sábado, 31 de outubro de 2009

Seminário


Não-violência, Direitos Humanos e Segurança Cidadã:
um Desafio de Comunicação e Cultura

Segunda, Dia 9 de Novembro de 2009, das 9h30m às 17h30m, GRATUITO
Lia Diskin, Michel Misse, Celia Passos, Luiz Eduardo Soares e Evandro Vieira Ouriques
Este Seminário é a Participação do NETCCON na 28a. Semana Gandhi, da Associação Palas Athena

Salão Moniz de Aragão-Fórum de Ciência e Cultura da UFR, Campus da Praia Vermelha.
Mais Informações: 21.9205.1696
evouriques@terra.com.br

Realização
NETCCON-Núcleo de Estudos Trandisciplinares de Comunicação e Consciência.ECO.UFRJ,
através de seus cursos
JPPS-Jornalismo de Políticas Públicas Sociais e Construção de Estados Mentais Não-violentos na Mídia.

Parceiros Institucionais
Associação Palas Athena-SP
ANDI-Agência de Notícias dos Direitos da Infância
NEF-Núcleo de Estudos do Futuro da PUC.SP
UNIC-Rio, Centro de Informações das Nações Unidas no Rio de Janeiro


Programa

9h30m-12h30m Abertura e 1a. Sessão

A Não-violência como Princípio Frente à Violação de Direitos pela Ação da Violência
Profa. Lia Diskin
É Possível Controlar a Violência Sem Violência?
Prof. Michel Misse
O Desafio de uma Teoria e Ação Social centradas na Autonomia Cidadã
de Referenciar o Interesse, o Poder e a Força nos Valores Comunais

Prof. Evandro Vieira Ouriques


14h30m-17h30m 2a. Sessão
Novas Perspectivas para a Superação da Violência e do Crime:
A Justiça Restaurativa no Brasil e no Exterior

Dra. Celia Passos
Por uma Filosofia do Perdão e da Reconciliação
Prof. Luiz Eduardo Soares
Território Mental: onde se desenham a Cultura de Comunicação e Educação
para as Políticas Públicas Sociais e a Sustentabilidade

Prof. Evandro Vieira Ouriques



Fundamentos

Não-violência, Direitos Humanos e Segurança Cidadã: um Desafio de Comunicação e Cultura é o tema definidor de um novo futuro neste campo que afeta a todos, diante da naturalização, feita pela Teoria e pelo Senso Comum, de que a violência seria a grande e inevitável narrativa unidimensional do humano. A crise é a imensa oportunidade de dedicarmo-nos ao fato de que as grandes narrativas (contra as quais se voltou a pós-modernidade, ressalvadas aqui suas conquistas) não são mais “coisa do passado” (Eagleton) e que “as crenças culturais intimamente ligadas a medos relativos à auto-identidade (...) são muito mais difíceis de derrubar do que florestas”.

A missão do NETCCON é contribuir para a construção transdisciplinar e transcultural de uma nova Teoria, Ação Social e Educação que fundam a Cultura de Comunicação (Amaral), portanto no vigor do Envolvimento com o que se pensa ser um Outro absoluto, para que pela construção de uma Mente Sustentável seja possível mais Cidadania, mais Políticas Públicas Sociais, mais Gestão transformadora, mais Responsabilidade Socioambiental: quando a Palavra (Buber, Arendt) é movida pela Escuta e assim é capaz de eliminar as impregnações, resíduos e latências insustentáveis e anti-democráticas da violência presentes no Território Mental de muitos indivíduos, redes, movimentos e organizações dos três setores.

A construção de vidas, carreiras, redes, movimentos e organizações sustentáveis e democráticas depende dos valores comunais que as inspirem, e eles vigoram na decisão feita pelo que chamamos de “indivíduo” (Castoriadis), uma vez que o que chamamos de “social” é o resultado não-dualista em rede da decisão de cada um. Afinal, é assim que se iniciam e se dão os processos de transformação histórica.

