sexta-feira, 7 de março de 2008

Moradores de favelas que não receberam obras do PAC se dizem discriminados

7 de Março de 2008 - 06h01 - Última modificação em 7 de Março de 2008 - 06h01

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil


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Rio de Janeiro - A separação entre o Complexo do Alemão e o Complexo da Penha é feita por apenas uma rua. Os conjuntos de favelas na zona norte do Rio reúnem 23 comunidades e mais de 200 mil habitantes. Mas apesar da proximidade, só um dos lados receberá obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Enquanto o Alemão ganhará novas ruas, escolas, biblioteca, creche, posto policial e até um teleférico, no valor de R$ 601 milhões, as dez favelas da Penha não foram contempladas com verbas do PAC, o que acaba deixando os moradores revoltados.

“Da nossa parte, a gente só ganha mesmo é bala. É a única coisa que nós temos aqui do outro lado. É só caveirão subindo e dando tiro”, protesta Maria do Socorro Lima dos Santos, moradora da favela da Merindiba, comunidade localizada junto a um ponto turístico do Rio, a Igreja da Penha, A comunidade também convive com os conflitos entre o tráfico e a polícia.

Maria do Socorro destaca as melhorias que ela também quer para o local onde mora: “Escola, uma boa creche, um parque descente para os nossos filhos brincarem. Do lado de lá vai ter, e nós ficamos sem nada”.

O líder comunitário Jorge Ribeiro faz coro e protesta pela falta de atenção. “A gente lamenta esse fato, de uns com muito e outros com nada. Mais uma vez, o povo aqui do complexo ficou decepcionado. A comunidade está completamente abandonada pelo poder público”.

Entre os motivos que irritam Ribeiro, está o teleférico que será construído no Alemão. Ele diz que o dinheiro poderia ser investido nas favelas da Penha. “Isso é uma fantasia. Nós temos que ver a realidade, tem muitas vielas aqui, valas negras e casas infestadas de mosquito da dengue. A gente lamenta".

Para o presidente da Associação dos Moradores da Merindiba, Luís Cláudio dos Santos, a não-realização das obras e as constantes ações da polícia acabaram causando revolta nos moradores.

“A população está com medo. A obra não vai chegar, isso nós já temos certeza. Agora, a gente só não tem certeza se a guerra vai partir para o lado de cá. A comunidade começou a se sentir insegura, o que fez com que essas barricadas ficassem todas no meio da rua”, desabafa ele, em referência aos montes de entulho que bloqueiam as ruas de acesso, tornando difícil a passagem de veículos.

As barricadas são uma forma de proteção dos traficantes que dominam o local contra facções rivais e as operações da polícia. Na parte interna da Merindiba, a vigilância é feita por traficantes, a maioria jovens com pouco mais de 18 anos, que ficam armados em torno das bocas de fumo ou circulam em motos, armados de fuzis.

Segundo a secretária nacional de Habitação, Inês Magalhães, do Ministério das Cidades, os critérios de seleção das comunidades que receberiam as obras do PAC foram decididos em conjunto com as prefeituras e os governos estaduais, levando em conta os indicadores sociais mais desfavoráveis.

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