segunda-feira, 6 de julho de 2009

Brasil: Cultura criminal tornou-se parte da América Latina - norte-americano Jon Lee Anderson

Rio de Janeiro, Brasil, 04 Jul (Lusa) - A cultura criminal tornou-se parte do continente latino-americano disse hoje o jornalista norte-americano Jon Lee Anderson, presente na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), ao criticar a ausência de um Estado de direito na sociedade.

Considerado um dos mais importantes jornalistas de guerra, Jon Lee Anderson é colaborador da revista norte americana The New Yorker e dedicou grande parte de sua carreira à cobertura de conflitos na América Latina e no Médio Oriente tendo publicado vários livros de reportagem e a biografia de Che Guevara.

Na FLIP que decorre até dia 5, Lee Anderson afirmou que a criminalização da sociedade é uma característica na América Latina e disse ter se surpreendido ao voltar ao Brasil, pois a droga não era algo tão presente na vida social.

“A sociedade vive numa situação desconfortável em relação à droga. Fiquei chocado com essa proximidade quando voltei ao Rio de Janeiro e ao Brasil”, afirmou.

Na tentativa de compreender as realidades, a falta de um Estado de direito, segundo o jornalista norte-americano, gerou uma guerra, “isso é uma guerra civil”. Mas ponderou que nestes conflitos intitulados “guerra contra as drogas”, morre muita gente.

Ele compara ainda à Colômbia o momento actual que vive o Rio de Janeiro, onde muitas favelas e comunidades pobres são controladas por grupos paramilitares.

“As milícias que tomam as favelas são a versão local do que aconteceu na Colômbia. Os traficantes são muito parecidos com os guerrilheiros, eles são o mesmo reflexo, não há um Estado de direito ali”, analisa.

Além de visitar favelas cariocas, Jon Lee Anderson passou por áreas de guerrilhas e comparando com o que vê actualmente, “é algo chocante”.

“Os governos e a sociedade criam uma espécie de legitimidade. Tem uma população marginalizada, fora do sistema”.

Ele lembra que há cerca de 30 anos, um jovem e pobre na América Latina “desapontado com a sociedade” tinha uma grande probabilidade de entrar para uma guerrilha. “Agora isso mudou, houve uma revolta criminalizada. Eu nunca vi isso de modo tão óbvio. Os bandidos mais velhos dizem que hoje se tornaram meros bandidos criminais”, refere para quem a América Latina é ainda vista com idealismo.

“Mas depois desse derramamento de sangue, as gangues tomaram conta”, analisa ao criticar a política de muitos governos que “empregam diversos meios para vencer, como se fosse fácil fazer uma guerra limpa e respeitar os Direitos Humanos”.

Lee Anderson reflecte sobre uma cultura global das drogas que existe hoje no mundo e considera que não se sente pessimista quanto à situação do Brasil.

Já na Colômbia, “com uma revolta de mais de 60 anos não há mais saída”, comenta para quem “mais cedo ou mais tarde, vão ter que legalizar os narcóticos. Não há realmente uma guerra formal e deve ser tentado algo que ainda não foi, que é legalizar”.

Jon Lee Anderson um dos autores presentes na Flip que reúne outros escritores internacionais como Sophie Calle, Grégoire Bouillier, o historiador Simon Schama, os chineses, Xinran e Ma Jian, Richard Dawkins, o português António Lobo Antunes e o angolano Ondjaki.

(Lusa/Fim)

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