sábado, 30 de outubro de 2010

Finalmente, bons resultados para a biodiversidade na COP 10

O resultado mais esperado para a COP 10 da biodiversidade foi alcançado. Países fazem acordo nos três principais temas: Plano Estratégico, protocolo de acesso e repartição de benefícios dos recursos genéticos da biodiversidade e estratégia de mobilização de recursos financeiros.


Ligia Paes de Barros, de Nagoia

WWF-Brasil


Não foi fácil, mas o acordo tão esperado para a 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica foi alcançado. As negociações se estenderam até a madrugada do sábado (2h) em Nagoia e deixaram os participantes com grandes expectativas até o último minuto. Enfim, o anúncio das decisões finais pelo presidente da COP 10 e ministro do Meio Ambiente do Japão, Ryu Matsumoto, causou alívio e satisfação entre os presentes.


O motivo da satisfação foi um acordo dos países em torno dos três principais temas reivindicados para decisão nesta Conferência: o protocolo de acesso e repartição de benefícios dos recursos genéticos da biodiversidade (ABS na sigla em inglês) com os aspectos principais contemplados, um Plano Estratégico para o período 2011 - 2020 relativamente ambicioso de redução da perda de biodiversidade para a próxima década e uma sinalização de recursos financeiros para a implementação das ações de conservação.


"Conseguimos um bom acordo que demonstrou bastante vontade política por parte dos países para a conservação da biodiversidade", afirmou a secretária-geral do WWF-Brasil, Denise Hamú. "Esperávamos mais em algumas metas ou decisões, mas agora, o mais importante é que os países façam a sua parte do acordo conforme combinado até 2020", completou Hamú.


Para o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Cláudio Maretti, o papel de alguns países foi crucial para o resultado positivo da Conferência. "O Japão, como anfitrião desta COP, contribuiu bastante para as negociações avançarem, exercendo com autoridade a presidência, chamando as partes à negociação e propondo opções, e até com o anúncio da disponibilização de recursos", afirmou Maretti. "O Brasil também merece elogios pela vontade política de negociação e por fim, a flexibilidade da União Europeia, dos países africanos e dos países megadiversos em alguns aspectos também foi importante para o alcance do acordo", afirmou Maretti.



Repartição dos benefícios da biodiversidade


O acordo em torno do protocolo que regulamenta o acesso e a repartição dos benefícios gerados pelos recursos genéticos da biodiversidade entre os países foi o maior êxito da COP 10 da CDB.

Apontado desde o princípio como o principal desafio para as negociações internacionais, o tema ficou indefinido até o último momento. Depois de muitas reuniões, os países concordaram, apesar de algumas insatisfações que não impediram o acordo, em um documento que contempla os aspectos considerados fundamentais para decisão nessa conferência. A forma de conseguir um acordo foi reduzir detalhamento, mas assegurar os princípios e os enfoques adequados.


Um dos pontos mais polêmicos do protocolo, os chamados "derivados" dos recursos genéticos - elementos produzidos a partir dos recursos genéticos, com valor econômico alto - foram incluídos no protocolo, mas a operacionalização desse conceito não será tão simples. A utilização dos recursos genéticos consta no texto, também de forma tortuosa.


Outro aspecto polêmico foi o controle do cumprimento do acordo. Esse aspecto foi definido superficialmente, favorecendo mais o interesse dos países em desenvolvimento, geralmente provedores desses recursos genéticos. Um dos pontos que ficou subentendido é que para a aceitação de patentes, além de outros processos, produzidos a partir de tais recursos genéticos, há responsabilidade de verificar se as leis nacionais, tanto dos países fornecedores de biodiversidade como dos usuários dela, estarão sendo respeitadas. O Protocolo é essencialmente baseado nos processos dentro de cada país.

"Os itens fundamentais para que o protocolo de ABS possa ser implementado foram definidos", afirmou Maretti. "O mais importante é que os países trabalhem suas legislações nacionais sobre o tema e continuem aprimorando o protocolo em outras reuniões", ressaltou.



Plano Estratégico 2011 - 2020


Um bom Plano Estratégico para a redução da perda de biodiversidade, documento considerado o mais importante da COP 10 por definir as ações que os países terão que implementar até 2020, foi alcançado na 10ª COP da CDB. Depois de muitos impasses, o documento refletiu a diplomacia e flexibilidade de todos os países: aqueles que defendiam metas mais ambiciosas e, principalmente, os que resistiam em aprovar comprometimentos muito fortes.


Duas conquistas significativas do Plano foram a inclusão no documento final da inclusão do valor da biodiversidade nas contas públicas dos países e a redução de subsídios destinados a atividades consideradas prejudiciais e degradantes da biodiversidade. Além disso, foi definida uma diretriz de redução da exploração inadequada dos recursos pesqueiros e hídricos.


No que se refere à missão do Plano Estratégico, que define o nível de ambição geral do documento, o acordo ficou indefinido até o último momento. Com conflitos de interesses entre países que defendiam zerar a perda de biodiversidade até 2020 e outros que pediam uma missão de tomar ações efetivas e urgentes para zerar a perda de biodiversidade no mesmo período, a decisão final anunciada na plenária final representa uma combinação das duas opções.


O outro aspecto polêmico do Plano Estratégico era a meta que aborda a redução da conversão de habitats (destruição de áreas naturais), incluindo o desmatamento. Conforme apresentado na plenária, a meta final ficou definida em diminuir pelo menos pela metade a taxa de conversão de habitats e desmatamento, e onde possível, reduzir a zero.


"Esse cenário não é o que gostaríamos. Seria muito importante para o Brasil, principalmente, ter metas mais efetivas para zerar a perda de biodiversidade e o desmatamento", apontou a secretária-geral do WWF-Brasil. "Ainda assim, o Brasil tem compromissos internos sobre esses temas que se forem cumpridos devidamente, representarão um grande avanço para a biodiversidade do país. Devemos agora esperar que o Brasil faça sua 'lição de casa' e desenvolva uma estratégia nacional de implementação da CDB", apontou Denise Hamú.



Áreas protegidas


Com relação à porcentagem dos territórios que serão conservados em áreas protegidas, o resultado também foi o caminho do meio, que já representa um progresso importante nesse tema em comparação com as metas definidas para 2010.


O resultado anunciado foi que 17% das áreas terrestres dos países terão que ser destinadas a áreas protegidas; área maior que os 10% definidos para 2010, mas não avança muito em relação à média mundial atual de quase 13%. Nas áreas marinhas, o percentual destinado a áreas protegidas permaneceu o mesmo que o estabelecido para 2010, que é de 10%.


