quinta-feira, 27 de março de 2008

Pesquisas do ISP terão foco nas instituições policiais

ENTREVISTA/Ten. Cel. Mario Sergio Brito Duarte

A troca, em fevereiro, de uma antropóloga por um policial militar de perfil operacional no comando do Instituto de Segurança Pública, o órgão de pesquisas da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, deixou apreensiva a comunidade acadêmica. A preocupação se agravou pelo atraso da divulgação dos dados criminais e da sua precariedade nos últimos meses.

Em carta aberta ao governador Sérgio Cabral e ao secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, pesquisadores da área de segurança pública do Rio de Janeiro expuseram sua preocupação com a continuidade dos projetos e a manutenção e o aperfeiçoamento da coleta e divulgação sistemática dos dados criminais. Na carta, eles pediram para serem convidados para uma reunião com a nova direção do Instituto de Segurança Pública. Foram atendidos.

Em 6 de março, dez pesquisadores encontraram-se com o secretário Beltrame e o atual diretor do ISP, tenente coronel Mario Sergio de Brito Duarte, e obtiveram deles respostas positivas: o compromisso de publicação mensal dos dados; a garantia de finalização dos projetos iniciados e o acesso aos microdados a partir de demandas específicas de projetos. Os gestores também se mostraram simpáticos à idéia de criação de um conselho para fazer a ponte entre a direção do ISP e a comunidade acadêmica.

Segundo o tenente coronel Robson Rodrigues da Silva, vice-presidente do ISP, o Instituto vai priorizar três temas – homicídios, roubo de veículos e crimes de rua, que são roubo a transeuntes, roubo a coletivo e roubo de celular. E os pesquisadores já podem enviar suas propostas de projetos. “Os que melhor se enquadrarem nas nossas prioridades serão mais rapidamente aproveitados, o que não exclui os outros, que apoiaremos dentro das nossas possibilidades”, contou.

No dia 19, o ISP convocou a imprensa para divulgar o balanço da criminalidade em 2007 em relação a 2006. Na ocasião, Beltrame defendeu o financiamento de pesquisas através de convênios com órgãos de fomento, como a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), e com instituições de pesquisa, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que está desenhando um projeto de modernização dos batalhões do Rio.

Na terceira entrevista da série "O que eles pensam", o Comunidade Segura ouviu o novo diretor-presidente, tenente coronel Mario Sergio de Brito Duarte. Profissional da área operacional, Mario Sergio já comandou o Batalhão de Operações Especiais (Bope), o Batalhão da Maré, a Academia de Polícia e estava na Superintendência de Planejamento Operacional quando foi chamado para dirigir o Instituto.

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Como profissional da área operacional, como foi o seu início à frente do ISP?

Ten. Cel. Mario Sergio: Houve uma certa especulação até antes mesmo da minha de eu assumir o cargo de diretor presidente do ISP no sentido de que traríamos problemas não só para o campo de pesquisa mas como para a divulgação dos nossos números. Falou-se até em alguma maquiagem e sonegação de informações. Esta reunião que estamos fazendo é um exemplo claro do contrário, de que estamos querendo dar celeridade e transparência na exibição.

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Como será a política de pesquisa do ISP?

Ten. Cel. Mario Sergio: É claro que vamos dar continuidade às pesquisas. O que acontece é que queremos ter um espectro maior no campo das pesquisas. O ISP abriu excelentes janelas com o apoio das ciências sociais, mas queremos abrir também para outras ciências, que acreditamos que poderão trazer considerações importantes para a segurança pública como a epidemiologia, o serviço social, a geografia, com a cartografia, profissionais do direito, da administração. Queremos abrir novas janelas, mantendo aquelas que foram abertas, ampliar o campo de pesquisa e não reduzir.

Quais serão as prioridades na área de pesquisa?

Ten. Cel. Robson: A Coordenadoria de Pesquisas e Produtos vai priorizar três temas – homicídios, roubo de veículos e crimes de rua, que são roubo a transeuntes, roubo a coletivo e roubo de celular. Criamos carteiras em que analistas investigarão em maior profundidade esse tipo de delito, para verificar padrões e modos operandi. O ISP vai funcionar como suporte para as polícias operarem, com as pesquisas focadas nesses crimes.

Como ficam os projetos que já estavam iniciados?

Ten. Cel. Mario Sergio: Não existe nenhuma hipótese dessas pesquisas serem prejudicadas. Nosso objetivo é abrir o leque de considerações. Não vamos deixar de ter o olhar nas ciências sociais, nem deixar de ter interfaces com pesquisadores dessas áreas. O ISP não vai limitar ninguém, não vamos criar segregações, sectarismos. Queremos ampliar, e não segregar. Temos um número bom de projetos realizados por diversas instituições de ensino e pesquisa do Rio que foram iniciados na gestão anterior e que serão concluídos. São projetos desenvolvidos por pesquisadores sérios, competentes. Não haverá interrupção.

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Quais os assuntos de maior interesse?

Ten. Cel. Mario Sergio: Temos as instituições policiais como foco. A partir daí vamos ver os assuntos que serão tratados. Alguns delitos causam um prejuízo muito grande a partir da difusão do medo, como roubo de veículos. Temos carteiras para trabalhos que visam identificar, mapear e geo-referenciar esses delitos para que as corporações policiais tenham maior facilidade para fazer prevenção e repressão. Vamos trabalhar a questão do roubo, que está crescendo, por conseqüência de um investimento maior no crime com um emprego de inteligência maior, que são os crimes de quadrilha. Nossa tese é de que com um direcionamento muito grande para desarticular as quadrilhas, os crimes acabam pulverizados e aumenta o número de delitos de rua.

Leia mais:
http://www.comunidadesegura.org/?q=pt/node/38660

Um comentário:

Pedro Roitman disse...

Fazia um tempo que não lia o seu blog..!

Interessante esta entrevista....