terça-feira, 11 de março de 2008

Aí vai o resultado da correira, a matéria de rádio ficou modificada:


“Após sete horas de detenção a gente pôde falar para os nossos pais que a gente estava vivo”, relatou Pedro Luiz, de 25 anos, ao desembarcar hoje (8) no aeroporto internacional Tom Jobim no Rio de Janeiro, após dois dias em que esteve detido pelo governo espanhol no aeroporto internacional de Barajas em Madri, na capital da Espanha.

Os dois brasileiros Pedro Luiz Lima, de 25 anos, e Patrícia Rangel, de 23, são estudantes de pós-graduação pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, o IUPERJ, e saíram na última 3a feira, com destino a Lisboa em Portugal, mas fariam escala no aeroporto de Madri. Lá eles foram barrados pela polícia e imepdidos de seguir viagem.

“Tinha momentos de sobriedade, de choro e nervosismo a flor da pele. E a Patrícia começou a chorar copiosamente, e tinha um guarda falando alto pedindo para entrar na sala, eu falei para ele que nós somos humanos, não somos cachorros e ele falou ‘parecem como cachorros aí sentados no chão'”, contou Pedro Luiz.

O vôo estava previsto para aterrissar no início da noite desta 6a feira, mas os parentes que os aguardavam no aeroporto tiveram que esperar pelo menos duas horas para o reencontro. Pedro e Patrícia tiveram que ser entrevistados pela Polícia Federal ao chegarem no Brasil.

Pedro Luiz disse que ficaram detidos 27 horas sem saber o motivo e do que eram acusados. Ele conta que outros brasileiros e latino-americanos também foram barrados e interrogados.

“27 horas depois de detidos foi a primeira vez que falamos com alguém na entrevista, e nesse momento eu pude dizer que a gente era estudante de pós-graduação e a gente estava inscrito para participar de um congresso. O procedimento depende do julgamento subjetivo do guarda de fronteira. Eles barram muitos brasileiros”.

Pedro falou que ele e Patrícia foram os únicos brasileiros que ficaram dois dias esperando para serem extraditados.

“A discriminação de nacionalidade é muito mais por uma questão da União Européia que está se fechando cada vez mais para os países pobres. A paranóia européia é responsável pela extradição de tantos brasileiros e latino-americanos muitos deles querendo fazer turismo. Eles passaram por cima de um Estado de direito”.

Pedro Luiz disse ainda que defende a política de reciprocidade, pois segundo ele os brasileiros sofrem discriminação quando chegam na Europa.

“Na Espanha eu não piso. Eu queria deixar claro, eu ano tenho nada contra os espanhóis, mas defendo uma política de reciprocidade, apesar de ser dramática porque são pessoas que estão sofrendo coisas semelhantes às que eu sofri”.

Dia de Cão


"Não sei como ou por que escolhi essa profissão - jornalismo. Eu simplesmente escolhi. Talvez haja alguma explicação psicológica ou que possa ser explicada na minha psiquê ou no meu subconsciente. Ser jornalista - ou você é ou você não é. Não existe meio termo, não se pode estar jornalista e deixar de estar outra hora. Não é um estado, é uma essência. Mas também existem jornalistas e jornalistas - ninguém nunca é igual.

Sinto necessidade de escrever, de contar. Estou agora num ônibus a caminho de São Paulo; são meia noite de sexta para sábado (8 de março). Ainda estou com meu coração a mil. Sei que preciso descansar, estou exausta. A semana não foi fácil, e hoje (ou melhor ontem, tenho a sensação de que o dia ainda não acabou), a tarde foi barra.

A minha "missão" era cobrir o retorno e o reencontro da família de dois brasileiros deportados da Espanha que chegariam no início da noite de 6a feira no aeroporto internacional do Rio.

Cheguei no portão de embarque na hora prevista, 18h40, o vôo estava atrasado uma hora. Foi até um momento descontraído, conversamos (eu e o resto da imprensa que estava de cão de guarda). Falamos, rimos. Todos simpáticos jogando conversa fora.

20h - os passageiros do vôo 6025 começam a sair pelo portão de desembarque. Todos a postos, a qualquer momento os dois poderiam chegar. E nada, já 9h40, não havia mais ninguém, tripulantes e passageiros, todos já saíram. Sobramos nós e a família.