Para isto trabalhamos estatuto teórico e metodologias operacionais no campo da Teoria da Comunicação e da Cultura, da Filosofia Política e da Filosofia da Linguagem, traduzindo, aproximando, comparando e sintetizando conhecimentos que atendam à urgência de restabelecer a experiência de Comunicação, que é a da própria condição humana. Passou o tempo da Teoria e da Ação Social que naturalizam a inevitabilidade da violência. É hora da Não-violência, como a base do biológico, do psíquico e do social (Maturana), ser assumida pela Academia, pela Sociedade e pelo Estado.

O que podemos fazer com o que temos sido? Porque a recusa da identidade e da verdade resultou na “verdade” da violência absoluta, inclusive sob a forma da devoção à tecnologia? Porque tanto interesse no pós-humano e tanto desdém em relação ao pós-violento? O que sustenta a sociabilidade? Porque manter a dádiva para dentro e o interesse e o poder para fora? Aonde está o vigor do princípio da autonomia e da criatividade que fundou esta civilização?

Carinhosa-mente grato aos meus ancestrais, a minha família, aos preciosos parceiros e público que nos honram e felicitam ao aceitar o convite para este Diálogo,

Prof. Evandro Vieira Ouriques
NETCCON, Coordenador


Palestrantes

Profa. Lia Diskin
Formada em Jornalismo, com especialização em Crítica Literária. É co-fundadora da Associação Palas Athena e criadora de dezenas de programas culturais e sócio-educativos. Coordenadora do Comitê Paulista para a Década de Paz, um programa da UNESCO. Conferencista no Brasil e no exterior. Recebeu, na celebração de 60 anos da UNESCO, o Diploma de Reconhecimento pela sua contribuição na área de Direitos Humanos e Cultura de Paz. Articulista e editora, é autora de “Vamos Ubuntar – um convite para cultivar a paz” e co-autora de “Paz, como se faz?”, ambos publicados pela UNESCO.

Prof. Michel Misse É Professor associado do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do IFCS-UFRJ. Mestre e Doutor em Sociologia, coordena o Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ – NECVU. É autor de inúmeros artigos em periódicos especializados e de livros como “Crime e Violência no Brasil Contemporâneo” (Rio, Editora Lumen Juris, 2006) e “Acusados e Acusadores. Estudos sobre ofensas, acusações e incriminações”. Dirige Dilemas-Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, e é um nome de referência na área temática de estudos sociológicos sobre a violência urbana no Brasil. Coordena Acordo Capes-Cofecub com a Universidade de Lille, na França, desde 2008 e participa da Plataforma Internacional de Pesquisas sobre a Violência, com sede na Universidade de Bielefeld, na Alemanha.

Dra. Celia Passos Mestra em Direito e Sociologia pela UFF, com Diploma Universitário em Mediação pelo Institut Universitaire Kurt Bösch, Suíça/Argentina. MBA pela Fundação Dom Cabral e Pós MBA pela FDC-Kellogg School of Management, Chicago. Fundadora do ISA-ADRS-Instituto de Soluções Avançadas para Diálogos e Construção de Consenso. Membro do Fórum Permanente de Práticas Restaurativas e Mediação do TJ-RJ e da Câmara de Mediação da OAB/RJ. Conselheira Suplente no Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente CEDCA. Pesquisa o tema dos Direitos Humanos, Transformação de Conflitos e o Fortalecimento das Instituições Democráticas.

Prof. Dr. Luiz Eduardo Soares Professor da UERJ e da Estácio de Sá. É assessor especial da prefeitura de Nova Iguaçu (RJ). Pós-doutorado em filosofia política. Foi Secretário Nacional de Segurança Pública; Subsecretário de Segurança e Coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania, do Estado do Rio de Janeiro; Secretário Municipal de Valorização da Vida e Prevenção da Violência de Nova Iguaçu. Livros recentes: "Meu Casaco de General: 500 dias no front da segurança pública do Estado do Rio de Janeiro"; "Cabeça de Porco", com MV Bill e Celso Athayde; “Elite da Tropa”, com André Batista e Rodrigo Pimentel; “Legalidade Libertária”; “Segurança Tem Saída” e “Espírito Santo”, com Carlos Eduardo Lemos e Rodney Miranda.

