domingo, 9 de março de 2008

Exposição comemora bicentenário da chegada da família real no Rio de Janeiro

Objetos e documentos expostos no Museu Histórico Nacional revelam aspectos econômicos, políticos e culturais do período

O Museu Histórico Nacional inaugurou em 7 de março a exposição internacional "Um Novo Mundo, Um Novo Império: A Corte Portuguesa no Brasil”, como parte das comemorações dos 200 anos da chegada da família real portuguesa ao Brasil.

Na presença de autoridades do Brasil e de Portugal, foi lançada pelo Clube da Medalha/Casa da Moeda do Brasil a Medalha Comemorativa dos 200 anos da chegada de D. João ao Brasil. A exposição enfatiza os aspectos econômicos, políticos e culturais da vinda da família real portuguesa, apresentando o contexto histórico que cercou D. João VI, o primeiro monarca europeu a atravessar o oceano Atlântico e responsável pelo estabelecimento da sede do maior império das Américas. Através dos objetos, o público conhecerá desde a situação na Europa com as guerras napoleônicas, que motivaram a vinda da Corte para o Brasil, até os fatores que levaram o Imperador D. Pedro I a proclamar a Independência do país. Dividida em núcleos temáticos, a exposição conta com objetos e documentos de importantes instituições públicas e particulares brasileiras e portuguesas.

O núcleo inicial aborda as conquistas de Napoleão na Europa, em especial na Península Ibérica, seguidas de biografias dos personagens envolvidos no conflito – Napoleão, Carlos IV, D. Maria I e Jorge III. Através de acervo iconográfico cedido por instituições portuguesas, serão mostrados aspectos da cidade de Lisboa por ocasião do embarque, bem como retratos das infantas portuguesas que vieram para o Brasil. O núcleo seguinte aborda o embarque em Lisboa e as dificuldades enfrentadas ao longo de 54 dias de travessia do Atlântico.

A chegada à Bahia, em 22 de janeiro de 1808, está representada pela monumental tela de Candido Portinari, “Chegada de D. João VI a Salvador”, pela primeira vez apresentada no Rio de Janeiro. Um importante conjunto documental, que reúne documentos existentes no Arquivo Nacional e na Biblioteca Nacional, revela o processo da “Abertura dos Portos às Nações Amigas”, uma das primeiras providências tomadas por D. João ao chegar à Bahia, marco inicial do desenvolvimento do comércio.

O Rio de Janeiro encontrado pela família real e as transformações ocorridas na cidade a partir da chegada da corte são abordados em outro núcleo. Instituições portuguesas, como o Arquivo Real, a Real Biblioteca e o Erário, foram recriadas no Brasil para permitir o funcionamento do Estado português em solo americano. O livre comércio, o estabelecimento de indústrias, a introdução de novos hábitos culturais e a criação de importantes instituições, tais como a Imprensa Régia, a Real Junta do Comércio e as Academias científicas, modificaram definitivamente o perfil colonial do país e introduzirem no cenário nacional novas forças sociais que produziram imagens simbólicas e definiram o poder monárquico no Novo Mundo.

E foi a cidade do Rio de Janeiro que mais rapidamente sentiu essas modificações, com a redefinição do panorama urbano, a introdução de novos estilos arquitetônicos – sobretudo a partir da vinda da missão artística francesa de 1816 – e a mudança do comportamento da sociedade, que passa a viver de maneira cosmopolita: entre saraus, festas e apresentações teatrais, efervescia a vida política, social e cultural. Integram esse núcleo instrumentos científicos contemporâneos a D. João VI; o trono acústico criado na Inglaterra especialmente para o monarca; pintura a óleo contemporânea que reproduz com fidelidade a cena da chegada da frota real à baía da Guanabara e objetos de época – mobiliário, porcelanas, condecorações, etc – além de extensa iconografia do período.

O penúltimo núcleo aborda os conflitos que se instalaram no Brasil e em Portugal a partir de 1817, até a decisão das Cortes portuguesas de exigirem o retorno de D. João VI em 1820, o que efetivamente ocorreu em 1821, após treze anos em terras brasileiras. Se, ao chegar ao Rio de Janeiro em 1808, D. João VI desembarcou numa provinciana cidade colonial, ao partir em 1821 deixou um Brasil bem diferente daquele encontrado, que se transformaria na sede do maior Império das Américas.

Como conseqüência natural da vinda da corte portuguesa para sua colônia nos trópicos, a alusão à Proclamação da Independência do Brasil pelo Imperador D. Pedro I encerra exposição, que fica no MNH até 8 de junho de 2008 e é patrocinada pela Fundação Calouste Gulbenkian e com o apoio da TAP. Conjunto arquitetônico do MHN é anterior a D. João VI O conjunto arquitetônico no qual está abrigado o Museu Histórico Nacional já existia quando a Corte se estabeleceu na cidade do Rio de Janeiro e fez parte dos acontecimentos de então. Composto de três edificações - a Fortaleza de Santiago (1602), a Casa do Trem (1762) e o Arsenal de Guerra (1764) – esse conjunto de origem militar tinha funções restritas no Brasil colônia, uma vez em que a fabricação de armas era proibida até 1808.

No Arsenal chegavam as partes dos equipamentos militares chamados de ¨os trens de artilharia¨. O termo acabou por denominar o arsenal de Casa do Trem, local onde os ¨trens¨ eram fundidos. Com a chegada de D. João ao Brasil, o Arsenal passou a ter uma organização semelhante ao de Lisboa, sendo então denominado de Arsenal Real do Exército. Transformado em local de produção de equipamento, passou a atender às necessidades do Reino, ou seja, produzir munições, uma vez que a Metrópole estava sem condições de suprir as tropas, em decorrência da guerra Napoleônica. Ainda na “Casa do Trem” foi instalada em 1811 a Academia Militar, a primeira instituição brasileira de ensino superior, origem da primeira escola de engenharia do país.

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