A mãe se desespera quando avisam que não havia mais ninguém no vôo, todos já tinham ido. A imprensa começa a registrar o desespero da mãe e todos os passos da família pelo aeroporto. É um tal de sobe e desce as escadas para ir a caminho da Polícia Federal, do balcão da empresa de aviação Iberia... e a imprensa na cola.

Uma cena patética: cinegrafistas correndo desesperados para acompanhar os passos e registrar a fúria dos pais e os repórteres correndo na aba de um lado para o outro no aeroporto.

Até que no meio de toda a agitação e desespero e desamparo - até a para a imprensa, acreditem, depois de tanto tempo de espera e os extraditados não chegavam... a situação se transformou num caos, ninguém mais sabia o que ia acontecer e para onde ir.

Até que chega uma notícia de que os jovens passaram por um interrogatório da PF ao aterrissar no Brasil, mas já estavam saindo no portão. Aí toca a correria para voltar ao local. E... o alívio para todos... eles haviam chegado.

Patrícia não quis se pronunciar. A imprensa inteira foi para cima de Pedro, que falou por quase meia hora.

Por isso digo que há jornalistas e jornalistas. No começo, todos são legais, cordiais, na hora do "pega pa capá" o pau come, é um empurra pra lá e puxa pra cá... cinegrafista tentando gravar imagem, rádio tentando pegar o depoimento. Uma loucura, um hospício. Sem contar a troca de elogios e a falta de cordialidade, ou melhor, de civilidade. Incrível.

O depoimento foi bom... pelo menos valeu a pena ter esperado tanto tempo. Saí 22h, suada com as pernas bambas, braços tremendo de segurar o gravador a uma distância não muito confortável e esboçando um rascunho de matéria.

Coitado, o motorista me esperou horas a fio, me levou para casa, e me levou para a rodoviária. Santo Suzarte (seu nome). Passei em casa num piscar de olhos. Arranjei forças para escrever a matéria para o rádio. O tempo corria contra. Gostaria de ter me aprofundado em algumas questões, mas infelizmente não deu. Fiz o que as minhas forças e energias deixaram. Gravei por telefone, separei sonoras, transcrevia.... UFF! Que dia!

Eram quase meia-noite. Lembrei que Suzarte estava me esperando, que eu não tinha comido nem bebdio (nem almoço ou jantar), e que ainda tinha que viajar.

Tomei uma chuveirada, arrumei as tralhas, fiz um sanduíche capenga e me mandei.

Sinto a necessidade de escrever e contar o que vi. Isso, na verdade, renderia várias matérias sobre o assunto. Mas a falta de tempo, o cansaço, a cabeça, nada contribuiu. Tentei reunir o máximo de informações possível, mas sei que faltou muita coisa. Mas fiz o que pude.

Já estou no ônibus a caminho de São Paulo para fazer um curso nesse fim de semana de uma revista. Vai dar tudo certo.

... realmente não sei por que escolhi ser jornalista, eu apenas sou. Mas sei também que a minha ânsia o meu namoro, pois a minha vida pessoal se mistura com a profissional. Quantas vezes o meu relacionamento não foi barrado e adiado por uma matéria ou cobertura ou curso que eu tinha que fazer. Pois é, tenho que consciência de tudo isso, mas não posso evitar. É o que sou."


Sábado, 8 de março, 0h25.

Brasileiros deportados

7 de Março de 2008 - 19h46

Fabíola Ortiz
Da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Dois brasileiros que foram repatriados ao desembarcarem no Aeroporto Internacional de Barajas, em Madri, chegam hoje à noite (7) ao Rio de Janeiro.

Pedro Luiz Lima, 25 anos, e Patrícia Rangel, 23 anos, são estudantes de pós-graduação do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e saíram na última terça-feira (4) com destino a Lisboa, em Portugal, com escala na capital espanhola, onde acabaram barrados pela polícia e mandados de volta ao Brasil.

O pai de Pedro Luiz, o historiador Luiz Carlos Lima, disse que os jovens passaram por humilhações, foram maltratados e sofreram discriminação por serem brasileiros.

"O Pedro Luiz nunca soube onde estava, chegaram no aeroporto espanhol e foram jogados dentro de um ônibus com policiais e com pastores alemães. Ele ficou dez horas sem comunicação, sem se alimentar e sem alimentar", disse Luiz Carlos.

