sexta-feira, 21 de março de 2008

José Coelho Sobrinho trata da abordagem de temas sociais junto a públicos não-iniciados na próxima palestra de Jornalismo de Políticas Públicas Sociais, uma realização NETCCON/ECO/UFRJ e ANDI

Auditório da CPM-ECO, Campus da Praia Vermelha (UFRJ)
Segunda 24/03/2008, e em todas as outras segundas de 2008/1, sempre das 11h às 13h.

Os jornais de distribuição gratuita estão entre o grande dilema de "ser jornal ou ser jornalismo", mas, inegavelmente prestam o serviço importante de ampliar os leitores de periódicos nas cidades. Esse é o tema que o Prof. Dr. José Coelho Sobrinho, da Universidade de São Paulo-USP, vai abordar nesta segunda, dia 24, no curso de extensão e disciplina Jornalismo de Políticas Públicas Sociais, a convite do NETCCON.ECO.UFRJ e da ANDI.

"Parto do princípio de que a grande diferença entre a notícia e a informação está na apuração, e no valor agregado que o jornalista dá a essa apuração para transformar um fato jornalístico em notícia", acredita Coelho Sobrinho, que coordena na USP uma disciplina congênere a criada pelo NETCCON e também em convênio com a ANDI.

De acordo com o pesquisador, a apuração é a essência do jornalismo. "Sem ela não há jornalismo, há jornal, um suporte midiático que pode receber qualquer informação e a sua credibilidade estará sempre ameaçada". Este é o desafio a ser enfrentado e superado pelos jornais de grande circulação e distribuição dirigida.

E esta é a pauta da palestra do Prof. Coelho Sobrinho no terceiro encontro deste semestre do curso Jornalismo de Políticas Públicas Sociais, aberto semestralmente à Sociedade e ao Mercado e realizado pelo Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência-NETCCON/ECO/UFRJ, coordenado pelo Prof. Evandro Vieira Ouriques, em convênio com a Agência de Notícias dos Direitos da Infância-ANDI.

O Prof. José Coelho Sobrinho possui graduação em Jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP), mestrado e doutorado em Ciências da Comunicação pela USP, e pós-doutorado pela Universidade Fernando Pessoa - Porto (Portugal). Coelho Sobrinho tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Jornalismo e Editoração.Já publicou seis livros, entre eles: "Edição em jornalismo eletrônico" pela Edicon em 1999, e a "Evolução do jornalismo em São Paulo", também pela Edicon, em 1998.

O Programa Acadêmico do NETCCON Prover a Sociedade, sob a perspectiva das Ciências da Comunicação, com estudos e metodologias de prevenção e superação da violência, que contribuam para o salto de qualidade: (1) na cobertura midiática das Políticas Sociais e em sua gestão pública; (2) nas políticas e estratégias de Comunicação para a Responsabilidade Socioambiental; e (3) no padrão ético ("voz própria" e "vínculo") do trabalho de presença e colaboração nas Redes e Organizações. O NETCCON criou e oferece também a disciplina Comunicação, Construção de Estados Mentais e Não-violência, e está criando a disciplina Comunicação e Responsabilidade Socioambiental. Maiores informações sobre o NETCCON podem ser obtidas atravees de evouriques@terra.com.br.

Conheça mais sobre a disciplina aqui:
http://informacao.andi.org.br:8080/relAcademicas/site/visualizarConteudo.do?metodo=visualizarUniversidade&codigo=6

Próximos temas:

Semana 4 (31/03): O Paradigma do Desenvolvimento Humano como orientador da cobertura.
Palestrante: Flavia Oliveira (O Globo)

Semana 5 (07/04): Lições Africanas para a Igualdade na Diversidade Humana: a questão da não-violência.

Palestrantes: Mãe Beata de Iemonjá e Evandro Vieira Ouriques


Semana 6 (14/04): A desigualdade social no Brasil e os processos de formulação das políticas públicas sociais compensatórias.
Palestrante:
Mirella de Carvalho

Semana 7 (28/04): Orçamento nacional: As possibilidades de intervenção e orientação para o social.

