quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

Diversidades ainda não reconhecidas

Mario Osava

Campo Grande, 28/01/2008 (IPS) - Para muitos, o Fórum Social Mundial perdeu repercussão e eficácia, talvez por adiantar-se muito à opinião pública e a procedimentos políticos ainda dominantes, mas não à realidade deste tempo, que exige soluções complexas e urgentes.

Manter-se como um “espaço aberto” de debates e articulação para o fortalecimento da sociedade civil, de forma horizontal e sem adotar resoluções, rejeitando tentações de se converter em um movimento para influir diretamente no poder marca diferenças com a cultura política vigente e causa tensões internas no FSM. A organização em redes, não hierárquica, com o reconhecimento e o respeito à diversidade em todas as dimensões, são parte da democracia futura que teóricos do fórum pretendem construir a partir de seus próprios processos internos, e que é pouco compreendida pelo publico e mesmo por muitos participantes do próprio FSM.

A crise do clima revitaliza o lema do Fórum, “outro mundo é possível”, acentuando o “necessário” que lhe agregam muitos ativistas. O nível de conhecimento atual do fenômeno indica que a transformação será inevitável, com um sentido positivo se assim decidir a humanidade, ou catastrófico, se predominar a inércia. Isto abre melhores possibilidades de desnudar os valores e as estruturas que conduzem o mundo a um desastre e da necessidade de mudá-los, observou um dos fundadores do FSM, o brasileiro Francisco Whitaker, em recente artigo escrito em defesa de um fórum aberto, diante de propostas de convertê-lo em instrumento de ação.

A questão climática e ambiental estará no centro da conferência mundial que o FSM retomará em 2009, após substituí-la este ano por manifestações descentralizadas do Dia de Ação Global, que aconteceram no sábado. Não por casualidade a Amazônia foi eleita sede do próximo encontro, mais especificamente a cidade de Belém, no Pará. Mas as dificuldades do Fórum derivam, em última instância, da enormidade do desafio de articular e mobilizar a sociedade civil global por “outro mundo”, mais seguro e mais justo.

O planeta se tornou mais complexo com a diversidade de interesses e culturas que já não aceitam a submissão. Mulheres, negros, indígenas, “loucos”, gente com “deficiências”, jovens, homossexuais, todos reclamam protagonismo e inclusão. Para as populações aborígines, os Estados nacionais “não servem, porque seguem um modelo não-indígena, incapaz de entender a diversidade”, afirmou Lisio Lili, membro do povo terena e do Comitê Intertribal, acrescentando uma nova complicação, ainda pouco considerada, ao mundo que os ativistas do FSM querem transformar.

(IPS/Envolverde) (FIN/2008)

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