sexta-feira, 28 de março de 2008

Jornalismo de Políticas Públicas Sociais, NETCCON.ECO.UFRJ:

Coelho Sobrinho afirma que a intenção do jornalista precisa ser guiada pela ética, pois seu compromisso maior é com a Sociedade e não com a empresa

Para o Prof. José Coelho Sobrinho –doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo-USP, o fazer jornalístico, como diz Carlos Chaparro, está na esfera do interesse público e tem uma função social: “se a intenção controla conscientemente o fazer, e se a ação –como acontece com o jornalismo– está na esfera do interesse público, então intenção impõe o caráter moral ao fazer, e esse caráter moral, determinante da natureza e do desenvolvimento da ação, deve estar conectado a um princípio ético orientador– sem o que a ação jornalística não cumprirá a contento sua função social. Os comportamentos e as ações sociais derivadas dos atos comunicativos do jornalismo realimentam o processo social, provocando transformações nos cenários da atualidade e da ordenação ética e moral da sociedade”.

“Falar da natureza, não altera a natureza; falar do homem altera o homem”. “A informação tem valor jornalístico quando produz alterações significativas na realidade presente das pessoas”. Foi com estas citações de Norbert Wiener e Manuel Carlos Chaparro que o Prof. José Coelho Sobrinho, coordenador na USP de uma disciplina irmã da Jornalismo de Políticas Públicas Sociais oferecida pelo NETCCON/UFRJ em convênio com a ANDI– deu início a mais uma palestra no dia 24 (segunda-feira), no auditório da Central de Produção Multimídia (CPM) na Escola de Comunicação da UFRJ, para um público de mais de 90 pessoas.

Prof. Coelho defende o conceito de jornalismo como um direito do cidadão: “O jornalismo não é meramente uma profissão, ele é um direito fundamental do cidadão”, e trabalhou em sua palestra uma avaliação teórica do que é o fato jornalístico e a pesquisa empírica de dois jornais de circulação gratuita em São Paulo, Destak e Metro, que têm, respectivamente, uma circulação diária de 200 mil e 150 mil exemplares.

O fato jornalístico, como entende Coelho, é um encadeamento de ações que se relacionam e interagem entre si: “O fato para o jornalismo é uma informação escolhida intencionalmente pelo jornalista por ser de interesse de seu público”, e isto é muita responsabilidade, pois, como mostra o conceito de agenda setting,as pessoas agendam seus assuntos e suas conversas em função do que a mídia veicula”.

Os fatos, para o professor são recortados e construídos obedecendo a determinações ao mesmo tempo objetivas e subjetivas. Citando Genro Filho, “a objetividade oferece uma multidão infinita de aspectos, nuances, dimensões e combinações possíveis de serem selecionadas. O conceito de fato, porém, implica a percepção social dessa objetividade. Os fatos jornalísticos são um recorte do fluxo contínuo, uma parte que, em certa medida, é separada arbitrariamente do todo”.

“Para a gente, o fato é o que está ocorrendo agora, é um encadeamento de ações que se relacionam e interagem. O fato tem um contexto que é importante para o jornalista, ele deve estar conectado com o principio ético”, destacou Sobrinho. Para ele, o jornalista deve cumprir a sua ação social – ele é um “agente transformador da informação em fato jornalístico” e está, insistiu muito, na esfera do interesse público, do “interesse do seu público”.

Coelho Sobrinho realiza uma distinção entre a natureza e a forma do jornalismo para entender a sua verdadeira essência – é preciso fazer uma “discussão da prática do jornalismo, pois o seu exercício tem sido analisado de forma equivocada”, disse o especialista. E ainda acrescenta: “antes da profissão você tem um compromisso com o seu público e não com a empresa. O jornalismo se alimenta de conhecimentos que devem ser informados, e isso é o que forma o tecido social. O jornalismo se usa de determinados parâmetros para produzir alterações significativas, não existe jornalismo se você não tem a intenção de fazer com que a sociedade mude. O jornalismo não é a determinação do patrão. Nós fazemos parte daquilo que é público. Por isso, há uma grande distância entre ser um jornalista e um profissional de comunicação”.

Sobrinho admite que “o que deve ser publicado obedece a critérios de publicação jornalísticas, e é neste momento que o jornalista exerce o seu maior poder: o de decidir”. Segundo o especialista, “o jornal é uma atividade, um elemento ligado ao interesse público. Não existe objetividade nem do repórter nem do jornalismo. O jornal nos impõe limites, mas dentro deles o jornalista tem que ser criativo. A pauta é início da edição em que os fatos deverão se tornar jornalísticos”, e se questiona: “se o dono do jornal não é objetivo, como ele quer que o jornalista o seja?”.