"No cenário dos debates, com países, como a Malásia, a China ou alguns países africanos, querendo diminuir as porcentagens dramaticamente, essa porcentagem pode ser considerada ambiciosa. E essa meta de proteção marinha acaba sendo realista pois a média mundial de todos os oceanos atualmente é de pouco mais de 1%", afirmou Maretti. "O ideal seria conseguirmos 20% de proteção em áreas terrestres e marinhas, mas esse resultado ainda é muito positivo", ressaltou ele.



Financiamento para conservação da biodiversidade


As decisões sobre a mobilização de recursos financeiros também estiveram entre as menos unânimes em Nagoia. Muitos países em desenvolvimento, principalmente sul-americanos, africanos e do sudeste asiático, não ficaram satisfeitos com o compromisso assumido pelos países desenvolvidos em relação às doações que farão para financiar ações de conservação da biodiversidade. Isso se deve ao fato de que essa dívida se arrasta há mais de 20 anos.


O anúncio pelo governo do Japão da doação de 2 bilhões de dólares (EUA) até 2013, ajudou no alcance do acordo. Além disso, outro ponto positivo foi a definição de que até 2012 os países finalizem um plano de financiamento claro e efetivo para o restante da década.


O texto final aprovado aponta que a mobilização de recursos financeiros para a implementação efetiva do Plano Estratégico 2011 a 2020 deve aumentar significativamente, mas a meta deve ser definida depois de avaliações adequadas que os países apresentarão sobre suas necessidades financeiras, na próxima COP, em 2011.


"O ideal agora é que os países desenvolvidos facilitem o acesso dos países em desenvolvimento a esse dinheiro já anunciado, ou outros novos, para que estes consigam fazer um levantamento das suas demandas até 2020", afirmou Cláudio Maretti. Esse levantamento mencionado pelo superintendente auxiliará na definição do plano de financiamento em 2012 com valores realistas para a implementação do Plano Estratégico para 2020 de redução da perda de biodiversidade.


"Outro compromisso que os países, inclusive o Brasil, devem assumir é o aumento dos orçamentos nacionais para o ministério do Meio Ambiente e especificamente para as áreas protegidas. O Brasil não pode mais depender apenas de recursos externos", apontou Maretti.



Balanço geral


Depois de duas semanas de muito trabalho, a biodiversidade do planeta foi beneficiada com o acordo alcançado em Nagoia. Os resultados dos documentos acordados entre os países representam avanços para a conservação e uso sustentável da biodiversidade e, principalmente, para a população mundial, que usufrui dos inúmeros benefícios que ela oferece.


Porém, é preciso lembrar que se o acordo alcançado na COP 10 no Japão não for levado a sério e tratado como prioridade pelos 193 países membros da Convenção sobre Diversidade Biológica, ele não trará as mudanças necessárias que o mundo precisa.


"É um momento de comemoração, sem dúvida, a biodiversidade recebeu a atenção e a dedicação que merece nessa COP", afirmou o superintendente de Conservação do WWF-Brasil. "Mas este também é um momento de cuidado e de ficarmos atentos para cobrar que os países implementem esses acordos nacional e localmente", concluiu Maretti.

Declaração final - Cop 10 Convenção sobre Diversidade Biológica

Rede WWF
Natureza ganha vigoroso alento com o novo acordo sobre biodiversidade
Nagoia, Japão - Os governos reunidos na reunião da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) chegaram a um acordo. Quando for aplicado, esse novo acordo colocará o mundo num rumo capaz de ajudar a prevenir a extinção em massa das espécies e a acabar com o declínio da natureza valiosa do planeta.
"Os ministros trabalharam arduamente nos últimos três dias para estruturar esse acordo. Esperamos que seu espírito e determinação se ampliem para outros espaços de discussão, inclusive para as reuniões de negociações climáticas que acontecerão em breve em Cancun", comentou Jim Leape, diretor-geral da Rede WWF.
A Rede WWF acolheu bem a adoção desse novo plano de 10 anos para resgatar a biodiversidade.
Segundo Leape, "o novo acordo reafirma a necessidade fundamental de se conservar a natureza por que ela é a própria base da nossa economia e da nossa sociedade. Os governos enviaram uma mensagem vigorosa afirmando que, na política internacional, há lugar para a proteção da saúde do planeta e que os países estão prontos a unir esforços para salvar a vida na Terra".
Os delegados presentes à reunião conseguiram superar o impasse na questão que, durante 18 anos, desde a assinatura da Convenção, havia impedido que se chegasse a uma resolução. Trata-se da questão do acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios.
"O Protocolo de Nagoia é um sucesso histórico e assegura uma repartição mais eqüitativa do valor -- muitas vezes imenso -- dos recursos genéticos", declarou Leape.
Os governos chegaram a um acordo sobre uma meta para terminar com a sobrepesca e outra para proteger 10% das áreas marinhas e costeiras, inclusive em alto mar. Embora a Rede WWF reconheça o importante passo dado para aumentar em 10% a proteção atual em todo o mundo, a organização ambientalista considera que essa meta equivale ainda a apenas metade do que é recomendado pelos cientistas.
"Os governos concordaram em proteger 10% de todos os oceanos do planeta e parar com a sobrepesca - isso é uma ótima notícia para os mares do mundo."
O novo plano da biodiversidade estabelece uma meta de 17% de proteção para habitat terrestre, o que significa um modesto aumento em relação à média mundial atual, que é de aproximadamente 12%. Os governos também chegaram a um acordo sobre a meta para a reforma dos subsídios considerados prejudiciais. O novo acordo exige, ainda, que os países incorporem a garantia da biodiversidade em sua contabilidade nacional - isso é um sinal político importante e tem potencial para colocar em andamento uma abordagem diferente para a tomada de decisão econômica.
O país anfitrião do evento, o Japão, prometeu, esta semana, recursos financeiros significativos para a biodiversidade. Já os países desenvolvidos mostraram-se incapazes de se mobilizar para garantir uma injeção imediata de recursos financeiros que sejam novos e relevantes. No entanto, os governos conseguiram concordar com um plano para identificar, até 2012, os fundos necessários para executar o plano. É vital garantir dinheiro novo para enfrentar rapidamente a perda da biodiversidade mundial.
"Embora se observe um progresso significativo em várias frentes, ainda há muito trabalho a ser feito para mobilizar os recursos necessários para ajudar o mundo em desenvolvimento a alcançar suas metas".
"Ficamos decepcionados com o fato de que os países mais ricos vieram a Nagoia de bolsos vazios - sem poder ou sem querer fornecer os recursos financeiros para que o mundo em desenvolvimento consiga alcançar suas ambiciosas metas", concluiu Leape.
Os governos saem de Nagoia com um acordo que aponta o novo caminho a seguir para salvar a vida do planeta. É fundamental, agora, que eles sejam rápidos em agir e transformar suas promessas em ações.


terça-feira, 25 de maio de 2010

Dia de África

África 21 - DF

África 21 - DF
24/05/2010 - 12:10

Dia de África

25 de Maio - Os desafios

Em muitos países africanos, as elites das antigas potências colonizadoras foram substituídas por elites nacionais que, em muitos casos, mais não fazem que se locupletar com o erário público.

