Face a um crescimento descontrolado das grandes cidades, o desafio que se impõe hoje é unir o urbano dividido e garantir o direito à cidade aos diferentes segmentos sociais, defende representante do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT).
“Unir o urbano dividido não é uma contradição, é uma realidade”, disse mexicano Eduardo Lopez-Moreno, um dos diretores do Observatório Urbano Global do escritório da ONU, à margem do 5º Fórum Urbano Mundial.
A busca por um crescimento mais harmónico não é só um desafio, mas uma necessidade, garante o arquiteto.
Isto é, “buscar formas de transferir benefícios e oportunidades àqueles que não têm”.
O direito a cidade não é um direito novo, mas sim uma visão espacial da realização dos direitos que foram historicamente conseguidos, explica.
“O espaço da cidade é o lugar onde esses direitos se podem materializar”. Contudo, em países mais pobres, os direitos, as oportunidades e o acesso aos recursos são muito limitados.
“A cidade que deveria ser um espaço aberto, se converte numa fortaleza. Isso acaba por separar os ricos e os pobres”.
A tendência é piorar, adverte Lopez-Moreno. “Quando as divisões sociais e econômicas são muito visíveis com a divisão física do espaço urbano, as possibilidades de distúrbios sociais serão cada vez maiores”, alerta.
A redução desta segregação urbana mundial ainda carece de muitos esforços. Na última década, o número absoluto de moradores de favelas cresceu de 776,7 milhões para 827,6 milhões podendo atingir um total de 889 milhões em 2020, alerta a ONU.
Só na África Subsaariana, quase 200 milhões de pessoas vivem em favelas, a América Latina não fica muito atrás com uma população de 110 milhões de favelados.
O exemplo brasileiro é paradigmático, salienta Lopez-Moreno. Apesar de as cidades brasileiras serem as mais desiguais no mundo, atrás apenas das cidades da África do Sul, o Brasil deu “um passo grande”.
Nos últimos 10 anos, as condições de vida de quase 11 milhões de brasileiros em favelas melhoraram.
A experiência brasileira é uma referência, dado que em apenas cinco anos, mais de nove milhões de pessoas deixaram de viver em assentamentos informais.
A “chave do sucesso”, garante Lopez-Moreno, é a mistura de programas de transferência de renda, de acesso à moradia e a articulação dos três níveis de gestão.
“Essa conjunção de ações é o que vai trazer o sucesso. Quando o governo local se articula com o central. Esta coordenação tem tudo para dar certo”.
Criado em 2002, o Fórum Urbano Mundial já se realizou em cidades em todos os continentes, esta é a primeira vez que decorre na América Latina.
Após 10 anos de realização, o maior congresso sobre urbanismo para debater crescimento e impactos provocados pela urbanização bateu o recorde de inscritos, com cerca de 20 mil participantes de 200 países.
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