quinta-feira, 31 de julho de 2008

FNDC

Associações do país e do mundo reagem a ameaças a jornalistas
29/07/2008
Redação
O Globo

Um crime contra a cidadania e um atentado à liberdade de imprensa'


BRASÍLIA E RIO. Associações de defesa da liberdade de imprensa no Brasil e no mundo defenderam ontem a identificação e a punição dos criminosos que, no sábado passado, ameaçaram jornalistas do GLOBO, de “O Dia” e do “Jornal do Brasil” na Vila Cruzeiro. Os repórteres acompanhavam o candidato a prefeito pelo PRB, Marcelo Crivella, quando foram abordados por um traficante com fuzil, que os obrigou a apagar fotos que mostravam o senador cumprimentando um grupo de bandidos que estava numa praça.

Em nota, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) afirma que o que aconteceu na Vila Cruzeiro é, além de crime contra os direitos humanos, um atentado à liberdade de imprensa. E ressalta que a impunidade evidencia a ausência do Estado na cidade do Rio. “É obrigação das autoridades identificar os autores dessa violência e encaminhá-los à Justiça, para que sejam punidos nos termos da lei”, afirma a nota da ANJ, assinada por Júlio César Mesquita, vice-presidente da entidade. “A impunidade que gozam criminosos no Rio, nessas ações contra jornalistas e cidadãos, é uma lamentável evidência da ausência do poder do Estado em tantas áreas da cidade”.


Sindicato no Rio cobra ações do governo Cabral

Também em nota, o Sindicato dos Jornalistas do Rio condenou a política de segurança do governo do estado, lembrando que, seis anos após a morte do jornalista Tim Lopes no mesmo local, nada mudou. “A ação do tráfico, seis anos depois, revela a falência de uma política de segurança que faz discursos, dá muitos tiros, mas continua longe de cumprir sua obrigação básica. A Vila Cruzeiro continua como antes, assim como todas as comunidades seqüestradas pelo crime, que vivem à espera de uma ação de resgate pelo Estado, inteligente e eficaz”, diz a nota do sindicato.

O sindicato cobra do governador Sérgio Cabral ações enérgicas contra o crime organizado no Rio: “O governo do estado, mais que se indignar, precisa reestruturar suas ações contra milícias, traficantes e policiais corruptos. Sem isso, o processo eleitoral no Rio de Janeiro será o reflexo de uma democracia pela metade, com zonas de exclusão. Liberdade exige governo e Justiça atuantes no cumprimento da lei.” A nota da ANJ também lembra que os jornalistas foram ameaçados no mesmo local onde Tim Lopes foi executado. “O que aconteceu na Vila Cruzeiro, o mesmo local onde há seis anos foi executado Tim Lopes, é, antes de tudo, um crime contra os direitos da cidadania, em que pessoas são impedidas de circular livremente, submetidas a violência e impedidas de exercer sua profissão. É também um atentado à liberdade de imprensa, com a intenção de intimidar os jornalistas e impedir a divulgação de informações para os leitores dos jornais”.

A Associação de Correspondentes da Imprensa Estrangeira no Brasil (ACIE) divulgou nota manifestando solidariedade aos jornalistas: “Diante dos fatos de censura e violência, inaceitáveis e intoleráveis, a ACIE defende mais uma vez a liberdade de expressão e o direito de exercer a nossa profissão livremente para divulgar informações da realidade brasileira à sociedade local e internacional.”


Comitê internacional também pede providências

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) também pediu às autoridades brasileiras que garantam aos jornalistas que cobrem tráfico de drogas e crime organizado, condições para trabalharem livremente e sem medo de sofrer represálias. — Nós estamos horrorizados pelo recente ataque contra jornalistas que cobrem temas sensíveis, como crime organizado.Partes do Rio de Janeiro estão se tornando áreas onde repórteres não podem ir — disse Carlos Lauría, coordenador Sênior do Programa das Américas do CPJ: — As autoridades devem garantir a segurança de todos os jornalistas que cobrem questões que afetam a vida dos moradores do Rio. É inaceitável, em uma democracia como o Brasil, que homens armados possam evitar que fotógrafos cubram a campanha eleitoral de um candidato à prefeitura.

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