Em sua pesquisa que analisou dois jornais de distribuição gratuita, Destak e Metro, para as classes A e B em São Paulo, o Prof Coelho Sobrinho subdividiu as matérias em 18 categorias, entre elas as que falavam sobre comportamento, ciência e tecnologia, direitos humanos e trabalhistas, educação, economia e finanças, ecologia e meio ambiente, entretenimento e cultura, segurança, política, saúde, justiça e turismo. De acordo com a análise os temas mais abordados no primeiro jornal Destak foram catástrofes e desastres (CD), cultura e espetáculos (CE), economia e finanças (EF), esportes (ES) e serviço público (SP). Já os assuntos menos abordados, que tiveram um índice muito baixo de matérias foram sobre ciência e tecnologia (CT), direitos humanos e trabalhistas (DH e DT), educação (ED), ecologia e meio ambiente (EM), saúde (AS), turismo (TU) e justiça (JU).

Os resultados da análise do jornal Metro que também concorre com o mesmo público-alvo do Destak se assemelham em alguns pontos, mas divergem em outros. Nos temas mais abordados estão em primeiro lugar esporte (ES), seguido de entretenimento (EN), economia e finanças (EF) e política (PO). Matérias como polícia e segurança (PS), serviço público (SP), cultura e espetáculos (CE) e comportamento (CO) já não são tão comuns, mas ainda figuram em um patamar mediano. Os temas muito raramente abordados são: justiça (JU), tempo (TE), turismo (TU), educação (ED), saúde (SA), direitos humanos (DH), ciência e tecnologia (CT) e catástrofes e desastres (CD). E por último, direitos trabalhistas (DT) que quase nunca é um assunto em pauta.

O Prof Evandro Vieira Ouriques, coordenador da disciplina e curso de extensão de Jornalismo de Políticas Públicas Sociais na UFRJ, também está de acordo com o pensamento do Prof José Coelho Sobrinho e questiona o papel do jornalista: “se você não é um comunicador-cidadão, conceito que precisei cunhar para tratar deste assunto tão decisivo, como é possível ser um jornalista e um comunicador que trabalha com políticas públicas sociais? O jornalista precisa optar por ter um jornalismo mais amplo. O que há não é uma comunicação-cidadã, há simplesmente uma contribuição para a causação circular da violência”, destacou ao relembrar a palestra do Prof. Misse (no dia 17 de março) quando o especialista em conflito e violência urbana afirmou que a violência no Rio de Janeiro é resultado de uma acumulação social da qual participam vários atores, entre eles a mídia.*Esta disciplina, oferecida aos alunos da Universidade e à Sociedade em geral, é resultado do convênio entre o Programa Acadêmico do Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência-NETCCON/ECO/UFRJ, coordenado pelo Prof. Evandro Vieira Ouriques, e a Agência de Notícias dos Direitos da Infância-ANDI.

O Programa Acadêmico do NETCCON dedica-se às relações entre a mídia, a ética e a não-violência (no sentido de luta sem violência), tendo em vista o vigor da experiência de comunicação, da auto-construção da cidadania e da responsabilidade socioambiental na Mídia, na Política e nas organizações. Neste sentido o NETCCON criou e vem oferecendo há três anos consecutivos também a disciplina Construção de Estados Mentais Não-violentos na Mídia.

O Programa Acadêmico do NETCCON: Prover a Sociedade, sob a perspectiva das Ciências da Comunicação, com estudos e metodologias de prevenção e superação da violência, que contribuam para o salto de qualidade: (1) na cobertura midiática das Políticas Sociais e em sua gestão pública; (2) nas políticas e estratégias de Comunicação para a Responsabilidade Socioambiental; e (3) no padrão ético ("voz própria" e "vínculo") do trabalho de presença e colaboração nas Redes e Organizações. O NETCCON criou e oferece também a disciplina Comunicação, Construção de Estados Mentais e Não-violência, e está criando a disciplina Comunicação e Responsabilidade Socioambiental. Maiores informações sobre o NETCCON podem ser obtidas através de evouriques@terra.com.br.

Conheça mais sobre a disciplina aqui:
http://informacao.andi.org.br:8080/relAcademicas/site/visualizarConteudo.do?metodo=visualizarUniversidade&codigo=6

Palestras a serem realizadas em 2008/1:


Semana 5 (07/04):
Lições Africanas para a Igualdade na Diversidade Humana: a questão da não-violência.
Palestrantes: Mãe Beata de Iemanjá, Conceição Evaristo e Prof Evandro Vieira Ouriques.

Semana 6 (14/04): O Paradigma do Desenvolvimento Humano como orientador da cobertura.
Palestrante: Flavia Oliveira (O Globo)

Semana 7 (28/04): Orçamento nacional: As possibilidades de intervenção e orientação para o social.
Palestrante: Leonardo Mello (IBASE)

Semana 8 (05/05): O desafio de aumentar a presença das políticas públicas na grande imprensa.
Palestrante: Bia Barbosa (Intervozes)

Semana 9 (12/05): A cobertura das políticas públicas na área da Educação no Brasil.
Palestrante: Antônio Góis (Folha de S. Paulo)

Semana 10 (19/05): Cobertura de qualidade em meio à violência estrutural: A força política da não-violência e a responsabilidade dos atores sociais e dos jornalistas.
Palestrante: Prof. Evandro Vieira Ouriques (NETCCON.ECO.UFRJ, NEF.PUC.SP)

Semana 11 (26/05): A Questão das Políticas Públicas Sociais e a Mídia Contra-hegemônica.
Palestrante: Paulo Lima (Viração)

