terça-feira, 3 de junho de 2008

'A população não quer milícia, quer segurança'

ENTREVISTA / Cláudio Ferraz e Wânia Mesquita

Convidamos um gestor de segurança pública e uma pesquisadora para falar sobre “milícias e poderes locais”. Cláudio Ferraz, delegado titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, destacou a dificuldade de combater a ação das milícias devido ao seu vínculo com políticos. Ferraz está à frente de investigações sobre grupos de milicianos no estado.

A doutora em sociologia Wânia Mesquita, do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj), que participa da pesquisa "Rompendo o cerceamento da palavra: a voz dos favelados em busca do reconhecimento", ressaltou o estabelecimento de mecanismos de silenciamento de uma comunidade por um grupo de “mineira”. A pesquisa é financiada pela Faperj e coordenada pelo professor Luiz Antonio Machado da Silva (IFCS/UFRJ e Iuperj/Ucam)

CLÁUDIO FERRAZ

O que são milícias?

Milícias são grupos que dominam determinadas áreas. Hoje, milícia é o nome fantasia de grupos de policiais ou agentes do Estado que dominam uma determinada região e se apresentam como defensores da própria população local contra a ação do tráfico. Isto porque se identificou que o traficante é o grande problema da segurança.

Nós definimos, tecnicamente, milícia como estes grupos de policiais que se apresentam em circunstâncias de domínio territorial, mas qualquer grupo com essa característica, tanto a milícia quanto o traficante, pode ser considerado como um grupo miliciano. Os milicianos que se intitulam protetores em determinada região atuam da mesma forma que o traficante.

Qual o contexto histórico em que surgem as milícias?

Há um único motivo para o surgimento desta milícia: a falta de Estado eficiente. Em um determinado momento histórico, a população foi subjugada por traficantes de drogas que dominavam a região e pela violência gerada pelo confronto entre eles e a polícia. Como não têm segurança nem acesso adequado à Justiça, surgiram estes grupos de policiais que, em um primeiro momento, fizeram com que a população os vissem como figuras emblemáticas, aqueles que resolvem as coisas com uma sabedoria oriental. Na verdade, o objetivo destes grupos é dinheiro e poder.

Leia mais em:

http://www.comunidadesegura.org/?q=pt/node/39464

Direção de O Dia evita ato por equipe torturada

Miriam Abreu e Marcelo Tavela

Pouco mais do que cem pessoas se reuniram em frente à Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, às 16h de segunda-feira (02/06), no ato de repúdio à violência sofrida por profissionais de O Dia. Mais do que as poucas pessoas, chamou a atenção a ausência de qualquer pessoa da direção do jornal. O Dia foi representado por alguns de seus repórteres e fotógrafos. Procurada pelo Comunique-se, a cúpula do jornal não quis comentar a ausência.

A presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ) – que organizou o ato –, Suzana Blass, leu carta que ressalta o desmoronamento da idéia de que grupos paramilitares possam garantir segurança e que critica a forma como foi conduzida a apuração, colocando em risco a vida da equipe.

“Não estamos pedindo que não se cubra segurança pública, mas que se cubra de outra forma. É preciso repensar a cobertura, com mais articulação entre jornais e segurança para os jornalistas. A concorrência e o furo não valem a vida de ninguém”, disse Suzana.

Angelina Nunes, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), afirmou que há quatro anos os jornais já vêm denunciando a atuação de milícias. “Já passou da hora de investigar e punir os culpados. Estamos juntos com o sindicato em pedir às empresas jornalísticas que garantam a segurança dos seus profissionais”, declarou Angelina.

Tânia Lopes, irmã de Tim Lopes, alertou que “todo dia 02/06 temos que homenagear o Tim. Então, que seja só ele”.

Muita cobertura e pouca solidariedade
O ato recebeu atenção de diversos veículos de imprensa. No entanto, descontada a proximidade com o horário de fechamento, poucos jornalistas estiveram na Cinelândia somente para acompanhar o ato. Equipes de Rede TV!, Record, Globo, TV Brasil e SBT gravaram no local. Repórteres de BandNews FM, CBN, O Globo, Jornal do Brasil, Tribuna da Imprensa, O Povo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo, entre outros, estavam presentes.