Organizador

Prof. Dr. Evandro Vieira Ouriques
Professor adjunto do Departamento de Expressão e Linguagens da ECO-UFRJ. Dedica-se à constituição de um pensamento novo capaz de libertar os sujeitos da captura pelo mesmo discurso que dizem querer superar no plano social. Mestre e Doutor em Comunicação e Cultura, com pós-doutorado em Estudos Culturais, coordena o Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência-NETCCON. É autor de artigos como “Território Mental: o Nó Górdio da Democracia”, “Comunicação, Palavra e Políticas Públicas”, “O Valor Estratégico da Não-Violência para o Vigor da Comunicação”, “Desobediência Civil Mental: a Ação Política Quando o Mundo é Construção Mental” e “Gestão da Mente Sustentável: o Desenvolvimento Socioambiental como Questão da Comunicação e da Consciência”, e organizador e co-autor de livros como “Diálogo entre as Civilizações: a Experiência Brasileira”, e “Consciência e Desenvolvimento Sustentável nas Organizações”. Dirige a área de Comunicação e Cultura do Núcleo de Estudos do Futuro-PUC.SP, é membro do Global Panel do Milenniuum Project e da Associação Internacional de Estudos Ibero-Eslavos e consultor de redes e organizações dos três setores, como a UNESCO.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Nelson Jobim: "Defesa é ter a capacidade de dizer 'não' quando necessário"

28/10/2009

El País
Javier Lafuente
Em Madri

O ministro da Justiça sob o presidente Fernando Henrique Cardoso, Nelson Jobim (nascido em Santa Maria, RS, em 1946) é o atual titular da Defesa e um dos mais estreitos colaboradores do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

El País: Existe uma corrida armamentista na região?
Nelson Jobim:
Não, o que há é uma recuperação do tempo perdido. O único conflito que há na América do Sul é o da Colômbia, com as Farc [a maior guerrilha colombiana]. O resto é uma necessidade de defender os recursos que se tem. É preciso compreender que a América do Sul tem a melhor capacidade energética da América Latina em hidrocarbonetos e energias alternativas. Pensamos que hoje ter uma boa defesa é ter a capacidade de dizer não quando é necessário dizer não.
  • Alan Marques/Folha Imagem

    Nelson Jobim durante audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado, em Brasília



El País: De quê o Brasil precisa se defender?
Jobim:
O Brasil não tem nenhum problema. Não tem inimigos. Mas existe a percepção de que precisamos ter a capacidade de defender todas as nossas infra-estruturas sensíveis, todas as nossas necessidades. Também a Amazônia. Há uma percepção internacional muito falsa. O Brasil vai cuidar da Amazônia para o Brasil e para todo o mundo, mas o Brasil vai cuidar dela. Esse é um assunto nosso, e não do mundo.

El País: Para quê o Brasil precisa de um submarino nuclear?
Jobim:
Trata-se de um submarino de propulsão nuclear, e não de ataque. A plataforma continental brasileira abrange 4,5 milhões de quilômetros quadrados. A grande riqueza brasileira está a 160 milhas do litoral. Há necessidade de resguardar esses recursos.

El País: Enquanto vocês negociam com a França, a Venezuela flerta com o Irã. Que risco há de que ocorra uma nuclearização da região?
Jobim:
Nenhum. Nós dominamos a tecnologia do enriquecimento de urânio há muito tempo. O uso do Brasil é para fins pacíficos. Devemos ser um dos poucos países que têm na Constituição uma norma que proíbe ter armas nucleares. O acordo com os franceses é com a parte nuclear do submarino de propulsão nuclear. O reator e o combustível são brasileiros.

El País: Mas lhes preocupa um eventual plano venezuelano para desenvolver armas nucleares?
Jobim:
Não, não creio que a Venezuela vá desenvolver nenhum tipo de arma nuclear. A América do Sul é uma região de paz, que tem seus conflitos políticos, mas não é como a Europa ou o Oriente Médio, onde há uma tradição de guerras.

El País: Serão tratados assuntos de cooperação nuclear na próxima visita de Mahmud Ahmadinejad ao Brasil, no final de novembro?
Jobim:
Se o presidente Ahmadinejad tratar com o presidente Lula de temas nucleares será com fins pacíficos e não militares. Não há qualquer possibilidade de qualquer tipo de desenvolvimento, pesquisas ou estudos no sentido militar, somente da propulsão. Para armas nucleares, não. Impossível.