Semana 12 (02/06): A Comunicação criada pela Periferia no Rio de Janeiro.
Palestrante: Prof. Augusto Gazir (Observatório de Favelas e ECO.UFRJ)

Semana 13 (09/06): O paradigma dos Direitos da Criança e do Adolescente: A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Palestrante: Wanderlino Nogueira Neto (ABONG)

Semana 14 (16/06): A Mídia e a Questão das Políticas Públicas Sociais no Brasil.
Palestrante: Guilherme Canela (ANDI)

Semana 15 (23/06): O Paradigma da Diversidade Cultural.
Palestrante:
Profa. Sílvia Ramos (CESEC)

Semana 16 (30/06): Jornalismo prospectivo e o futuro das políticas públicas sociais como pauta.
Palestrante: Rosa Alegria (NEF-PUC/SP, NETCCON.ECO.UFRJ, Millennium/UNU)

Palestras já realizadas em 2008/1:

Semana 1 (10/03): Interesse, Poder e Dádiva: a questão do domínio dos estados mentais e da generosidade na positivização da rede de comunicadores-cidadãos.
Palestrante: Prof. Evandro Vieira Ouriques (NETCCON.ECO.UFRJ, NEF.PUC.SP)

Semana 2 (17/03): A Violência que Acusa a Violência: a degradação de Si e do Outro através da Mídia.
Palestrante: Prof. Michel Misse (NECVU.IFCS.UFRJ)

Semana 3 (24/03): A Abordagem de Temas Sociais junto a Públicos Não-iniciados: o Caso dos Jornais de Grande Circulação e Distribuição Gratuita.
Palestrante:
Prof. José Coelho Sobrinho
(USP)

FNDC

Terrorismo midiático contra governos populares é debatido

26/03/2008 |
Redação
Agência Adital

Enquanto a Sociedade Interamericana de Imprensa se reúne para tratar de temas como liberdade de imprensa, tópico até então questionável em tempos onde cada vez mais os grupos de comunicação se impõem como poderes institucionais, Caracas também abrigará um encontro para debater um tema bastante urgente: o terrorismo midiático. Essa é a proposta do "I Encontro Latino-americano contra o terrorismo midiático" que começa na próxima sexta-feira (28). Jornalistas de 14 países latino-americanos devem participar.

O evento acontecerá no Centro de Estudos Latino-americanos Rómulo Gallegos (Celarg). Para Hugo Chávez, presidente da Venezuela, este é um tema que precisa ser amplamente discutido, "pois o terrorismo midiático utiliza seus meios, para gerar guerra, violência, temor e angústia nos povos".

Em entrevista a televisão estatal venezuelana, o Ministro de Comunicação e Informação, Andrés Izarra, disse que o problema do terrorismo midiático é enfrentado diariamente pelos governos progressistas da Venezuela, da Bolívia e do Equador.

Como exemplo, ele citou o acirramento diplomático envolvendo a Colômbia, Equador e Venezuela, quando da invasão de tropas colombianas em território equatoriano que resultou na morte de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo (FARC-EP). Jornais como o El País (espanhol), e El Tiempo (colombiano) tentaram relacionar o governo liderado por Rafael Correa com a guerrilha.

A "ditadura midiática" também será rechaçada numa marcha, programada para o dia 28, às 15h. A atividade também denunciará as ofensivas das SIP contra a Venezuela.

Para o diretor da Agência Bolivariana de Notícias (ABN), Freddy Fernández, a SIP tem sido "a ponta de lança da estratégia de dominação que pretendem Estados Unidos sobre o continente". A SIP defende os interesses dos oligopólios de comunicação, e se põe sempre a favor dos poderes conservadores, enquanto faz campanha pesada contra os governos democráticos e populares.

Entre os temas a serem discutidos no Encontro sobre o terrorismo midiático, está "Venezuela sob fogo midiático", no qual especialistas explicarão no que consiste o ataque contra Venezuela, como se organiza e qual foi o papel desempenhado pelos diferentes meios em todo o mundo.

No encontro da SIP - que será realizado no Caracas Palace Hotel -, para o qual o presidente venezuelano também foi convidado, será discutida a liberdade de imprensa nas Américas, além dos aspectos econômicos, éticos e profissionais dos jornalistas.

Em um relatório de forte teor político, sobre liberdade de imprensa na Venezuela em 2007, a SIP disse que o governo tenta suprimir "definitivamente" a liberdade de expressão e informação de jornalistas e meios de comunicação independentes. Segundo a entidade, o governo tenta controlar todos os poderes do Estado.

A Lei de Responsabilidade Social em Rádio e Televisão é vista pela SIP como uma tentativa de controlar o conteúdo dos meios rádio-eletrônicos independentes. O relatório criticou ainda o fechamento, em 27 de maio do ano passado, da Rádio Caracas Televisão (RCTV) e a não concessão de novas freqüências de transmissão à rede Globovisión. Em relação à liberdade dos jornalistas, a SIP denunciou perseguições, ameaças e até mortes.

http://www.fndc.org.br/internas.php?p=noticias&cont_key=238391