Representantes do sindicato se reuniram na segunda-feira (02/06) com o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, que garantiu que a prisão dos milicianos será feita em “curtíssimo prazo”, e pediu que as entidades presentes apoiassem a criação de um juizado criminal para o Rio de Janeiro, evitando que os processos se espalhem por muitas varas e tenham sua conclusão atrasada.

Também estiveram presentes representantes da OAB-RJ, outras entidades e políticos em pré-campanha eleitoral.

Fonte: Comunique-se

Entidades internacionais de imprensa condenam crime contra equipe de O Dia

O Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) e a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) comentaram em nota a tortura sofrida por equipe do jornal O Dia. O CPJ se disse chocado com a informação, e cobrou do governo uma punição aos responsáveis pelo crime.

“As autoridades brasileiras devem investigar completamente as ligações entre os captores e a polícia local, e devem levar os responsáveis pelo crime à Justiça”, disse o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría. O comitê também destacou a coincidência de datas da divulgação do crime com o aniversário do assassinato de Tim Lopes.

A SIP também lembrou a morte de Lopes, e cobrou “todo o peso da lei” na investigação do caso. O presidente da comissão de liberdade de imprensa e informação, Gonzalo Marroquín, “condena o brutal atentado, pelo qual se pretende intimidar os jornalistas brasileiros para que não continuem investigando ou denunciando o crime organizado”.

Fonte: Comunique-se

WWF

Bonn, Alemanha - As conversas da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre clima, que começaram hoje em Bonn, na Alemanha, precisam produzir resultados concretos. Hoje, as equipes da Rede WWF e da Oxfam se vestiram de ursos polares e distribuíram biscoitos da sorte com 16 demandas para os resultados das reuniões, que terminam dia 13 de junho.

Delegados de mais de 100 países vão estar presentes nas reuniões. As conversas em Bonn são a segunda etapa da maratona de negociações que começou em Bali, em dezembro de 2007, quando os governos concordaram em chegar a um novo acordo climático até o final de 2009 na Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas em Copenhagen. O acordo tem de cobrir assuntos relacionados às reduções de emissões para prevenir mudanças climáticas mais perigosas combinadas com mecanismos e recursos para mitigação, adaptação, finanças, tecnologia e florestas.

"Para chegar a um progresso na Copenhagen no ano que vem, os países precisam acordar sobre as opções e idéias básicas a serem negociadas mais profundamente ainda este ano, na próxima Convenção de Clima, na Polônia", afirma Kim Carstensen, Diretor da Iniciativa Global de Clima da Rede WWF.

Na última reunião sobre o tema, em Bangcoc, os governantes falharam em colocar na mesa uma agenda de trabalho detalhada e não progrediram além das decisões já tomadas em Bali. Em Bonn, os negociadores devem identificar opções necessárias para a redução de emissões e para mobilizar os recursos necessários para isto. Vários representantes da Rede WWF estarão acompanhando as reuniões, inclusive uma representante do WWF-Brasil.

Na parte de financiamento de energia limpa e adaptação, os governos devem identificar e se comprometer a desenvolver ferramentas para financiar o esquema que garante os recursos previstos para um desenvolvimento de baixas emissões de carbono para os países em desenvolvimento. Financiamento para assuntos climáticos devem ser adicionais aos já existentes. Os recursos destinados à ajuda ao desenvolvimento são voltados para alívio da pobreza nos países mais pobres e não devem ser misturados com fundos para resolver a crise climática global. Todos os pagamentos, sejam para desenvolvimento ou para clima, devem ser mensuráveis, reportáveis e verificáveis. Em retorno, os países em desenvolvimento devem se comprometer a colocar as políticas de desenvolvimento nacionais em prática para permitir a adaptação efetiva e assegurar menos emissões.

"Países industrializados precisam respeitar suas obrigações e responsabilidades para liderar o combate às mudanças climáticas," afirma Kathrin Gutmann, coordenadora de Políticas Públicas para Mudanças Climáticas da Rede WWF. "Existe uma diferença clara entre os países em desenvolvimento e os industrializados e nenhum 'clube dos maiores emissores' pode se sobrepor a este fato."
Alguns países industrializados vão novamente tentar lançar dúvidas sobre os compromissos de médio prazo (entre 25% e 40% até 2020 foi acordado entre as partes do Protocolo de Quioto em Bali). Apesar de este assunto não estar explicitamente na agenda do encontro em Bonn, é politicamente importante que os governos confirmem este compromisso e não contem apenas com as metas de 2050.