El País: Depois do surto de violência nas favelas do Rio de Janeiro, estão pensando em enviar militares?
Jobim:
Não, não é o momento. A polícia tem a possibilidade de controlar isso. Se o governador tiver necessidade em algum momento, o exército poderá participar. Não é algo que se deva descartar, mas neste momento não há necessidade. A queda do helicóptero é um caso isolado. Mas se for necessário as Forças Armadas brasileiras têm a capacidade de atuar em ambiente urbano para manter a ordem. A partir de agora vamos ter notícias desse tipo o tempo todo, principalmente daqueles que não queriam que o Rio fosse a sede dos Jogos Olímpicos.

Congressistas dos EUA manifestam preocupação com visita de Ahmadinejad ao Brasil

Parlamentares republicanos e democratas expressaram nesta terça-feira preocupação pela visita do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, ao Brasil, no final do mês de novembro, onde será recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Estou preocupado com os avanços diplomáticos do presidente Lula com o presidente iraniano Ahmadinejad", declarou durante uma audiência no Congresso o chefe do subcomitê sobre América Latina, o democrata Eliot Engel.

El País: Qual a sua opinião sobre os crescentes gastos da Venezuela em armamentos?
Jobim:
Esse é um assunto da Venezuela. Nós não podemos lhes dizer o que devem fazer. A Venezuela deve decidir seu próprio caminho. O presidente Chávez tem a legitimidade democrática, porque foi eleito para isso, para tomar decisões. Eu não creio que a posição do presidente Chávez seja para atacar ou agredir alguém.

El País: Então não lhes incomoda que a Venezuela compre cada vez mais armamentos?
Jobim:
Não, absolutamente. As relações do presidente Chávez com o Brasil são muito boas. Há questões como a Alba, a questão bolivariana, da qual não participamos, mas isso é um direito deles.

El País: Existe a necessidade de reconhecer que a multipolaridade é uma realidade?
Jobim:
Quando se derrubou o Muro de Berlim havia uma unipolaridade; depois o governo Bush confundiu a guerra com as cruzadas medievais e não compreendeu que havia uma multipolaridade. A gestão dos EUA com a América do Sul passa por um problema: seu tratamento do povo cubano. Toda a sua política de embargo a Cuba gerou três coisas: um país muito pobre, um povo muito orgulhoso e a grande desconfiança da América do Sul. A visão que se tem dos EUA na América do Sul é condicionada por Cuba.

El País: Em questão de um ano os EUA instauraram a Quarta Frota; depois o assunto das bases na Colômbia. Que riscos tem para o Brasil a presença militar norte-americana na América do Sul?

Jobim:
A presença militar dos EUA é muito antiga. Primeiro estiveram em Manta, no Equador. Agora na Colômbia, para apoio logístico na luta contra o narcotráfico e as Farc, não para atacar outra parte. Para nós não há nenhum problema. Com a Quarta Frota se fez muito barulho. Mas agora está consolidada mais como um fator administrativo interno dos EUA. Mesmo assim, se eles decidirem instaurar uma frota é um assunto deles. É como se o Brasil decidisse incrementar substancialmente sua presença militar na Amazônia; é uma questão brasileira e eu não teria de perguntar aos EUA.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Mundo tem quase 1 bilhão de migrantes

Bancoc, 05/10/2009

Relatório do PNUD aponta que maioria deles (740 milhões) se desloca dentro do próprio país e só 30% emigram de países pobres para ricos

Reprodução
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do PNUD

Permitir a migração – tanto dentro como para fora de fronteiras – poderá aumentar a liberdade das pessoas e melhorar as vidas de milhões de indivíduos em todo o mundo, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2009, lançado nesta segunda-feira.

Vivemos num mundo altamente móvel, onde a migração não só é inevitável mas também corresponde a uma dimensão importante do desenvolvimento humano. Quase 1 bilhões de pessoas – ou uma em cada sete – são migrantes. O relatório, Ultrapassar Barreiras: Mobilidade e desenvolvimento humanos, demonstra o modo como a migração pode otimizar o desenvolvimento humano em relação às pessoas que se deslocam, às comunidades de destino e àqueles que permanecem nos seus lares.

