficientes, menos poluentes e mais confortáveis, além de promover a conservação de áreas verdes em grandes centros urbanos.


“Não é mais possível ignorar os recursos naturais nos modelos de negócio praticados nas diferentes atividades econômicas. O capital natural é tão importante quanto o financeiro, o humano e o material envolvidos na produção de qualquer bem. Enquanto o custo de preservá-lo adequadamente não estiver incluído no preço dos produtos, estaremos caminhando rapidamente para exaurir o nosso crédito ecológico”, conclui Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, superintendente de Conservação de Programas Temáticos do WWF-Brasil.


WWF-Brasil

O WWF-Brasil é uma organização não governamental brasileira dedicada à conservação da natureza com os objetivos de harmonizar a atividade humana com a conservação da biodiversidade e promover o uso racional dos recursos naturais em benefício dos cidadãos de hoje edas futuras gerações. O WWF-Brasil, criado em 1996 e sediado em Brasília, desenvolve projetos em todo o país e integra a Rede WWF, a maior rede independente de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países e o apoio de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários.

Geórgia usou força contra civis, diz Human Rights Watch

28 Out 2008

AE-AP - Agencia Estado

LONDRES E SÃO PETERSBURGO - O Exército da Geórgia usou poder de fogo indiscriminado contra civis na província separatista da Ossétia do Sul durante a guerra de agosto, informou uma reportagem da BBC hoje, ao citar entrevistas com georgianos expostos ao conflito, e a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW). A diretora da HRW em Moscou, Allison Gill, afirmou que a organização estava "muito preocupada com o uso indiscriminado da força pelos militares da Geórgia em Tskinvali (capital da Ossétia do Sul)".

"Nós obtivemos provas e testemunhas assistiram a ataques de foguetes e de tanques contra prédios de apartamentos, inclusive de tanques que atiraram contra porões dos prédios", disse. "Os porões, tipicamente, são os locais onde os civis buscam esconderijo para proteção", afirmou a diretora. "Então tudo isso indica que houve um uso inapropriado da força pela Geórgia contra alvos civis."

Em resposta, o ministro do Exterior da Geórgia, Eka Tkeshelashvili, disse que o governo não tinha provas de crimes de guerra, mas cooperaria com qualquer investigação. A acusação de que a Geórgia usou poder fogo indiscriminado contra civis coincidiram com o anúncio da retomada das negociações entre a União Européia (UE) e a Rússia para um novo tratado político e econômico.

As negociações serão retomadas em uma cúpula no próximo mês, disse hoje o ministro do Exterior da França, Bernard Kouchner. Segundo ele, as conversações com a Rússia serão retomadas no encontro de 13 e 14 de novembro, em Nice, no sul da França. A UE havia suspendido as conversas após a guerra entre a Rússia e a Geórgia. Alguns integrantes da UE reclamaram contra a retomada das conversações, alegando que a Rússia fracassou em cumprir todos os termos do acordo de cessar-fogo mediado pelo bloco europeu.

O acordo

O atual tratado de parceira entre a Rússia e a UE, assinado em 1997, perdeu muito da sua relevância, por causa do crescente papel de Moscou como fornecedor de energia à Europa e à política externa mais afirmativa do país. A UE pressiona a Rússia a aceitar os termos que propôs para política energética, segurança e direito. A Rússia tem resistido.

Kouchner disse que as conversações sobre o novo acordo estão mantidas, "a menos que alguma nova circunstância apareça". "Até agora, não apareceu nenhuma nova circunstância", disse o chanceler francês, após consultas com funcionários russos em São Petersburgo. A Rússia alega que cumpriu sua parte no cessar-fogo assinado com a Geórgia e retirou as tropas do território vizinho, com exceção das províncias separatistas da Abkházia e da Ossétia do Sul.

A UE enviou monitores às áreas após a retirada russa. Porém, a Geórgia acusa a Rússia de ter mantido tropas em áreas que estavam sob controle georgiano antes da guerra de agosto. Segundo a Geórgia, a Rússia também violou o acordo ao enviar 3,8 mil soldados a cada uma das províncias, aumentando a presença militar de Moscou nos dois territórios.

Em entrevista publicada hoje no jornal russo Kommersant, Kouchner afirmou que a guerra com a Geórgia causou uma "crise colossal" nas relações entre Rússia e UE. No entanto, disse, a Rússia cumpriu com as promessas feitas no acordo mediado pelo presidente francês Nicolas Sarkozy, embora tenha acrescentando que a intenção de manter grandes contingentes militares na Ossétia do Sul e na Abkházia, além da ocupação da cidade de Akhalgori, sejam atitudes que contradizem o acordo de trégua.


Conflito


A guerra de agosto começou quando a Geórgia lançou um ataque contra a província separatista da Ossétia do Sul, que se libertou do controle georgiano na década de 1990. As forças russas rapidamente repeliram o ataque e invadiram a Geórgia. O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse hoje que Moscou está preocupada que a Geórgia use os 4,5 bilhões de euros que receberá da UE para reconstrução do país na remontagem do Exército. Com informações da Dow Jones.