Alfredo Prado

O continente africano comemora no 25 de Maio o seu dia. O dia da celebração das independências, do fim do colonialismo, da construção de novos países.

A data é importante para os africanos, mas também para o mundo, em geral. A libertação do continente dos grilhões coloniais é uma conquista que ultrapassa as suas fronteiras. É, na verdade, uma conquista de toda a humanidade. Inclusive daqueles - e foram muitos - que a ela se opuseram.

África democratiza-se, mesmo quando tal não é reconhecido pelos padrões europeus ou norte-americanos. O continente moderniza-se, ainda que a ritmo muito lento. Os mercados consumidores crescem. O acesso às novas tecnologias avança. Mas se o Dia de África é um dia de celebrações, não deixa de ser também um dia de reflexão e de lutas.

Milhões de africanos, de norte a sul do continente, ganharam liberdade e direitos de cidadania, mas em muitos casos as suas condições de vida não são diferentes daquelas que tinham sob o colonialismo.

Meio século volvido após as primeiras independências, os progressos nos cuidados de saúde, no acesso ao ensino, na habitação, continuam, na maioria dos países africanos, a avançar em passo de caracol. Em alguns casos, temos de admiti-lo, até recuaram.

Se é certo que as desigualdades no comércio internacional, as assimetrias gigantescas entre os países ricos e os países pobres, entre as potências mundiais e os países em desenvolvimento, marcam negativamente a vida e comprometem o futuro de milhões de africanos, também é verdade que nem tudo o que é negativo resulta apenas dessas políticas.

São muitos os países africanos em que as elites das antigas potências colonizadoras foram substituídas por elites nacionais que, em muitos casos, mais não fazem que se locupletar com o erário público. A corrupção, o nepotismo e o autoritarismo campeiam. Os preconceitos raciais, invertidos, geram tensões dentro dos próprios tecidos sociais locais. A intolerância étnica e religiosa faz todos os anos milhares de mortos. Os novos-ricos apropriam-se de terras públicas e têm os aparelhos de Estado ao seu serviço.

Muitos dos objetivos programáticos lançados pelos movimentos de libertação das antigas colônias portuguesas, francesas ou inglesas continuam por realizar. Aos povos de África não basta a conquista da independência. Precisam de outras conquistas: da democracia plena, da distribuição das riquezas nacionais, da democratização do ensino, do progresso social, do desenvolvimento económico. Condições necessárias para que a sua voz se faça ouvir no concerto das nações, para que a transferência de tecnologias e de conhecimento se tornem uma realidade, para que as suas riquezas sejam verdadeiramente riquezas nacionais. Estes são os desafios que se colocam a África. Desafios que podem ser vencidos.


http://www.africa21digital.com/noticia.kmf?cod=10056523&canal=405

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Dia da Biodiversidade marca pedidos por ação política urgente

Enquanto o mundo se prepara para celebrar a diversidade da vida na Terra, a Rede WWF e outras ONGs estão conclamando os governos a fazer mudanças fundamentais no planejamento econômico para evitar o colapso do sistema de manutenção da vida no planeta.

No sábado, o mundo celebrará o Dia Internacional da Biodiversidade, que foi proclamado pelas Nações Unidas em 1993 com o objetivo de “ampliar a compreensão e a consciência acerca das questões de biodiversidade.”

A biodiversidade e a saúde dos ecossistemas naturais são o fundamento do bem-estar humano e da economia porque oferecem um leque de benefícios, ou “serviços”, como ar e água limpos, proteção contra desastres naturais, medicamentos e alimentos. Os especialistas estimam o valor econômico global da biodiversidade como nada menos que US$ 33 trilhões ao ano.

“Os governos raramente levam em consideração os benefícios econômicos e sociais da natureza em suas políticas e atividades”, afirmou Rolf Hogan, diretor de Biodiversidade da Rede WWF. “Isso leva à destruição dos ecossistemas naturais e compromete o nosso futuro. A situação está se tornando uma crise”.

Paralelamente a isso, os governos do mundo não cumpriram a promessa que assumiram em 2002, junto à Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), de reduzir consideravelmente o índice de perda da biodiversidade até 2010, o Ano Internacional da Biodiversidade.

Estudos recentes, inclusive o Panorama Global da Biodiversidade 3 (Global Biodiversity Outlook 3, relatório preparado pela CDB), mostram que a continuidade da perda maciça da biodiversidade é uma probabilidade cada vez maior. De acordo com os estudos, estamos nos aproximando de diversos “pontos de colapso”, em que os ecossistemas entrarão em estados menos produtivos, dos quais poderá ser impossível se recuperar.

“O relatório da CDB mostra que, infelizmente, a conservação dos ecossistemas e das espécies, o uso sustentável dos recursos naturais e a repartição dos benefícios da biodiversidade ainda não fazem parte dos principais critérios considerados por tomadores de decisão, sejam de governos ou empresas”, afirma o superintendente de conservação do WWF-Brasil, Cláudio Maretti.

ONGs pedem metas mais audaciosas

Em uma declaração feita em reunião científica da Convenção sobre Diversidade Biológica no início desta semana, 24 organizações não governamentais (inclusive o WWF-Brasil) – representando a sociedade civil, a comunidade de conservação e povos indígenas – disseram aos governos que o mundo falhou porque “as atuais políticas econômicas promovem o consumo exacerbado dos recursos naturais por alguns países e segmentos da sociedade. Isso está levando à destruição dos habitats, o que debilita os direitos e os meios de vida de milhões de pessoas que dependem dos ecossistemas para sobreviver”.

“Estamos num momento decisivo. Uma mudança fundamental é necessária e urgente. A sociedade precisa de uma nova visão que associe políticas socioeconômicas e ambientais”.

“O Dia Internacional da Biodiversidade deve servir de lembrete para os Chefes de Estado ouvirem esse apelo das ONGs e assumirem compromissos concretos ao se reunirem na sessão especial sobre biodiversidade da Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro”, informou Hogan.

“Não podemos esperar que os ministros do meio ambiente levantem essa bandeira sozinhos. A conservação e o uso sustentável da biodiversidade precisam passar dos círculos políticos para uma posição central no mundo para que possamos evitar uma perda catastrófica da biodiversidade”, completou.