Palestrante:
Leonardo Mello (IPEA)

Semana 8 (05/05): O desafio de aumentar a presença das políticas públicas na grande imprensa.

Palestrante:
Bia Barbosa (Intervozes)

Semana 9 (12/05): A cobertura das políticas públicas na área da Educação no Brasil.
Palestrante: Antônio Góis (Folha de S. Paulo)

Semana 10 (19/05): Cobertura de qualidade em meio à violência estrutural: A força política da não-violência e a responsabilidade dos atores sociais e dos jornalistas.
Palestrante: Prof. Evandro Vieira Ouriques (NETCCON.ECO.UFRJ, NEF.PUC.SP)

Semana 11 (26/05): A Questão das Políticas Públicas Sociais e a Mídia Contra-hegemônica.
Palestrante: Paulo Lima (Viração)

Semana 12 (02/06): A Comunicação criada pela Periferia no Rio de Janeiro.
Palestrante: Prof. Augusto Gazir (Observatório de Favelas e ECO.UFRJ)

Semana 13 (09/06): O paradigma dos Direitos da Criança e do Adolescente: A Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Palestrante: Wanderlino Nogueira Neto (ABONG)

Semana 14 (16/06): A Mídia e a Questão das Políticas Públicas Sociais no Brasil
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Palestrante: Guilherme Canela (ANDI)

Semana 15 (23/06)
: O Paradigma da Diversidade Cultural.
Palestrante:
Profa. Sílvia Ramos (CESEC)

Semana 16 (30/06): Jornalismo prospectivo e o futuro das políticas públicas sociais como pauta.
Palestrante: Rosa Alegria (NEF-PUC/SP, NETCCON.ECO.UFRJ, Millennium/UNU)

Série de artigos do Anticurso de Jornalismo – Caros Amigos

Myltainho: o terrorismo midiático, a mídia independente e a herança da repressão no período militar

Terrorismo midiático – quando a imprensa repercute um assunto de forma a alarmar a sociedade e não informar – é o que defendeu o Editor Executivo da revista Caros Amigos, Mylton Severiano, o Myltainho, no primeiro fim de semana que teve início o 2o Anticurso de Jornalismo: como não enriquecer na profissão, no dia 8 de março em São Paulo.

Ele é a favor de uma legislação que puna atos de terrorismo midiático praticados por jornalistas, além de afirmar que a ditadura militar não acabou e continua até hoje. Mylton Severiano não é contra a existência de escolas de jornalismo, mas sim contra a exigência de diploma para exercer a profissão; ele também defende a mídia independente em vez daquela que se chama de alternativa, e, é a favor da pena de morte — apenas para aqueles que defendem a pena de morte.

São com essas afirmações iniciais que Myltainho abriu a discussão para um público diversificado de estudantes, jornalistas, leitores e interessados em geral que se inscreveram no Anticurso da Caros Amigos.

Mylton Severiano nasceu em Marília, no interior de São Paulo, há 68 anos. Já trabalhou em diversos veículos, entre eles a Folha de São Paulo, Estadão, a revista Realidade, a Rede Globo, TV Cultura, TV Tupi, atualmente mora em São Paulo e está há seis meses como Editor Executivo da Caros Amigos. Publicou seu primeiro artigo aos 8 anos no jornal Terra Livre feito pelo Partido Comunista.

Sobre o diploma na profissão “é uma sacanagem”, diz. “A maioria dos professores são frustrados na profissão, o jornalismo é uma profissão de vocação – comunicar, querer dizer o que está acontecendo, dar voz a quem não tem voz”. Ele defende também a mídia independente em vez da chamada ‘alternativa’. “A grande mídia que é subsidiada pelas multinacionais não vai ofender os anunciantes, e a Caros Amigos nunca vai sair do vermelho, é o preço que ela pagou para ser independente”.

Quanto a provocação da permanência da ditadura militar nos dias de hoje, Myltainho confirma: “a ditadura formalmente vai de 1964 a 1985, confesso que eu fiquei bravo, tomaram 21 anos da minha vida. Ela se foi formalmente, é mais uma provocação. Todos os veículos que apoiaram o golpe militar estão até hoje, são as famílias que mandam. A Globo é filhote legítimo da ditadura, nasceu em 1965. A herança ditatorial é grande, nós ainda vamos ter que caminhar muito até chegar a uma democracia”.

