"Não sei como ou por que escolhi essa profissão - jornalismo. Eu simplesmente escolhi. Talvez haja alguma explicação psicológica ou que possa ser explicada na minha psiquê ou no meu subconsciente. Ser jornalista - ou você é ou você não é. Não existe meio termo, não se pode estar jornalista e deixar de estar outra hora. Não é um estado, é uma essência. Mas também existem jornalistas e jornalistas - ninguém nunca é igual.
Sinto necessidade de escrever, de contar. Estou agora num ônibus a caminho de São Paulo; são meia noite de sexta para sábado (8 de março). Ainda estou com meu coração a mil. Sei que preciso descansar, estou exausta. A semana não foi fácil, e hoje (ou melhor ontem, tenho a sensação de que o dia ainda não acabou), a tarde foi barra.
A minha "missão" era cobrir o retorno e o reencontro da família de dois brasileiros deportados da Espanha que chegariam no início da noite de 6a feira no aeroporto internacional do Rio.
Cheguei no portão de embarque na hora prevista, 18h40, o vôo estava atrasado uma hora. Foi até um momento descontraído, conversamos (eu e o resto da imprensa que estava de cão de guarda). Falamos, rimos. Todos simpáticos jogando conversa fora.
20h - os passageiros do vôo 6025 começam a sair pelo portão de desembarque. Todos a postos, a qualquer momento os dois poderiam chegar. E nada, já 9h40, não havia mais ninguém, tripulantes e passageiros, todos já saíram. Sobramos nós e a família.
A mãe se desespera quando avisam que não havia mais ninguém no vôo, todos já tinham ido. A imprensa começa a registrar o desespero da mãe e todos os passos da família pelo aeroporto. É um tal de sobe e desce as escadas para ir a caminho da Polícia Federal, do balcão da empresa de aviação Iberia... e a imprensa na cola.
Uma cena patética: cinegrafistas correndo desesperados para acompanhar os passos e registrar a fúria dos pais e os repórteres correndo na aba de um lado para o outro no aeroporto.
Até que no meio de toda a agitação e desespero e desamparo - até a para a imprensa, acreditem, depois de tanto tempo de espera e os extraditados não chegavam... a situação se transformou num caos, ninguém mais sabia o que ia acontecer e para onde ir.
Até que chega uma notícia de que os jovens passaram por um interrogatório da PF ao aterrissar no Brasil, mas já estavam saindo no portão. Aí toca a correria para voltar ao local. E... o alívio para todos... eles haviam chegado.
Patrícia não quis se pronunciar. A imprensa inteira foi para cima de Pedro, que falou por quase meia hora.
Por isso digo que há jornalistas e jornalistas. No começo, todos são legais, cordiais, na hora do "pega pa capá" o pau come, é um empurra pra lá e puxa pra cá... cinegrafista tentando gravar imagem, rádio tentando pegar o depoimento. Uma loucura, um hospício. Sem contar a troca de elogios e a falta de cordialidade, ou melhor, de civilidade. Incrível.
O depoimento foi bom... pelo menos valeu a pena ter esperado tanto tempo. Saí 22h, suada com as pernas bambas, braços tremendo de segurar o gravador a uma distância não muito confortável e esboçando um rascunho de matéria.
Coitado, o motorista me esperou horas a fio, me levou para casa, e me levou para a rodoviária. Santo Suzarte (seu nome). Passei em casa num piscar de olhos. Arranjei forças para escrever a matéria para o rádio. O tempo corria contra. Gostaria de ter me aprofundado em algumas questões, mas infelizmente não deu. Fiz o que as minhas forças e energias deixaram. Gravei por telefone, separei sonoras, transcrevia.... UFF! Que dia!
Eram quase meia-noite. Lembrei que Suzarte estava me esperando, que eu não tinha comido nem bebdio (nem almoço ou jantar), e que ainda tinha que viajar.
Tomei uma chuveirada, arrumei as tralhas, fiz um sanduíche capenga e me mandei.
Sinto a necessidade de escrever e contar o que vi. Isso, na verdade, renderia várias matérias sobre o assunto. Mas a falta de tempo, o cansaço, a cabeça, nada contribuiu. Tentei reunir o máximo de informações possível, mas sei que faltou muita coisa. Mas fiz o que pude.
Já estou no ônibus a caminho de São Paulo para fazer um curso nesse fim de semana de uma revista. Vai dar tudo certo.
... realmente não sei por que escolhi ser jornalista, eu apenas sou. Mas sei também que a minha ânsia o meu namoro, pois a minha vida pessoal se mistura com a profissional. Quantas vezes o meu relacionamento não foi barrado e adiado por uma matéria ou cobertura ou curso que eu tinha que fazer. Pois é, tenho que consciência de tudo isso, mas não posso evitar. É o que sou."
Sábado, 8 de março, 0h25.
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