A declaração das ONGs também faz diversas recomendações, inclusive a de que o verdadeiro valor dos serviços da biodiversidade e dos ecossistemas seja integrado ao planejamento e ações econômicas para o combate à mudança do clima, e que os direitos dos povos indígenas sejam reconhecidos.

“No Brasil, queremos saber se o governo do presidente Lula, que se encerra este ano, vai deixar como herança para os brasileiros um país que continua degradando seus ambientes naturais, ou um país que lidera o mundo em direção à sustentabilidade”, questiona Maretti. Para o superintendente do WWF-Brasil, o presidente Lula deve assumir papel de liderança nas discussões sobre biodiversidade que ocorrerão na Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro.

Para mais informações sobre o Ano Internacional da Biodiversidade, as negociações da CDB e o relatório Panorama Global da Biodiversidade 3, visite www.wwf.org.br/biodiversidade.

*-*-*-*-

O WWF-Brasil é uma organização não governamental brasileira dedicada à conservação da natureza com os objetivos de harmonizar a atividade humana com a conservação da biodiversidade e de promover o uso racional dos recursos naturais em benefício dos cidadãos de hoje e das futuras gerações. O WWF-Brasil, criado em 1996 e sediado em Brasília, desenvolve projetos em todo o país e integra a Rede WWF, a maior rede independente de conservação da natureza, com atuação em mais de 100 países e o apoio de cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários.

sábado, 27 de março de 2010

~Desafio é unir o urbano dividido face ao crescimento descontrolado das cidades - ONU

Face a um crescimento descontrolado das grandes cidades, o desafio que se impõe hoje é unir o urbano dividido e garantir o direito à cidade aos diferentes segmentos sociais, defende representante do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT).


“Unir o urbano dividido não é uma contradição, é uma realidade”, disse mexicano Eduardo Lopez-Moreno, um dos diretores do Observatório Urbano Global do escritório da ONU, à margem do 5º Fórum Urbano Mundial.

A busca por um crescimento mais harmónico não é só um desafio, mas uma necessidade, garante o arquiteto.


Isto é, “buscar formas de transferir benefícios e oportunidades àqueles que não têm”.


O direito a cidade não é um direito novo, mas sim uma visão espacial da realização dos direitos que foram historicamente conseguidos, explica.


“O espaço da cidade é o lugar onde esses direitos se podem materializar”. Contudo, em países mais pobres, os direitos, as oportunidades e o acesso aos recursos são muito limitados.


“A cidade que deveria ser um espaço aberto, se converte numa fortaleza. Isso acaba por separar os ricos e os pobres”.


A tendência é piorar, adverte Lopez-Moreno. “Quando as divisões sociais e econômicas são muito visíveis com a divisão física do espaço urbano, as possibilidades de distúrbios sociais serão cada vez maiores”, alerta.


A redução desta segregação urbana mundial ainda carece de muitos esforços. Na última década, o número absoluto de moradores de favelas cresceu de 776,7 milhões para 827,6 milhões podendo atingir um total de 889 milhões em 2020, alerta a ONU.


Só na África Subsaariana, quase 200 milhões de pessoas vivem em favelas, a América Latina não fica muito atrás com uma população de 110 milhões de favelados.


O exemplo brasileiro é paradigmático, salienta Lopez-Moreno. Apesar de as cidades brasileiras serem as mais desiguais no mundo, atrás apenas das cidades da África do Sul, o Brasil deu “um passo grande”.


Nos últimos 10 anos, as condições de vida de quase 11 milhões de brasileiros em favelas melhoraram.

A experiência brasileira é uma referência, dado que em apenas cinco anos, mais de nove milhões de pessoas deixaram de viver em assentamentos informais.


A “chave do sucesso”, garante Lopez-Moreno, é a mistura de programas de transferência de renda, de acesso à moradia e a articulação dos três níveis de gestão.


“Essa conjunção de ações é o que vai trazer o sucesso. Quando o governo local se articula com o central. Esta coordenação tem tudo para dar certo”.


Criado em 2002, o Fórum Urbano Mundial já se realizou em cidades em todos os continentes, esta é a primeira vez que decorre na América Latina.


Após 10 anos de realização, o maior congresso sobre urbanismo para debater crescimento e impactos provocados pela urbanização bateu o recorde de inscritos, com cerca de 20 mil participantes de 200 países.

5º Fórum Urbano Mundial das Nações Unidas

O 5º Fórum Urbano Mundial das Nações Unidas terminou ontem (26) Rio de Janeiro e reafirmou os desafios para uma urbanização sustentável com o direito de todo ser humano a viver com qualidade de vida nas cidades.


“A hora de agir é agora”, esta foi a mensagem final deixada pela diretora executiva do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), a tanzaniana Anna Tibaijuka.


“O tempo não está do nosso lado. A tarefa diante de nós é imensa, é um trabalho que deveríamos ter feito ontem”, advertiu a representante do Escritório da ONU ao referir os problemas enfrentados pelas cidades em todo o mundo.


Nas mais de três horas da cerimónia de encerramento do maior fórum sobre urbanismo no mundo, foi lançada a Campanha Urbana Global com propostas para garantir o desenvolvimento urbano sustentável.


Coordenada pela ONU-Habitat, a campanha, que leva o logo elaborado por um designer português, é uma oportunidade para desenvolver soluções urbanas e ferramentas políticas de atuação para reduzir as desigualdades nos espaços urbanos.


Em complemento à fala de Tibaijuka, o ministro brasileiro das Cidades e anfitrião do evento, Márcio Fortes, destacou que a campanha irá refletir as ações da maioria dos países que enfrentam o problema dramático de assentamentos, transporte, conflitos sociais e reforma agrária.


“Não podemos agir sozinhos, precisamos de parcerias, de atuarmos juntos, seja de forma bilaterial ou multilateral”, reforçou o ministro brasileiro.


“As desigualdades urbanas vão além da dimensão de renda. O direito à cidade deve se constituir como um direito coletivo”, salientou Márcio Fortes.


Ao longo de cinco dias de debates sobre o crescimento e impactos provocados pela urbanização, o Fórum Urbano reuniu 13.700 participantes de 150 países.


O encontro, realizado pela primeira vez na América Latina, discutiu o crescimento urbano desordenado em plena área degradada na zona portuária do Rio de Janeiro.


Os participantes puderam sentir na pele os problemas das grandes cidades em termos de infraestruturas e segregação social.


No século 20 que foi marcado pela exclusão urbana, a busca por um crescimento mais harmonioso não é só um desafio, mas uma necessidade, este foi o consenso entre as centenas mesas de debates levadas à cabo esta semana.