“A migração pode ser uma força positiva, contribuindo significativamente para o desenvolvimento humano”, diz a administradora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Helen Clark. “Mas, para apreendermos os seus benefícios, é necessário haver um ambiente político que a apoie, tal como sugere este relatório.”

De fato, a migração poderá significar um aumento dos rendimentos de um indivíduo, assim como melhorar as suas perspectivas em termos de saúde e de educação. E, o que é mais importante, ou seja, poder decidir onde viver, é um elemento crucial da liberdade humana, de acordo com o Relatório, em que também se defende que é possível atingir enormes benefícios para o desenvolvimento humano ao baixar as barreiras, bem como outras restrições à migração, e melhorar as políticas para os migrantes.

Contudo, a migração não traz sempre benefícios. O ponto a que as pessoas poderão beneficiar com a migração depende em grande medida das condições sob as quais se deslocam. As despesas poderão atingir níveis consideráveis e as deslocações envolvem inevitavelmente incertezas e a separação de famílias. Os pobres são muitas vezes restringidos pela sua falta de recursos e de informação, e por barreiras que lhes são impostas nas suas novas comunidades e países de acolhimento. As deslocações refletem repercussões de conflitos, desastres naturais e graves dificuldades económicas para demasiadas pessoas. Algumas mulheres são apanhadas em redes de tráfico, perdem liberdades significativas e sofrem perigos físicos.

Esta é a última publicação de uma série de Relatórios de Desenvolvimento Humano globais que visam enquadrar os debates sobre alguns dos problemas mais prementes que ameaçam a humanidade, desde as alterações climáticas até aos direitos humanos. Trata-se de um relatório independente elaborado sob o auspicio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Jeni Klugman é a principal autora do relatório de 2009.

Desafiar mitos comuns

As conclusões a que este relatório chegou lançam uma nova luz sobre alguns mitos comuns. Com efeito, a maioria dos migrantes não transpõe as fronteiras nacionais, deslocando-se, pelo contrário, dentro dos limites do seu próprio país: 740 milhões de pessoas são migrantes internos, quase quatro vezes mais o número de migrantes internacionais. Entre os migrantes internacionais, menos de 30% deslocam-se de países em desenvolvimento para países desenvolvidos. Por exemplo, apenas 3% dos africanos vivem fora do país onde nasceram.

Ao contrário do que normalmente se acredita, os migrantes estimulam a produtividade económica e dão mais do que aquilo que recebem. Investigações detalhadas mostram que a imigração aumenta geralmente o emprego junto das comunidades de acolhimento, não expulsa os nativos do seu mercado de trabalho e melhora as taxas de investimento em novos negócios e iniciativas. De uma maneira geral, o impacto dos migrantes nas finanças públicas – tanto ao nível nacional como local – é relativamente pequeno, e existem claras evidências que apontam para benefícios em outras áreas como a diversidade social e a capacidade de inovação.

Os autores demonstram que os benefícios para as pessoas que migram poderão ser enormes. Segundo as pesquisas realizadas, os migrantes dos países mais pobres que se mudaram para países desenvolvidos viram os seus rendimentos aumentar, em média, para valores 15 vezes superiores relativamente às quantias que auferiam antes de terem migrado, testemunharam um desenvolvimento na educação com um aumento para o dobro nas taxas de escolarização e uma diminuição da mortalidade infantil para valores 16 vezes inferiores aos registrados anteriormente.

Relações com o desenvolvimento

Para os países de onde os migrantes provêm, o Relatório alerta para o fato de a migração não substituir o desenvolvimento. Contudo, a mobilidade traz frequentemente novas ideias, conhecimento e recursos – tanto para os migrantes como para os países de origem – que poderão complementar e até otimizar o desenvolvimento humano e econôico. Em muitos países, o dinheiro que os migrantes enviam para os seus países excede a ajuda pública.

Os benefícios dos migrantes são muitas vezes partilhados com as suas famílias e comunidades dos seus países de origem. Em muitos casos, estes benefícios surgem sob a forma monetária – remessas –, mas as famílias dos migrantes poderão beneficiar de outros modos também. Estas “remessas sociais”, tal como são chamadas, incluem reduções na fertilidade, taxas de escolarização mais elevadas e o aumento da participação das mulheres.

