quarta-feira, 10 de junho de 2009

Rio Maracatu na Orla de Copacabana

Itamaraty vê acordos com países lusófonos como prioridade


10-06-2009 09:28:01


Rio de Janeiro, 10 jun (Lusa) - A cooperação técnica internacional com os países de língua portuguesa é uma prioridade da política externa brasileira, afirma o diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do ministério das Relações Exteriores.

Segundo o ministro Marco Farani, o projeto de cooperação técnica com a Televisão de Timor Leste (TvTL), único veículo televisivo no país, é o primeiro na área de comunicação realizado pelo Brasil que envolve o idioma.

“Este projeto com o Canal Futura é o primeiro na área de comunicação e o primeiro a envolver claramente a língua portuguesa”, afirmou o diretor da ABC ao realçar o papel dos meios de comunicação para a difusão, divulgação, penetração e construção de identidade.

Farani esteve no Rio de Janeiro na terça-feira para encontro de diretores dos canais de televisão do Brasil e de Timor para celebrar o acordo de cooperação técnica, que envolve o uso do acervo de programas do Canal Futura, assim como a formação de técnicos da TvTL, treino de jornalistas ao longo de 2009, até mesmo co-produções e exibição de materiais produzidos nos dois países.

Segundo o ministro, a cooperação brasileira é “muito bem recebida”, pois os projetos são discutidos em conjunto com os países beneficiários.

“O Brasil é um país muito bem recebido em todo lado. Nós só trabalhamos sob demanda. Nós criamos uma cooperação diferente, o Brasil é um dos países que criou a chamada cooperação Sul-Sul, uma cooperação horizontal que tem um caráter muito mais de solidariedade”, explicou Farani.

Cerca de 60% dos esforços da ABC estão concentrados na África com os países africanos de língua portuguesa (Palop). “Se incluir o Timor Leste, sobe para 74% a cooperação com África e Ásia de todos os nossos recursos destinados”, afirma.

O diretor da agência de cooperação destacou que para os próximos três anos serão investidos US$ 38 milhões em projetos para estes países.

A cooperação técnica, segundo Farani, é “fundamental” para a integração e contribui para que o Brasil tenha “uma presença mais importante e de qualidade junto aos países em desenvolvimento”.

Visibilidade

Farani destacou que o Brasil adquiriu visibilidade no cenário internacional. A cooperação, segundo disse, é um dos instrumentos de política externa e de políticas sociais e há um “interesse grande pelo Brasil, tanto dos países receptores de cooperação quanto dos prestadores”.

“Temos um milhão de áreas que o Brasil pode prestar cooperação, temos excelência técnica em muitas áreas, temos também boas políticas públicas que interessam muito aos outros países que não tiveram capacidade de formular”, afirmou.

Timor Leste, indicou Farani, é um dos países que tem o maior programa de cooperação com o Brasil e envolve centros de formação profissional, com um investimento da ordem de US$ 3,5 milhões, além de um programa de segurança alimentar resultado da visita do presidente Lula a Timor, em setembro de 2008, que articula áreas de agricultura, abastecimento, distribuição de alimentos, nutrição e pesca.

Atualmente, a ABC possui 260 projetos de cooperação técnica em execução no exterior em 46 países. Em 2008, foram realizadas ações em 58 países, e em apenas 12 deles foram iniciativas pontuais de cooperação.

Nos últimos seis anos, segundo o ministro, foram assinados cerca de 140 novos projetos em áreas diversas.

TV brasileira vai apoiar produção de conteúdo no Timor

10-06-2009 11:49:50

Rio de Janeiro, 10 jun (Lusa) - A nova parceria de cooperação técnica do Canal Futura com a Televisão de Timor Leste (TvTL), o único canal televisivo timorense, marca a tentativa de consolidar o uso da língua portuguesa no país asiático.

A parceria firmada entre os dois canais a convite da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, prevê, inicialmente, o uso do acervo de programas do Canal Futura, além da formação em serviço de técnicos da TvTL, treinamento de jornalistas, até mesmo co-produções e exibição de materiais produzidos nos dois países.

O objetivo, segundo João Alegria, gerente de programação e jornalismo do Canal Futura, é contribuir para o desenvolvimento institucional da TvTL numa perspectiva de “mão dupla, pois vamos fazer juntos e também receber programas e peças jornalísticas de Timor”.

Ele explica que a colaboração será realizada nas “residências de informação e serviço” com a ida de técnicos e jornalistas timorenses ao Brasil para trabalhar em equipe com os profissionais do Futura, que serão acompanhados por um tutor brasileiro, enquanto técnicos brasileiros irão ao Timor para capacitar e trabalhar em conjunto na produção de conteúdo local.

