quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A pauta do dia: aquecimento/esquecimento global e degradação ambiental

E com vocês... mais um pouco de meio ambiente: A sustentabilidade no jornalismo


Essa semana na disciplina de Jornalismo de Políticas Públicas na Escola de Comunicação da UFRJ que é realizado em parceria com a ANDI (Agência de Notícias dos Direitos da Infância), o convidado para falar foi o jornalista André Trigueiro para tratar sobre a temática do jornalismo ambiental e a sustentabilidade.

Atualmente André Trigueiro apresenta o Jornal das 10 na Globonews, criou o programa semanal "Cidades e Soluções", e aos sábados apresenta o programa na rádio CBN "Mundo Sustentável" - também título de seu livro lançado em 2005.

A primeira crítica que Trigueiro fez foi em relação a criação de uma editoria especial para Jornalismo Ambiental. Nesse sentido, Trigueiro é incisivo: seria muito pobre fazer uma segmentação da realidade.

Para ele, todas as editorias deveriam conter a sustentabildade como tema que perpassa as pautas e os assuntos abordados. Desde os impactos econômicos sobre o desenvolvimentos, ou a questão política do Protocolo de Kyoto que prevê a redução de emissões de CO2 em 5,2%, em relação aos níveis de 1990 para o período que vai 2008 a 2012. Até o momento, 23 países, incluindo Bolívia, Equador, El Salvador e Nicarágua, já ratificaram o protocolo, e outros 84 países, entre eles os Estados Unidos, somente o assinaram.

Os assuntos ambientais estão presentes em todas as editorias. Trigueiro estabelece que em vez de jornalistas ambientais , é mais interessante e imprescindível formar jornalistas que tenham uma visão mais sistêmica sobre omundo.

Ele não descarta o lead como uma ferramenta necessária para promover a tão buscada objetividade no jornalismo. Mas para o jornalista, não se pode perder a perspectiva de enxergar outros aspectos também relevantes de uma pauta. Em parte, até concordo com ele. O "lide" não precisa ser encarado para limitar, restringir e enquadrar a matéria. Muita coisa diferente pode ser feita, e o lide pode até contribuir na estruturação da matéria.

O jornalismo é imediatista, está sempre atrelado à velocidade e ao tempo. Trigueiro reconhece que pela questão da rapidez de dar a notícia, "às vezes a gente não tem tempo de enxergar sistemicamente".

Algo interessante em sua fala, foi que ser jornalista no Brasil é completamente diferente do que ser em qualquer outro lugar do mundo. O Brasil é o país com a maior reserva de água doce do mundo, tem a maior floresta tropical no planeta, preserva o maior patrimônio de biodiversidade, além de ter a maior quantidade de solo fértil do mundo (sem nem levar em conta as áreas protegidas).

Para ele, ser jornalista interessado no meio ambiente no Brasil significa saber resgatar o valor desse tesouro de forma sustentável. Não só isso, entre outras críticas está a carência de discussão na mídia entre os conceitos de crescimento e desenvolvimento, que muitas vezes são empregados na imprensa sem critério e distinção. A sustentabilidade deve ser uma discussão que permeia o debate do desenvolvimento e crescimento do país.

Trigueiro faz uma rápida distinção: o crescimento engloba números, dados, estatísticas (por exemplo, o PIB de um país que não necessariamente expresa de forma qualitativa a situação). Já o desenvolvimento é a qulaidade do número, a compreensão nos seus mais variados aspectos e não apenas econômico.

Vale aqui caracterizar a forma não sustentável de se utilizar dos recursos mundiais do planeta Terra: retirar algo que não seja reposto a tempo. A forma nao sustentável de exploração dos recursos naturais se dá quando ela é superior à capacidade de recomposição, isto é, a capacidade de suporte e de resiliência (recuperação).