Segundo a ONU, pouco mais de metade da humanidade está hoje concentrada em médias e grandes cidades e estima-se que chegará a dois terços nos próximos 50 anos.


Atualmente, metade da população mundial (3,5 mil milhões de pessoas), mora em áreas urbanas, e cerca de mil milhões de pessoas vivem em condições precárias nas principais cidades do mundo.


Na última década, o número absoluto de moradores de favelas cresceu de 776,7 milhões para 827,6 milhões.

A população residente em favelas alcançará a 890 milhões de pessoas até 2020.


A 6ª edição do Fórum Urbano Mundial será realizada em Bahrain, no Médio Oriente, em 2012.


quinta-feira, 25 de março de 2010

JPPS-2010/1 . 7a. EDIÇÃO . Curso de Extensão com Certificado sobre este tema

Gratuito
inscrições on line até 31 de março:

http://sites.google.com/site/cursojpps/inscricoes-jpps-2010-1-comunicacao-e-sustentabilidade


Encontros todas às segundas, de 05.04 a 12.07 das 9h30m às 13h

Por uma nova década da cultura de paz a cada ação

- Ocultar texto das mensagens anteriores -

Comunicação e Sustentabilidade
a Arqueologia dos Conceitos e
a Questão da Mente Sustentável


PROF. EVANDRO VIEIRA OURIQUES, D.Sc.


“Tenho tido uma experiência de muita intensidade, alegria, emoção;
(...) eu espero que recolham esta frágil flor que estou oferecendo e façam, com ela, um jardim.”

Marcio Tavares d’Amara
l

Este curso é dedicado ao Prof. Marcio d’Amaral


15 encontros
para mudar o modelo mental
(Por gentileza leia todo este material de divulgação, inclusive o artigo ao final, que precede a bibliografia obrigatória do Curso, antes de solicitar a sua inscrição via on line em http://sites.google.com/site/cursojpps/inscricoes-jpps-2010-1-comunicacao-e-sustentabilidade Grato por seu precioso interesse!)

No ano em que se encerra a Década Internacional pela Cultura de Paz e Não-violência para as Crianças do Mundo, 2001–2010/ONU-UNESCO, dedicamos nosso Curso JPPS-Jornalismo de Políticas Públicas Sociais, com maior ênfase ainda, às atitudes que sustentam Políticas Públicas Sociais, Redes e Empreendedorismo de fato Democráticos e, assim, capazes de aprofundar a Cultura de Paz e Não-violência, decisiva, a partir do exercício da responsabilidade sobre o Território Mental, para o desenho sustentável do presente e da herança que deixaremos para as futuras gerações.


Fazemos isto em um novo formato do JPPS, centrado na importância de avançar a complexidade da Palavra, a complexidade do Pensamento, este que desenha o que somos, e o que vivemos, que nos faz sermos humanos; ou até mesmo mais do que “humanos”, no sentido de talvez um dia nos chamarmos por um conceito limpo da insustentável cultura patriarcal.

Metodologia do curso
Profunda imersão em leituras críticas;
Práticas transformativas; e
Talk-shows com convidados especiais:

Alfredo Sirkis; Eraldo Carneiro (Petrobras e CEBDS); Fernando Gabeira; Flávia Ribeiro (CEBDS); Ladislau Dowbor (NEF.PUC.SP); Marina Silva; Nádia Rebouças (Rebouças & Associados); Ricardo Voltolini (Ideia Socioambiental); Rosa Alegria (NETCCON e NEF.PUC.SP); Sandra Korman (NETCCON e PUC.Rio) e Veet Vivarta (ANDI).
(alguns poucos nomes estão ainda em confirmação)

Eixos de trabalho


1. SUSTENTABILIDADE E DEMOCRACIA
As vantagens do não-dualismo e da transdisciplinaridade


A Democracia, os Direitos e os Deveres Humanos, o Direito à Comunicação e o Desafio de Comunicar, a Liberdade de Expressão, a Responsabilidade Socioambiental, os Empreendimentos Sustentáveis, enfim o Estado do Bem Estar Social, são experiências que dependem diretamente de uma nova, complexa e colaborativa maneira de entender estes temas, a Vida e o Mundo.

2. INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Escolher entre duas culturas para chegar às pessoas


Como superar a doença de entender a Comunicação de maneira utilitária, pontual e fantasiosa, reduzida à produção de peças, processos e efeitos, quando a urgência é pensar a Comunicação de maneira ampla: de pensá-la na dimensão dela ser a linguagem do biológico e do social. E, assim, dela ser a linguagem da Sustentabilidade e da Democracia; portanto, o fundamento estratégico decisivo da gestão.

3. DISCURSO E AÇÃO SUSTENTÁVEIS
A questão do domínio dos conceitos e da ação resultante


Como somos cultura, somos o que pensamos, afetamos, somos afetados e percebemos. Somos o que falamos, expressões e linguagens; somos nossos estados mentais, nossa Palavra como Corpo-Vivo, nosso Corpo como Palavra-Viva. É preciso portanto dominar o processo de formação da vontade para que a ação, sempre densificação de um estado mental, seja a expressão de uma vontade sustentável.

4. EDUCAÇÃO E MENTE SUSTENTÁVEL
O ponto cego do TBL e a questão do Quarto Bottom Line


A urgência do Quarto Bottom Line, a Gestão da Mente Sustentável, que avança e dá eficácia efetiva aos propósitos do Triple Bottom Line. Clean up your mind-act not your image! (Limpe a sua mente-ação, não a sua imagem!). Uma metodologia político-pedagógica para a mudança do design mental, a única maneira de criar de maneira colaborativa, compartilhar e multiplicar livre-mente aprendizados de fato sustentáveis e democráticos.

Inscrições on line até 31 de março. Início do curso em 05 de abril
http://sites.google.com/site/cursojpps/inscricoes-jpps-2010-1-comunicacao-e-sustentabilidade

Local de Realização
Auditório da Central de Produção Multimídia-CPM, Escola de Comunicação da UFRJ
Campus UFRJ da Praia Vermelha - Rio de Janeiro – RJ

Realização
NETCCON-Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência.ECO.UFRJ,
em convênio com a ANDI-Agência de Notícias dos Direitos da Infância.

Parcerias
Setor de Extensão da ECO.UFRJ
SESC-Rio - Redes Comunitárias Núcleo de Estudos do Futuro-PUC.SP

Apostila e material do curso
Sessenta reais, pagos no primeiro dia de aula

Mais informações
21.9205.1696 e evouriques@terra.com.br

Artigo de contextualização, a ser lido antes de solicitar a inscrição

Gestão e Mente Sustentável:
uma nova perspectiva sobre Política, Comunicação e Sustentabilidade
Prof. Evandro Vieira Ouriques

Dentre todas as fontes de referência que movem ou podem mover com Justiça e Dignidade as Políticas Públicas, as Redes e o Empreendedorismo, a Sustentabilidade é a mais importante de todas.