Em dois meses deverá começar a colaboração entre o jornal do Canal Futura e o telejornal timorense da TvTL, até agora único programa de 20 minutos da emissora.

O passo seguinte, indica Alegria, será a realização de três programas de curta duração com 10 episódios com uma construção em colaboração com os profissionais de Timor. “Para o fim do ano vamos tentar realizar uma primeira experiência de co-produção de uma série de cinco programas de meia hora de duração.”

Desafio

Para ele, o grande desafio é conceber uma grade de programação com conteúdo informativo, de entretenimento e educacional, “mas considerando um conjunto de características do país, das condições econômicas e sociais daquela população de maneira a fazer uma TV interessante e que possa ser assistida”.

Criada em 2002, a TvTL conta atualmente com 50 profissionais e tem uma produção local de cinco horas. O restante das 16 horas de programação em que o canal está no ar é preenchido por programas da RTPi (Rádio e Televisão Portuguesa Internacional).

Segundo António Dias, diretor geral do canal timorense que está no Rio de Janeiro para firmar a parceria, a TvTL pode ser um grande instrumento de difusão e consolidação da língua portuguesa no Timor, o segundo idioma oficial atrás do tetum, mas falado por apenas 15% da população.

A preocupação, afirma Dias, é fortalecer o canal timorense, mas sem perder a identidade. “A dificuldade que temos, nesse momento, é reintroduzir a língua portuguesa. A TvTL tem essa importante missão, temos muitas dificuldades, mas vamos ter um passo importante para atingir a meta”.

Para o diretor da TV timorense, o primeiro desafio é habituar os telespectadores com o idioma português, “não é tão fácil, vamos por etapas”.

“Confesso francamente que estamos a ter uma viagem longa. Estamos a procurar funcionar com standard, o que não temos até agora”, disse.

Cooperação

Dias ressalta ainda que a realização de parcerias internacionais como as que estão sendo feitas com o Brasil e com Portugal são “um passo marcante”.

“A questão nossa agora é trabalhar juntos com os nossos irmãos da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) para ultrapassar várias dificuldades que estamos a passar. Contamos com os nossos colegas, países de língua portuguesa, mais especialmente o Brasil e Portugal”.

Com uma população de cerca de um milhão de pessoas, Timor Leste é o país mais novo do mundo, tendo sua independência sido formalizada em 2002, após três anos em que esteve sob a administração das Nações Unidas.

A língua portuguesa foi re-introduzida em 1999, ano em que a resistência timorense pôs termo à ocupação da Indonésia, que durava desde 1975.

Além do idioma oficial ser também o português, a língua mais falada pelos timorenses é o tetum, mas o país ainda convive com outros 30 dialetos diferentes.

Costume

“O Brasil não está acostumado a ouvir a língua portuguesa [falada por não brasileiros]. Os brasileiros têm de começar a se acostumar a ouvir o português de outras partes”, afirma a gerente geral do Canal Futura, Lúcia Araújo, ao defender a realização de ações conjuntas no campo da comunicação com países lusófonos.

“Quiçá poderemos fazer isso com todos os países de língua portuguesa, é uma relação em que só temos a ganhar”, referindo as experiências que estão a ser feitas do Canal Futura com a Soico TV de Moçambique há seis anos, nos meios de comunicação em Cabo Verde e também, a partir deste ano, em Timor.

“Estamos a conversar com as autoridades de Timor Leste desde a independência por conta dos Telecursos da Fundação Roberto Marinho que fez uma capacitação de educadores timorenses para o uso da língua portuguesa”, disse

Para ela, o aspecto do treino é um “mote muito importante na relação com os países de língua portuguesa e é onde o Brasil pode dar um apoio relevante e efetivo”.

Plataforma

Lúcia Araújo destacou, durante encontro com diretores da TvTL, na terça-feira, no Rio de Janeiro, para dar início ao acordo de cooperação técnica entre os dois canais, que a “polissemia a partir da experiência dos diferentes países de língua portuguesa pode ser uma plataforma de troca de conteúdos e de abertura para o Brasil”.

A ideia inicial é prover conteúdo do acervo do Canal Futura para a TvTL e capacitar técnicos timorenses para produzirem peças jornalísticas com qualidade.

“A gente vai começar com o jornalismo que é uma necessidade imediata e o Canal Futura tem o jornalismo mais voltado para a educação e a área social e vamos trabalhar em matérias que interessem ao jornalismo deles e ao nosso”, explicou.

E numa perspectiva de intercâmbio entre os dois países, Araújo apontou ainda a pretensão de realizar trocas de conteúdos jornalísticos e incluir programas produzidos pelos profissionais timorenses e exibi-los na grade de programação no Brasil.