Pedro Luiz e Patrícia estavam com outros 38 brasileiros detidos pelo governo espanhol. Os dois jovens dormiram duas noites em um alojamento e estavam sem as bagagens e pertences pessoais.

"Ele [Pedro] conta que foi destratado e humilhado. Num certo momento, a humilhação foi tanto que a Patrícia sentou no chão e começou a chorar. O Pedro virou para o policial e disse você está nos tratando como cachorros, o policial virou para eles e disse assim, vocês são cachorros", contou Luiz Carlos.

Segundo Luiz, os dois estudantes estavam com o passaporte e os documentos em dia e tinham dinheiro suficiente para a estadia em Portugal. A bagagem, no entanto, foi mandada para a capital portuguesa. "Nem sei como vamos fazer para resgatar as malas e ainda estamos pagando a viagem dele", lamentou.

Patrícia e Pedro tiveram seus trabalhos selecionados pela Associação Portuguesa de Ciência Política e iriam representar o Brasil no congresso.

Inconformado, o pai de Pedro Luiz diz que não pretende viajar mais para a Espanha e não utilizar mais os serviços da companhia de aviação espanhola. "Como cidadão brasileiro, jamais porei meus pés na Espanha de novo", afirmou Luiz Carlos.

Secretaria Especial dos Direitos Humanos acompanhará obras do PAC em favelas do Rio

10 de Março de 2008 - 20h56 - Última modificação em 10 de Março de 2008 - 20h56

Fabíola Ortiz
Da Agência Brasil


Rio de Janeiro - As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) nas favelas cariocas vão ser acompanhadas pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos. A informação foi dada hoje (10) pelo ministro Paulo Vanucchi, após a aula inaugural na Escola Nacional de Ciências e Estatísticas (Ence) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Vanucchi explicou que não se trata de uma ação de fiscalização. Segundo ele, a secretaria pretende apurar, por intermédio de ouvidorias, eventuais casos de irregularidades ou de violação de direitos humanos que ocorram durante as obras. "Isso [monitorar] daria uma idéia inadequada de fiscalização. Qualquer problema que haja nas obras do PAC, através das ouvidorias, nós vamos apurar. A idéia de ter alguém da secretaria é a idéia de um fiscal, e não precisa."

O ministro lembrou que o Ministério da Justiça, a Casa Civil e a Secretaria Nacional de Segurança Pública estão integrados, vão acompanhar e tomar as providências. "Vamos atuar com a independência de sempre cumprir a nossa função, que é defender e proteger os direitos humanos", disse.

De acordo com Vanucchi, a impunidade é um dos maiores desafios dos direitos humanos no Brasil. "Os direitos humanos têm que exercer um papel de educação a longo prazo - para prevenção, é preciso haver punição. A impunidade gera uma situação
que é um estímulo à irregularidade e ao delito. O problema da impunidade no Brasil é muito grave."

O presidente do IBGE, Eduardo Nunes, afirmou que a construção de um sistema de indicadores sociais, trabalho a ser realizado pelo instituto, vai ampliar o debate sobre o tema dos direitos humanos, mapear quem são as vítimas que sofrem com a violação desses direitos e favorecer a implantação de políticas públicas.

O ministro Paulo Vanucchi também defendeu o Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania (Pronasci) como uma ferramenta para humanizar a atuação da polícia brasileira. "É a primeira vez que o Brasil vai ter um programa de segurança pública, enfrentar aquele que seja talvez o maior problema brasileiros na atualidade: a violência."

Ele ressaltou que é a primeira vez que se articula um plano nacional, com adesão voluntária dos estados, prevendo a interligação de ações de segurança pública para enfrentar o crime nos marcos da lei. "Não se pode derrotar o crime com o crime", disse ele.

Estão sendo comemorados neste ano os 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos, assinada em 1948. O Brasil é autor da proposta de construir metas mundiais em direitos humanos na Organização das Nações Unidas (ONU). "A proposta brasileira é muito importante. Em dezembro [de 2007], foi aprovada no Conselho de Direitos Humanos da ONU, com o co-patrocínio de 26 países. E talvez seja aprovado em setembro um pequeno bloco de metas universais em direitos humanos, inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, em 2000".

Vanucchi disse que o Brasil lidera a construção do projeto, que é difícil, exige uma engenharia delicada. "É um extraordinário passo adiante, que é mérito do Brasil", ressaltou.