Ela é mais importante ainda, por exemplo, que a cultura digital e as redes, pois apenas ela pode orientar o verdadeiro sentido democrático das conexões, das alianças, das conquistas tecnológicas, das intervenções nos territórios. E, assim, transformar o atual e imenso acúmulo de crises, de dimensão tectônica, em extraordinária oportunidade de um futuro que faça sentido: um futuro fundado em valores comunais, os que garantem a coesão social. Como todo futuro, ele é sempre construído agora, pelo poder do pensamento claro, complexo e focado.

E, mais: apenas a Sustentabilidade pode trazer à tona o verdadeiro sentido da própria Comunicação, muito distinto da fogueira de vaidades atual.

Explico. Por partes.

1. Por que a Sustentabilidade ocupa este papel central?

Por que o processo de conceituação do que seja a Cultura, e dentro desta a Filosofia e a História, acabou por definí-la como a ruptura do continnuum do processo natural. Ou seja, como a “outra” da Natureza: aquela que não é a Natureza. Neste conceito portanto temos a oposição dualista entre o que passamos a chamar de Cultura face ao que então passamos a chamar de Natureza.

O resultado desta ruptura colhemos principalmente durante o século XX, apesar de já na Roma antiga, no séc. VII a.C., por exemplo, existir legislação para controlar os perigos do trânsito de carroças, bem como o imenso barulho que elas faziam nas ruas à noite não deixando sobretudo os pobres dormirem.

Pelo menos desde 1972 temos as provas científicas irrefutáveis deste erro epistemológico, e desde então resistimos a rever nossos conceitos sobre a Vida e sobre o Mundo, aí incluídos os conceitos de Cultura e Natureza.

Resistimos a mudar de modelo mental (fluxo de pensamentos, afetos e percepções); a abandonar esta mente insustentável, preferindo insistir, na maior parte dos casos, em uma atitude greenwash; ou seja, em uma atitude verde apenas como efeito de real, alimentando tal opção epistemológica, fatal para o nosso presente e para o futuro das novas gerações: separar Cultura e Natureza foi interromper a conexão primeira, a rede primeira, que é a interdependência sistêmica e complexa entre o biológico e o cultural.

Estava e está no conceito Cultura instalado o divórcio, a falta de Comunicação, esta forma talvez de amor líquido, em verdade uma mistura de ressentimento e melancólica admiração da Cultura pela Natureza, facilmente perceptível na maneira pontual e utilitarista com a qual este re-encontro se dá nos cobiçados finais de semana populares ou ultra-elitizados, que vão dos super spas e resorts aos piqueniques-farofa na praia, ou ao churrasco à beira da piscina de plástico.

Ou, então, nas commodities, por exemplo, petróleo, gás, ouro e os outros metais presentes em toda a cadeia industrial e nos produtos que enchem os supermercados e os shoppings, e que são retiradas in natura diretamente da Natureza e que continuam a mover o mundo que destroí assim, digamos, sua própria mãe, sua própria origem, a própria fonte que a alimenta.

Sim, há algo de profunda insanidade neste modelo mental, nesta Cultura. Para destacadas autoridades da clínica social da psicanálise, a característica dominante da economia psíquica pós-moderna é exatamente a iminência do colapso psicótico.

2. Por que a Sustentabilidade permite repensar de forma ampla o que seja a Comunicação?

A Sustentabilidade obriga a repensar a Comunicação pois comprova que a Comunicação é a linguagem do que chamamos de Natureza, que se expressa através da lógica das redes biológicas, cognitivas, da ancestralidade e, por isto, também das redes culturais e sociais.

Trata-se, sem dúvida de uma imensa vaidade, daí tanta ocorrência de celebridades e narcisismos nas redes sociais, estar brevemente sobre um Planeta no qual surgimos apenas no último segundo (se compactamos a História de 14 bilhões de anos em um ano) e que flutua em meio a um Cosmos de tal maneira gigantesco, e insistir-se em dar ordem ao mundo, insistir-se em recusar comunicar Cultura e Natureza, recusar-se a comunicar poder e generosidade.

O Desafio de Pensar
Tratar portanto da Comunicação e da Sustentabilidade é entender que Segurança Ambiental, Justiça Social e Equidade Econômica, metas do Triple Bottom Line, só se dão de fato pela construção e gestão de uma Mente Sustentável, que possa garantir que a palavra dita se torne ato concretizado mediante o foco da vontade neste sentido.

É quando o indíviduo, rede, movimento, organização e instituição monitora e vigia seu próprio Território Mental (o fluxo de pensamentos, afetos e percepções, dentre elas a intuição) que o poder de criar Políticas Públicas, Redes e Emprendimentos se manifesta de maneira sustentável.

Para isto é preciso sustar a compulsão do produtivismo; e meditar; construir deliberadamente um pensamento respiratório; agir na mais poderosa das ações: a que fazemos sobre os conceitos, pois somos, como disse, o que pensamos, o que afetamos, o que nos afeta, o que percebemos. Somos responsáveis pelo que fazemos. O que vivemos é o resultado de nossas aspirações.

Nesta sétima edição do JPPS vamos praticar minuciosamente, através de longas e detalhadas leituras e reflexões, a arqueologia dos conceitos Comunicação e Sustentabilidade, como quem delicada e decidida-mente percorre o corpo amado, seja ele sútil ou mais denso, celebrando cada milímetro, cada respiração, cada pulsação, por vezes suave-mente, por vezes intensa-mente.

Para que as vidas, as carreiras, os empreendimentos, as alianças, as famílias, as redes, os movimentos, as corporações, os partidos, as organizações de todo o tipo, as intervenções nos territórios, ajam na solução do que hoje enfrentamos, é preciso livrar-se da captura pela idéia dualista de que existiria um “sistema” contra o qual nada se poderia fazer e que aprisionaria a Liberdade e a Justiça, através de uma opressão vinda de fora para dentro ou exercida “entre” os indivíduos.

Na realidade, o que aprisiona é o modelo mental que se tem e do qual não se livra simplesmente por obra e graça de se estar conectado à web e dispondo de banda larga e das ferramentas mais elaboradas de rede, pois as cadeias mentais é que são a causa final, e na maior parte dos casos, inconsciente, pois gravada no aparente “recato” da “vida privada”, na intimidade do próprio pensamento, no conjunto dos afetos e percepções que se tem sobre o mundo; conjunto este que se mantém intacto pelo tabu de não se falar sobre ele de forma alguma, divorciando-o da política e da gestão, como se dele não dependesse o futuro do empreendimento, o futuro da Nação.

