sábado, 27 de março de 2010

~Desafio é unir o urbano dividido face ao crescimento descontrolado das cidades - ONU

Face a um crescimento descontrolado das grandes cidades, o desafio que se impõe hoje é unir o urbano dividido e garantir o direito à cidade aos diferentes segmentos sociais, defende representante do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT).


“Unir o urbano dividido não é uma contradição, é uma realidade”, disse mexicano Eduardo Lopez-Moreno, um dos diretores do Observatório Urbano Global do escritório da ONU, à margem do 5º Fórum Urbano Mundial.

A busca por um crescimento mais harmónico não é só um desafio, mas uma necessidade, garante o arquiteto.


Isto é, “buscar formas de transferir benefícios e oportunidades àqueles que não têm”.


O direito a cidade não é um direito novo, mas sim uma visão espacial da realização dos direitos que foram historicamente conseguidos, explica.


“O espaço da cidade é o lugar onde esses direitos se podem materializar”. Contudo, em países mais pobres, os direitos, as oportunidades e o acesso aos recursos são muito limitados.


“A cidade que deveria ser um espaço aberto, se converte numa fortaleza. Isso acaba por separar os ricos e os pobres”.


A tendência é piorar, adverte Lopez-Moreno. “Quando as divisões sociais e econômicas são muito visíveis com a divisão física do espaço urbano, as possibilidades de distúrbios sociais serão cada vez maiores”, alerta.


A redução desta segregação urbana mundial ainda carece de muitos esforços. Na última década, o número absoluto de moradores de favelas cresceu de 776,7 milhões para 827,6 milhões podendo atingir um total de 889 milhões em 2020, alerta a ONU.


Só na África Subsaariana, quase 200 milhões de pessoas vivem em favelas, a América Latina não fica muito atrás com uma população de 110 milhões de favelados.


O exemplo brasileiro é paradigmático, salienta Lopez-Moreno. Apesar de as cidades brasileiras serem as mais desiguais no mundo, atrás apenas das cidades da África do Sul, o Brasil deu “um passo grande”.


Nos últimos 10 anos, as condições de vida de quase 11 milhões de brasileiros em favelas melhoraram.

A experiência brasileira é uma referência, dado que em apenas cinco anos, mais de nove milhões de pessoas deixaram de viver em assentamentos informais.


A “chave do sucesso”, garante Lopez-Moreno, é a mistura de programas de transferência de renda, de acesso à moradia e a articulação dos três níveis de gestão.


“Essa conjunção de ações é o que vai trazer o sucesso. Quando o governo local se articula com o central. Esta coordenação tem tudo para dar certo”.


Criado em 2002, o Fórum Urbano Mundial já se realizou em cidades em todos os continentes, esta é a primeira vez que decorre na América Latina.


Após 10 anos de realização, o maior congresso sobre urbanismo para debater crescimento e impactos provocados pela urbanização bateu o recorde de inscritos, com cerca de 20 mil participantes de 200 países.

5º Fórum Urbano Mundial das Nações Unidas

O 5º Fórum Urbano Mundial das Nações Unidas terminou ontem (26) Rio de Janeiro e reafirmou os desafios para uma urbanização sustentável com o direito de todo ser humano a viver com qualidade de vida nas cidades.


“A hora de agir é agora”, esta foi a mensagem final deixada pela diretora executiva do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), a tanzaniana Anna Tibaijuka.


“O tempo não está do nosso lado. A tarefa diante de nós é imensa, é um trabalho que deveríamos ter feito ontem”, advertiu a representante do Escritório da ONU ao referir os problemas enfrentados pelas cidades em todo o mundo.


Nas mais de três horas da cerimónia de encerramento do maior fórum sobre urbanismo no mundo, foi lançada a Campanha Urbana Global com propostas para garantir o desenvolvimento urbano sustentável.


Coordenada pela ONU-Habitat, a campanha, que leva o logo elaborado por um designer português, é uma oportunidade para desenvolver soluções urbanas e ferramentas políticas de atuação para reduzir as desigualdades nos espaços urbanos.


Em complemento à fala de Tibaijuka, o ministro brasileiro das Cidades e anfitrião do evento, Márcio Fortes, destacou que a campanha irá refletir as ações da maioria dos países que enfrentam o problema dramático de assentamentos, transporte, conflitos sociais e reforma agrária.


“Não podemos agir sozinhos, precisamos de parcerias, de atuarmos juntos, seja de forma bilaterial ou multilateral”, reforçou o ministro brasileiro.


“As desigualdades urbanas vão além da dimensão de renda. O direito à cidade deve se constituir como um direito coletivo”, salientou Márcio Fortes.


Ao longo de cinco dias de debates sobre o crescimento e impactos provocados pela urbanização, o Fórum Urbano reuniu 13.700 participantes de 150 países.


O encontro, realizado pela primeira vez na América Latina, discutiu o crescimento urbano desordenado em plena área degradada na zona portuária do Rio de Janeiro.


Os participantes puderam sentir na pele os problemas das grandes cidades em termos de infraestruturas e segregação social.


No século 20 que foi marcado pela exclusão urbana, a busca por um crescimento mais harmonioso não é só um desafio, mas uma necessidade, este foi o consenso entre as centenas mesas de debates levadas à cabo esta semana.


Segundo a ONU, pouco mais de metade da humanidade está hoje concentrada em médias e grandes cidades e estima-se que chegará a dois terços nos próximos 50 anos.


Atualmente, metade da população mundial (3,5 mil milhões de pessoas), mora em áreas urbanas, e cerca de mil milhões de pessoas vivem em condições precárias nas principais cidades do mundo.


Na última década, o número absoluto de moradores de favelas cresceu de 776,7 milhões para 827,6 milhões.

A população residente em favelas alcançará a 890 milhões de pessoas até 2020.


A 6ª edição do Fórum Urbano Mundial será realizada em Bahrain, no Médio Oriente, em 2012.