sexta-feira, 7 de março de 2008

Comunidades do Rio recebem obras do PAC com apoio e apreensão


7 de Março de 2008 - 05h44 - Última modificação em 7 de Março de 2008 - 05h46
Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil


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Rio de Janeiro - As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que começam hoje (7) em três conjuntos de favelas do Rio representam um investimento de R$ 1,14 bilhão, vão gerar 4.600 empregos diretos e prometem ser um divisor de águas na relação que essas comunidades têm com o resto da cidade.

O início dos trabalhos contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro das Cidades, Márcio Fortes, que participarão de solenidades no Complexo do Alemão, em Manguinhos e na Rocinha. Os projetos incluem abertura e alargamento de ruas, instalação de redes de água e esgoto, construção de postos de saúde, escolas, creches e praças. Até um teleférico vai ser construído para ligar os moradores do Alemão a outros meios de transporte.

Mas apesar das melhorias, os moradores aguardam as obras com sentimentos antagônicos de euforia e medo. Ao redor do Complexo do Alemão, faixas com a frase “PAC sim, violência não” mostram o que a comunidade pensa sobre o assunto.

Considerada uma das áreas mais violentas da cidade, o Alemão – um conjunto de 13 favelas, com 95 mil pessoas – tem sido palco freqüente de tiroteios, mortes e casos de balas perdidas. O temor dos moradores é de que haja uma invasão maciça de policiais para dar garantia às obras, o que poderia gerar novos conflitos, como ocorreu em junho do ano passado, quando 19 suspeitos de ligação com o tráfico foram mortos pela polícia.

A favela Nova Brasília é um retrato desta situação de contrastes. Cercada há meses pela Força Nacional de Segurança, que fica na entrada da comunidade, seus moradores demonstram apoio às obras, mas convivem diariamente com o tráfico de drogas, que impõe regras e limites. A 50 metros dos soldados da Força Nacional, trilhos de aço bloqueiam a rua Nova Brasília, principal via de acesso, como forma de dificultar ataques de facções rivais e da polícia.

As kombis que levam os moradores têm que parar, um ajudante retira os trilhos e torna a colocá-los depois que o veículo passa. Pouco além, é possível ver traficantes armados, todos jovens, controlando de longe o movimento e protegendo as bocas de fumo.

Tudo isso deixa apreensivo o presidente da Associação de Moradores de Nova Brasília, Edmar Lopes, que teme um “banho de sangue” se houver um confronto generalizado. “Aqui a gente precisa muito de PAC. Mas se é para vir com um rio de sangue, destruindo os moradores com guerra, eu acho que não vai resolver nada.”

Lopes diz que o maior desafio do PAC será dar oportunidades de inclusão e lazer para os jovens, como alternativa ao tráfico de drogas. “Adolescente é o que mais tem na nossa comunidade. Mas onde eles vivem não tem nenhum local para jogarem futebol ou vôlei. E ainda por cima, sofrem com o preconceito por serem daqui. A sociedade vê o Alemão como uma fábrica de bandidos e na verdade não é isso.”

A possibilidade de tiroteios também assusta a comerciante Mariana Vieira Ribeiro, que tem uma banca de revistas na Nova Brasília. “Os moradores estão muito preocupados, porque ninguém chegou para conversar, explicar como vai ser. Só ficam dizendo que vão botar não sei quantos mil policiais”, diz Mariana, que considera a implantação de redes de água, esgoto e energia elétrica as obras mais importantes.

“A comunidade vive sem água, esgoto e luz. Agora, teleférico não vai resolver nada para o morador. O que pode resolver é botar mais condução”, afirma ela, criticando o projeto de um teleférico ligando a parte alta do Alemão à estação ferroviária de Bonsucesso, em um trajeto de cerca de 20 minutos, baseado em um projeto existente na cidade de Medellin, na Colômbia.

Outro comerciante da Nova Brasília, Elmar Carneiro Nascimento, que tem uma banca com artigos eletrônicos e pequenas utilidades, demonstra ceticismo em relação às obras do PAC. “Eu estou vendo muito barulho e quero ver se isso se realiza. Porque já ouvi muita promessa aqui neste bairro, que merecia ter uma coisa de fato e até hoje só teve coisa de efeito. Só palavras.”

Perguntado se temia reação dos traficantes às obras, Nascimento evita falar abertamente sobre o assunto: “A gente continua trabalhando, porque a vida não pode parar. Espero que a coisa aconteça normalmente, sem nada de impacto que prejudique a comunidade. Que o governo traga coisas boas e não coisas que machuquem os moradores”.

Para a professora Edvania Menezes Nascimento, que dá aulas no Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) da comunidade, as obras do PAC deverão melhorar a qualidade do ensino que hoje é oferecido aos estudantes. “Essa obra vai ser boa em relação à educação. A construção de escolas, criação de áreas de lazer e abertura de cursos profissionalizantes vão direcionar o jovem para outros setores.”

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