Por isto é preciso treinar a mente para a ação transformadora no mundo, diante da qual não cabem as respostas prontas entregues por intenso, concentrado e monocórdico delivery mediático, educacional, familiar e social.

Há que se superar o desafio de comunicar para que se possa gozar plenamente do Direito à Comunicação. Esta tarefa demanda imenso exercício continuado de vontade, de disposição para mudar, de humildade, de escuta, de paciência, de compaixão.

Vamos então neste semestre ler muito e pausada-mente, perguntar, investigar e conversar, experimentar, como quem re-começa ou começa a pensar:

. É a “Natureza” “cruel”, de fato? É a “Natureza” violenta? Qual a “natureza” da violência psíquica e social, ou, melhor, como se constrói a insustentável cultura da violência, baseada na unidimensionalidade da remuneração e dos efeitos de real criados pelo acúmulo de poder e de capital, e na socialização das perdas, movidos pela inveja, pela vingança e pela indiferença, em uma manifestação do que os alemães chamam de schadenfreude; ou seja, o sentimento de alegria pelo sofrimento ou infelicidade dos outros?

. A vida é mesmo uma guerra? Os animais são violentos ou em verdade o amor é que é a base do biológico e do social? De onde vem a vontade das Políticas Públicas Sociais e da sustentabilidade? Do poder e do interesse auto-referenciados? Há portanto uma outra e distinta fonte de referência para o ato comunicativo, o ato do afeto, o ato da política?

. Qual a diferença entre violência, ira e indignação? Quem, o quê e onde estaria o verdadeiro “inimigo”?

. A Paz se multiplica por “contaminação” e por “meio viral”? De onde vem esta ânsia de agir e agir sem pensar, que atribui à tecnologia ou às redes (como se estas estivessem passando a existir agora...), portanto atribuindo ao que está fora, ao outro, as esperanças de Liberdade, Justiça e de Paz?

. Por que a ridicularização das utopias, quando entender o mundo apenas como um supermercado e um shopping center gigantesco, tecnologizado e simbólica e geográfica-mente infinito, custe o que custar, é que gera a insustentabilidade do divórcio entre palavra e ato; este fim-das-utopias, gerador da irresponsabilidade cidadã sobre a própria ação no mundo; este gerador da traição e do abuso, sob as múltiplas formas da inveja perpétua, fonte das celebridades e dos narcisismos?

Por que a insustentabilidade social que se quis superar no século XX, através do coletivismo, aprofundou-se na totalização pelo reconhecimento pelo capital, neste século XXI marcado, até agora, pelo individualismo, pelo mal-estar, pelos fundamentalismos de todas as ordens, pela devoção tecnológica, pela repetição da luta insana pelo poder mesmo nas esquerdas, a qual -quando muito- parece sobrar a resistência criativa, talvez não-criadora, aos crescentes dispositivos de vigilância?

. Por que a recusa a trabalhar intensa-mente para tornar o pensamento mais e mais complexo, e apenas assim, de fato, ter um pensamento livre, por que cristalino, descondicionado, por que claro, que permita a vida em sociedade?

. Por que a recusa a ter uma re-visão profunda e crítica sobre os conceitos que se usa, sobre o fluxo dos estados mentais?

. Enfim a dispor de tempo para compreender minuciosa-mente o discurso que cada um coloca no ar, como editor de si mesmo e, assim, poder de fato re-inventar-se, de fato inovar-se e poder então concretizar mais atitudes green e não apenas mais entulho não-reciclável greenwash?

. De ser, como mostrou cristalina-mente Mahatma Gandhi, aquilo que se quer ver no mundo, entendendo a indissociabilidade entre o psíquico, o social, o espiritual e o político, defendida também por tantos brilhantes pensadores ocidentais?

Por que então o atual elogio à loucura, na forma da simplificação do pensamento, da redução do pensamento ao nada que é a ação repetitiva e suicida, produzida pela pasteurização do pensamento?

A única maneira de se fazer a globalização é de fato esta? Na qual em nome de uma suposta eficácia tecnológica que (ao contrário de trazer mais democracia como foi prometido, tem é gerado na maior parte dos casos mais concentração e mais vigilância) instaurou a redução da complexidade e da multiplicidade, das diversidades do mundo, das diferenças das pessoas, dos povos, das culturas, brutal e anestesiada-mente ameaçadas?

. Por que ameaçar o pensamento, se apenas ele é que pode encontrar a coesão social na multiplicidade, como as teias se mantêm equilibradas, de encontrar uma coesão que não seja a dos totalitarismos, seja sob a forma do fascismo político, do fundamentalismo religioso, do fundamentalismo tecnológico.

O Desafio de Comunicar
De fato, é o pensamento que funda e move, e que é a integralidade da experiência de se estar vivo, na condição que patriarcal-mente, e portanto insustentavel-mente, ainda chamamos de “humano”.

É por isto que a Comunicação hoje ainda está muito na dimensão operacional: na produção de efeitos, na obtenção de capital de influência, quando o que precisa avançar é a política enquanto conceito, o negócio enquanto conceito, a rede enquanto conceito, a Comunicação enquanto conceito.

É assim que é urgente avançar a superação de pensar a Comunicação de maneira fragmentada, atenta apenas, como disse, aos processos.

É urgente construir, compreender, praticar e gerir uma Mente Sustentável. É preciso investir na profunda arqueologia dos conceitos que constituem o pensamento, os afetos e as percepções. A Mente Sustentável engloba a multidimensionalidade dos processos cognitivos, inclusive, claro, a intuição, pois apenas uma mente clara e focada permite termos Inovação verdadeira: a Comunicação, a Política, as Redes, os Empreeendimentos sustentáveis e assim democráticos.

Quando somos prisioneiros de uma cultura só podemos nos libertar através de uma outra cultura, sabemos disto. E isto apenas se faz pelo esforço de um pensamento novo e complexo, que abrigue, sem pré-conceitos, o melhor dos conhecimentos de todas as culturas que o ser humano já construiu.

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Prof. Evandro Vieira Ouriques
Professor da Escola de Comunicação da UFRJ há 31 anos e coordenador do NETCCON-Núcleo de Estudos Transdiciplinares de Comunicação e Consciência é o criador da metodologia Gestão da Mente Sustentável, o Quarto Bottom Line.

Escritor e consultor, é especialista em mudança de atitude, focado em Comunicação e Educação para as Redes, as Políticas Públicas e a Sustentabilidade, atuando tanto em redes, movimentos e organizações, como o movimento pela Democratização da Comunicação no Brasil, os Fóruns de Mídia Livre, o DEGASE, a Rebouças & Associados, a Petrobras, a Natura, o ETHOS e a ABERJE, quanto através de atendimentos e coaching individuais.