Trigueiro apresenta alguns dados do Banco Mundial em que as 25 cidades mais poluídas do mundo, mais de 10 delas são chinesas, entre elas uma é Pequim - a mesma cidade que vai sediar as Olimpíadas de 2008. No caso da China, a cada 2 dias acontece um desastre ambiental - entre chuvas ácidas e a redução do nível do lençol freático que já diminuiu cerca de 60 metros.

No auge de sua discussão, Trigueiro solta uma pérola: "o jornalismo ambiental é subversivo e incomoda os interesses econômicos de muita gente". É verdade.

Aproximando à realidade brasileira: a recente descoberta monumental de reserva de petróleo. Em tempos de aquecimento global, a queima de combustível fóssil vai na contramão de um esforço global na diminuição dos índices de emissão de CO2. O custo ambiental do petróleo é muito grande.

O jornalista apresenta uma tendência futura (mas bem próxima) de tipificar o preço do petróleo de acordo com o custo ambiental. Isto é, os preços de cada produto ou serviço vão variar de acordo com o desgaste ambiental. O consumidor vai passar a ter a necessidade de ser informado quais produtos gastam mais CO2 para que o próprio consumidor/cidadão possa fazer a sua escolha. Ou seja, o preço vai internalizar o custo que o Estado e a sociedade vão ter para produzir certos produtos.

"O que será o mundo daqui a 8 anos?" - se pergunta Trigueiro.

Atualmente, a Petrobrás investe cerca de 1,5% em energia renováveis como - solar, eólica, biomassa, biodiesel, álcool - o que ele considera muito pouco. A empresa deve ter um comprometimento em investir mais em fontes de energia renovável.

E quanto aos jornalistas, Trigueiro também não deixa passar: "somos analfabetos ambientais, ainda não estamos preparados para investigar aquilo que não está no realease". Para ele, é imprescindível questionar e duvidar, o que muitos jornalistas não fazem e aceitam o que está nas propostas de pauta de assessorias de imprensa. É preciso estrapolar o limite da pauta oferecido pelo editor.

Não basta só informar: é preciso que a informação remeta a uma nova atitude. Não vale apenas compartilhar informação, tem que transformar. Trigueiro destaca a urgência de transformação: "e não basta mudar, tem que mudar logo".

É uma questão de consciência: não pela disponibilidade de recursos e sim quanto à gestão desses recursos. Esse é um momento único na humanidade. O jornalista alerta para a emergência da crise ambiental sem precedência. Segundo dados da WWF ( World Wildlife Fund/Fundo Mundial para a Natureza), 20% da humanidade utiliza 80% dos recursos. O planeta Terra está operando em um déficit de 25% de sua capacidade de suporte.

"Nós não somos sustentáveis, o tempo urge, nós precisamos nos reeducar", afirma Trigueiro. Os ecossitemas naturais do planeta não são inesgotáveis, e uma vez atingido, afetado, ele não consegue se restabelecer e voltar ao normal.

"O aquecimento global é um tema complicado de tratar na imprensa. Não importa o que fazemos hoje só vai se percebido em não menos de 100 anos, o resultado será visto por outras pessoas", diz.

Para tratar o tema na imprensa, Trigueiro dá a dica: é preciso utilizar o bom senso e não ser alarmista e indicar possibilidades, formas de reverter o processo, e a mudança deve ser feita já.

"É preciso ter calibragem na hora de tratar o assunto, isso não é pessimismo, é realismo. Vivemos numa cidade ignorando o impacto causado pleo nosso estilo de vida", ele defende um exercício e uma reeducação para a responsabilidade cidadã, principalmente no que se refere ao consumismo - ostentar onde há escassez, a maioria das pessoas não têm nem o básico para sobrevier. Trigueiro é crítico feroz e contrário ao consumismo compulsivo.

Fabíola Ortiz


Veja mais alguns sites:

http://www.wwf.org.br/index.cfm

http://www.mundosustentavel.com.br/

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