O relatório também defende que a saída de trabalhadores altamente qualificados, tais como médicos, enfermeiros e professores – uma preocupação central de uma série de países em desenvolvimento que está a perder estes profissionais – é sobretudo um sintoma, mais do que uma causa, da existência de sistemas públicos inadequados.

Quando integrada em estratégias de desenvolvimento nacionais mais amplas, a migração complementa os esforços locais e nacionais no sentido de reduzir a pobreza e otimizar o desenvolvimento social e econômico.

Baixar as Barreiras

O Relatório Ultrapassar Barreiras traça um pacote principal de reformas assentes em seis “pilares” que apelam às seguintes medidas:

• Abertura dos canais de entrada existentes para mais trabalhadores, sobretudo os menos qualificados;

• Assegurar os direitos humanos básicos aos migrantes, desde o acesso a serviços básicos como a educação e os serviços de assistência médica até ao direito ao voto;

• Reduzir as despesas de transação da migração;

• Encontrar soluções em parceria que beneficiem tanto as comunidades de destino como os migrantes,

• Facilitar a migração interna;

• Incluir a migração como uma componente das estratégias de desenvolvimento dos países de origem.

Em termos da migração internacional, o Relatório não defende uma liberalização total, uma vez que as pessoas nos locais de destino têm o direito de poder determinar os contornos da sua sociedade; mas postula que existem fortes motivos para aumentar o acesso em sectores com uma elevada procura de mão de obra, incluindo no que respeita a trabalhadores pouco qualificados. Esta questão é particularmente importante para os países desenvolvidos uma vez que as suas populações estão a envelhecer – e isso poderá aumentar a procura de trabalhadores migrantes.

Facilitar o acesso e reduzir o custo dos documentos oficiais são outros passos importantes em direcção a um baixar de barreiras relativamente à migração legal. De acordo com o Relatório, racionalizar toda a burocracia ajudará a obstruir o fluxo de migrantes irregulares, uma vez que as pessoas reconhecerão ser mais fácil e menos dispendioso usar os canais legais.

Em Ultrapassar Barreiras também se apela aos países de destino para que tomem medidas no sentido de acabar com a discriminação em relação aos migrantes. O Relatório sublinha a importância de abordar as preocupações dos residentes nativos e despertar as consciências para os direitos dos migrantes, assim como de trabalhar em conjunto com as entidades empregadoras, sindicatos e grupos comunitários para combater a xenofobia.

Apesar de existirem casos de intolerância, as pesquisas realizadas pelo PNUD para o Relatório demonstram que as pessoas dos países de destino apoiam geralmente o aumento da migração, desde que haja empregos disponíveis, e apreciam os benefícios – econômicos, sociais e culturais – que um aumento da diversidade poderá proporcionar.

Tempo de ação

A recessão mundial transformou-se rapidamente numa crise do emprego – e as crises do emprego são geralmente uma má notícia para os migrantes. Numa série de áreas, o número de novos migrantes é reduzido, sendo que em alguns países de destinos se estão a tomar medidas para encorajar ou compelir os migrantes a partir. Mas, segundo o Relatório, agora é tempo de acção.

“A recessão deve ser vista como uma oportunidade para se instituir um novo acordo para os migrantes – um acordo que beneficie os trabalhadores nos seus países e no estrangeiro ao mesmo tempo que evita um retrocesso protecionista”, diz a autora principal do Relatório, Jeni Klugman. “Com a retoma, muitas das tendências que haviam motivado as migrações durante a segunda metade do século passado surgirão novamente, levando a que mais pessoas queiram migrar.”

As pessoas vão necessariamente deslocar-se e, por conseguinte, em Ultrapassar Barreiras fornece-se as ferramentas para melhor gerir a inevitável mobilidade humana, estabelecendo-se princípios e directrizes para os destinos de imigração mais tradicionais, tais como os Estados Unidos e a Europa, e para os novos pólos de migração, tais como a Costa Rica, Marrocos e Tailândia. O pacote de reformas avançado em Ultrapassar Barreiras depende de uma avaliação realista das condições económicas e sociais e do reconhecimento da opinião pública e de outras restrições políticas. Porém, com coragem política, todas aquelas reformas são exequíveis.