Para ele, a ditadura militar continua – “qual é o país no mundo onde a polícia é militar? Que historia é essa? A polícia tem que ser civil, na minha utopia a gente não precisaria de polícia, e a PM se comporta a revelia do poder civil”.

É o caso dos movimentos sociais, classifica Myltainho, “a grande mídia só cobre quando eles são reprimidos ou quando invadem algum lugar”. E acrescenta, “é uma vergonha um país como esse que tem mais terra agriculturável que a China (que alimenta um bilhão de pessoas) e o Brasil com 180 milhões de habitantes tem 40 milhões de famintos. A grande mídia ainda criminaliza os movimentos sociais, qualquer coisa social que se faz nesse país é atropelado. O Estado brasileiro só entra na favela a pontapés como o Bope [em referência à tropa de elite da polícia militar do Rio de Janeiro]”.

E sobre o terrorismo midiático, Mylton Severiano acredita que a mídia tem que ter normas e regras – “os criminosos de terrorismo midiático perderam o censo do que é jornalismo, do que é ética, e isso não é apenas um fenômeno brasileiro é universal. A VEJA se desviou pelo caminho. Aquilo não é jornalismo, é panfletagem da pior espécie”.

No próximo artigo, os jornalistas Cláudio Tognolli e Hamilton de Souza discutem o jornalismo como uma profissão mistificada, a possível crise da forma de se fazer e de se pensar o jornalismo, a revolução da profissão pelas novas tecnologias, como a internet, o ensino do jornalismo e a exigência do diploma.

Cláudio Tognolli é diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), professor da USP e repórter especial para a revista Consultor Jurídico, além de escrever apra a Caros Amigos e a Galileu.

Hamilton de Souza leciona na PUC-SP, foi diretor do Sindicato de Jornalistas Profissionais de São Paulo, ganhou o prêmio Wladimir Herzog de Direitos Humanos em 1981, foi editor da revista Sem Terra do MST, e escreve no jornal Brasil de Fato e também na Caros Amigos.

Fabíola Ortiz

19 de março de 2008.


Pesquisador da UFRJ aborda a violência como fator social e a inlfuência da mídia no retrato dos conflitos urbanos

Fabíola Ortiz

“O que nós hoje compreendemos como violência urbana, é um fenômeno especificamente brasileiro. A violência no Rio de Janeiro é resultado de uma acumulação social da qual participam vários atores, entre eles a mídia”, afirmou o Prof. Dr. Michel Misse – coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU/IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – em sua palestra na disciplina e curso de extensão de Jornalismo de Políticas Públicas Sociais, no dia 17 (segunda-feira).

A disciplina é realizada pelo Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência-NETCCON/ECO/UFRJ, sob coordenação do Prof. Dr. Evandro Vieira Ouriques, em parceria com a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) e apoio do PACC.FCC.UFRJ. E nesta semana, o tema levantado foi “A Violência que Acusa a Violência: a degradação de Si e do Outro através da Mídia”.

Através do conceito de “causação circular acumulativa” que gera a violência, ou seja, um círculo vicioso de fatores que se causam mutuamente, Michel Misse buscou discutir a influência da mídia nos estilos de vida que incorporam a violência e como ela participa deste processo, até de forma não intencional.

O pesquisador se questiona: “por que nós vivemos num ambiente social com tanta violência?”. Para Misse, isso é um fenômeno, “o criminoso ou suspeito de ter cometido um crime não se rende, e prefere correr o risco de morrer a ser preso. E mesmo assim, o bandido que é rendido, muitas vezes acaba sendo executado pelo policial”. Em um ambiente em que a representação da violência é generalizada, as práticas criminosas incorporam a força física e o recurso às armas – “um recurso indiscriminado à violência”.