Transdisciplinar desde 1984, é cientista político, jornalista, designer, artista multimídia, gestor cultural, curador e conservador de obras de arte e terapeuta de base analítica.

Trabalhou 21 anos no Ministério da Cultura, na Fundação Nacional de Arte e no Museu Nacional Nacional de Belas Artes, quatro anos em Diálogo Inter-religioso e três com a Estratégia Cultural do Yoga no Brasil, tendo em vista seus estudos sobre sistemas ancestrais de comunicação e cura.

Membro da INTERCOM, do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, da Associação Internacional de Estudos Ibero-Eslavos e do Instituto Cultural Brasil-Galícia, é diretor de Comunicação e Cultura do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC.SP.

Mantem convênio com a UNESCO, o Coletivo INTERVOZES e o LaPCom-Unb para a elaboração de Indicadores do Direito à Comunicação no Brasil. Autor e organizador de dezenas de publicações entre as quais se destaca o livro Diálogo entre as Civilizações: a Experiência Brasileira, publicado pela ONU e a UNESCO em 2003.


Bibliografia Obrigatória do Curso

OURIQUES, Evandro Vieira (2009). Comunicação, Palavra e Políticas Públicas: a Importância do Conceito Envolvimento para a Construção da Cidadania Sustentável. Revista Z Cultural. Programa Avançado de Cultura Contemporânea-PACC.FCC.UFRJ. Ano 5 nº 02. Rio de Janeiro. ISNN 1980-9921

_________________________(2008). Gestão da Mente Sustentável®, o Extended Bottom Line: o Desenvolvimento Socioambiental como Questão da Consciência e da Comunicação. In GUEVARA, Arnoldo José de Hoyos, et al. (orgs.). Consciência e desenvolvimento sustentável nas organizações. Rio de Janeiro: Editora Campus Elsevier, São Paulo. pp. 195-203. ISBN-10: 85-352-3281-8

________________________ (2009). Território Mental: o Nó Górdio da Democracia. Revista Democracia Viva, nº 42, maio de 2009. IBASE, Rio de Janeiro. pp 76-81

Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (2009). Guia de Comunicação e Sustentabilidade. Realização da Câmara Temática de Comunicação e Educação do CEBDS (Eraldo Carneiro. Coordenação do Projeto: Flávia Ribeiro (Coord. de Comunicação do CEBDS) e Pablo Barros. Rio de Janeiro.


Bibliografia Sugerida para o Aprofundamento

ALEGRIA, Rosa. Da matriz ao self: o desafio evolucionário da mídia e das organizações. In GUEVARA, Arnoldo José de Hoyos, et al. (orgs.). Consciência e desenvolvimento sustentável nas organizações. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2008. pp. 195-203.

AMARAL, Marcio Tavares d’. Comunicação e Diferença: uma filosofia de guerra para uso dos homens comuns. Editora da UFRJ, 2004.

BIRMAN, Joel. Arquivos do mal-estar e da resistência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

BOHM, David. Diálogo: comunicação e redes de convivência. São Paulo: Palas Athena.

CANCLINI, Néstor García. Diferentes, desiguais e desconectados. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2004.

CASTORIADIS, Cornelius. Figures du pensable. Paris: Éditions du Seuil, 1999.

______________________ . L’institution imaginaire de la société. Paris: Éditions du Seuil 1975.

DOWBOR, Ladislau. A crise financeira sem mistérios. 2008. http://dowbor.org/crise.asp

DUFOUR, Dany-Robert. A arte de reduzir as cabeças: sobre a nova servidão na sociedade ultraliberal. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2005.

EAGLETON, Terry. Depois da teoria: um olhar sobre os Estudos Culturais e o pós-modernismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

FRANCO, Augusto de (2006a). Uma teoria da cooperação baseada em Maturana. 06/07/06. http://augustodefranco.locaweb.com.br/cartas_comments.php?id=18_0_2_0_C

GODBUT, Jacques. O Espírito da Dádiva. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1999.

HENDERSON, Hazel. Construindo um mundo onde todos ganhem. São Paulo: Cultrix e Amana-Key, 1998.

LEBRUN, Jean-Pierre. Um mundo sem limites: ensaio para uma psicanalítica do social. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2004.

MATURANA, Humberto e Verden-Zoller, Gerda. Amar e brincar: fundamentos esquecidos do humano. São Paulo: Palas Athena, 2004.

MELMAN, Charles. O homem sem gravidade: gozar a qualquer preço. Entrevistas por Jean-Pierre Lebrun. Rio de Janeiro: Companhia de Freud Editora, 2003.

MIRANDA, Rafael. Reflexionando sobre la alteridad a partir de Cornelius Castoriadis: las fronteras del ódio. Fundación Andreu Nin. 2005. http://www.fundanin.org/miranda1.htm

OURIQUES, Evandro Vieira (org.) (2003). Diálogo entre as Civilizações: a Experiência Brasileira. ONU. Apoio Institucional Palas Athena, Viva Rio, Movimento Inter-religioso do Rio de Janeiro-MIR/ ISER e UNESCO. www.unicrio.org.br (clicar biblioteca; e título).

OURIQUES, Evandro Vieira (2006). A New Epistemological Perspective for Solidarity and Sustainability in the Essentially Patriarchal and Emblematic Crisis of Western Mindset. Pelican Consulting. Washington. http://www.pelican-consulting.com/solisustv02n06.html

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________________________(2010). O Silêncio Ativo da Escuta como Possibilidade de Resistência e Inovação através do Diálogo. Anuário 2010 da Associação Internacional de Estudos Ibero-Eslavos, Lisboa, Portugal. No prelo.

________________________(2004). Sobre a ação desinteressada em Gandhi e a ética na midia. http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=291ASP021
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(2010). Sustentabilidade, Democracia e Sinceridade: ideias gêmeas, no útero da Mente Sustentável. Revista Fórum de Direito Urbano e Ambiental-FDUA, São Paulo, ano 9, nº 49. Janeiro-Fevereiro de 2010. ISSN 1676-6962

PRIGOGINE, Ilya e STENGERS, Isabelle. A nova aliança. Editora Universidade de Brasília, 1984.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A globalização e as ciências sociais. São Paulo: Cortez Editora, 2005.


Recomendamos o site da ANDI sobre as Mudanças Climáticas: http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/


JPPS NO 2º SEMESTRE DE 2010:

Mais Políticas Públicas de Paz e Não-violência, prosseguindo o trabalho do JPPS.NETCCON de mapear questões e contribuições decisivas para a Cultura de Paz e Não-violência.