segunda-feira, 21 de abril de 2008

Observatório da Imprensa

ENTREVISTA / BETO ALMEIDA
Terrorismo midiático

Por IHU Online em 15/4/2008

Reproduzido da IHU Online, revista eletrônica do Instituto Humanitas Unisinos, 11/4/2008

Caracas foi palco, em março deste ano, de um encontro que se colocou contra o terrorismo midiático feito pelos grandes conglomerados comunicacionais na América Latina e no mundo, principalmente promovido pelos Estados Unidos. E, diferente do que se possa pensar, o terrorismo midiático não é algo recente. O jornalista Beto Almeida, em artigo produzido após este evento, retoma casos de meios de comunicação promovendo terrorismo no Brasil já na época do governo Vargas. "Todo o terrorismo midiático que se faz contra Chávez, Rafael Correa, Evo Morales, contra o Lula, contra o Kirchner não foi suficiente para derrubá-los, pois eles estão conseguindo impor suas conquistas e seus planos", comentou o jornalista, durante a entrevista que concedeu à IHU Online por telefone.

Almeida falou ainda sobre exemplos caricatos de terrorismo midiático hoje, de como as mídias alternativas podem contribuir para acabar com esse tipo de prática e sobre crise econômica dos Estados Unidos que, para ele, pode ser uma chance de desestabilizar a influência que esse país tem sobre os latino-americanos. "Por que vamos depender do dólar se ele, além de não ter lastro, está derretendo a si mesmo?", questionou.

Beto Almeida é presidente da TV Cidade Livre de Brasília, âncora da TV Paraná Educativa, membro da junta diretiva da Televisión del Sur (TeleSur), uma rede de televisão multi-estatal pan-latino-americana com sede na Venezuela, e é, também, membro do conselho editorial da agência Brasil de Fato.

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Quem pratica o terrorismo midiático hoje?

Beto Almeida – Os grandes meios de comunicação, os conglomerados de comunicação, controlam o grande fluxo e esses praticam, em alguma medida, formas de terrorismo midiático. Isso porque eles estão na sua estrutura de sustentação financeira registrando duas características fundamentais. A primeira é a de que refletem a concentração do sistema capitalista nessa fase imperialista, ou seja, também registram um movimento de concentração. A segunda é a de que são conglomerados, ou seja, não são apenas empresas de comunicação, mas também empresas financeiras, gravadoras, ligadas a outros ramos, especialmente ao mais dinâmico e mais lucrativo da economia mundial hoje, que é o da indústria bélica. Por isso, eles têm uma especial sensibilidade para a pauta da instabilidade das tensões dos conflitos, das guerras. O exemplo mais acachapante disso é que eles justificaram editorialmente a ocupação militar estadunidense e inglesa no Iraque a partir de uma mentira, de uma forma de terrorismo, portanto. Eles intimidaram a opinião pública mundial, com uma idéia falsa de que havia armas de destruição em massa nesse país, o que, portanto, justificaria uma ação militar. É claro que as empresas que fazem parte da sustentação financeira do corpo acionário dessa indústria midiática internacional saíram com altos lucros em razão desse movimento militar. Há, então, uma vinculação belical entre informação e lucratividade da indústria bélica. Por isso, eles praticam em boa medida uma linha editorial que nós convencionamos chamar de terrorismo midiático. Uma prova disso é que o New York Times (1), um tempo depois de interpretada a ocupação militar no Iraque, pediu desculpas aos seus leitores, dizendo que não tinha como comprovar a notícia que veiculara sobre a existência de armas de destruição em massa.

Confira a entrevista no site:

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=481JDB014

18/4/2008 01:04:00

Gustavo Barreto: O que está em jogo
Jornalista e integrante do Movimento Humanista

Rio - Têm chamado atenção os protestos a nível global contra o governo da China, pouco antes do início dos Jogos Olímpicos de Pequim. O evento entrou no palco do debate público por meio das manifestações de monges budistas adeptos da não-violência e de outras minorias, que exigem respeito aos direitos fundamentais.

A participação nos Jogos é o maior feito possível para um atleta e um boicote pleno poderia representar a ruína de milhares de sonhos. Por outro lado, os esportistas não podem ignorar o contexto social e a força dos protestos mundiais. O governo chinês, que considera o boicote um "show político", argumenta que oportunistas se aproveitam de sentimentos de identidade cultural para obter benefícios particulares.

O Tibete, invadido pela China em 1951, tem 2.300 anos, e a população possui idioma, legislação, etnia e religião próprias. Não são meros rebeldes que protestam contra um governo central e poderiam ser cooptados por líderes mal-intencionados. O território é riquíssimo em minerais e os rios que lá nascem banham praticamente toda a Ásia Central. Estão em jogo a soberania de um povo e interesses econômicos.

Cada povo possui raízes históricas para realizar ações de desobediência civil, tal como fez Mahatma Gandhi na Índia. É preciso um esforço para entender cada situação. Não cabe, portanto, a um ou outro intelectual iluminado determinar o que é válido, pois a idéia do boicote aos Jogos está consolidada em todo o mundo — ao ponto de os maiores líderes serem obrigados a se posicionar a respeito, contra ou a favor. O pano de fundo é uma cultura milenar de um povo que não se submete ao imperialismo cultural, militar ou político.

http://odia.terra.com.br/opiniao/htm/gustavo_barreto_o_que_esta_em_jogo_165500.asp