De acordo com Michel Misse, não há violência, há violências, no plural, “são muitas e não são uniformes”. Para ele, a palavra violência é vista como um sujeito abstrato, e a sociedade “trata uma multiplicidade de eventos distintos como se fosse uma única coisa; isso é um equívoco, uma ilusão; e esse pensamento induz a erros, até mesmo para o estabelecimento de políticas públicas”.

E ainda acrescenta: “é preciso ter cuidado com o uso da palavra violência, não há violência sem ofensa moral, ela decorre de um ambiente cultural; o que era violência antes, hoje pode não ser interpretado como tal”.

O recurso indiscriminado à violência

Michel Misse cita exemplos de pesquisas de vitimização, surveys (que começaram a ser feitas nos anos 1980) na Inglaterra e no Brasil, e, segundo ele, são “mais realistas que as estatísticas criminais realizadas pela polícia devido a sub-notificação de informações oficiais”.

E diz: “a nossa percepção é de que a violência é maior do que na Inglaterra, apesar da pesquisa de vitimização ser análoga e demonstrar números bem parecidos. Embora as taxas possam ser semelhantes entre países da Europa e dos EUA, e a quantidade de furtos e roubos seja igual, o recurso da violência é muito maior aqui no Brasil”.

Ele compara a taxa de homicídio na Inglaterra ou em países europeus que gira entre um ou dois homicídios por cem mil habitantes. No Brasil, a taxa é cerca de 27 a cada cem mil pessoas, e no Rio de Janeiro, já chegou a 70 assassinatos pela mesma quantidade de habitantes, e hoje, no estado, o número fica em torno de 50 homicídios por cem mil.

Além disso, Misse destaca que só em 2007, 1.500 pessoas suspeitas de crimes foram mortas pela polícia no Rio de Janeiro, enquanto que nos EUA, esse número não chegou a 200. A taxa de esclarecimento de assassinatos na Inglaterra ou em países considerados desenvolvidos é de 90%. E no estado do Rio, o índice de elucidação de assassinatos é de 8%, “ou seja, em 92% dos casos ninguém é preso”.

Mídia e crime orgaizado - a territorialização do tráfico de drogas

Ele considera que a mídia, ao tratar da violência, não está apenas descrevendo e noticiando o fato. “A mídia é um ator, assim como a polícia e as vítimas são atores. Ela seleciona quem acusar, quais políticas públicas que deveriam ser aplicadas e confere prestígio aos que praticam os crimes”, ressaltou.

Misse faz críticas ao pensamento único, no Rio de Janeiro e em cidades brasileiras, que associa o tráfico de drogas à violência: “Não é certo falar que a violência vem só do tráfico, quando se diz que a causa da violência é o tráfico de drogas, isso não é necessário. O tráfico responde por uma parcela das práticas criminais. Você pode ter tráfico sem violência, existe tráfico de drogas no mundo inteiro, em algumas vezes de forma até mais ostensiva do que no Rio de Janeiro. O que chamamos de ‘traficante’ aqui no Rio não é apenas um comerciante de drogas ilícitas, o tráfico adquiriu características que incorporam práticas de violência”.

O pesquisador afirmou que o tráfico está territorializado e, por isso, tornou-se mais “vulnerável a incursões policiais e de outros grupos que queiram dominar esse território”. Para ele, “é essa vulnerabilidade que obriga que os traficantes tenham que se armar – é a concepção armamentista para defender o território”.

E sobre o que se acredita por crime organizado, “não é uma máfia, não tem nada a ver com uma organização do tipo mafiosa, são redes de proteção horizontais e não verticais, são precárias; não conseguem se organizar e monopolizar o mercado e vivem de brigas intermináveis pelos pontos de venda”.

Em sua palestra, Misse ainda fez uma crítica ao pensamento de que “o crime existe só no outro”. É o que ele considera como “sujeição criminal”: a concepção de que o sujeito carrega o crime nele mesmo, e assim, não se caracteriza como uma prática criminal. Essa concepção faz parte de uma política de eliminação. “Calcula-se que dez mil suspeitos de crimes tenham sido eliminados no Rio nos últimos dez anos”. Para ele, a pena de morte continua sendo aplicada indiscriminadamente.

Saiba mais:

http://www.informacao.andi.org.br/